EDUCAÇÃO

Venda de chup-chup leva estudante de Direito de volta à faculdade no ES.

Ela trancou estudos após perder estágio e optou por vendas em semáforo.

Em 28/10/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A estudante de Direito Claudia Santos de Aquino, de 35 anos, que trancou a faculdade após perder estágio e optou por vender chup-chup em um semáforo de Jacaraípe, na Serra, vai voltar a estudar no Espírito Santo. Claudia ganhou uma bolsa de 50% na instituição onde estudava para concluir o curso.

Vestida com um biquíni, Cláudia conseguiu conquistar os clientes. A estudante contou que consegue faturar cerca de R$100 por dia com a venda dos produtos. Apesar de estar faturando com as vendas, Claudia ainda faz panfletagem, unhas, depilação e faxina para aumentar a renda.

Nova fase
Além da bolsa, Cláudia obteve o perdão dos juros de uma dívida na faculdade. “A conta estava em quase R$ 900, agora vou pagar só a metade. Eu fiquei super feliz com essa postura da faculdade, é muito gratificante ter o esforço reconhecido, um presente desse deixa qualquer um estimulado. Agora vou concluir o meu curso, eles me fizeram acreditar que sou capaz. Me falaram que iriam me dar a bolsa porque viram o meu esforço”, comemorou.

Para a estudante e vendedora, o segredo de tanto sucesso com as vendas de  chup-chup é ter comprometimento, respeitar o cliente, gostar do que faz.

“Sem comprometimento não adianta que nada acontece, além disso, temos que ver o trabalho como uma diversão”, disse Claudia.

O fato de voltar a estudar não será um empecilho para as vendas, ela garante que mesmo que consiga outro estágio vai continuar a vender chup-chup. “Mesmo que eu consiga outro estágio não vou parar, vou conseguir tempo para estagiar, vender chup-chup e estudar.

 

Claudia vende chup-chup em sinal para enfrentar a crise, no Espírito Santo (Foto: Fernando Madeira/ A Gazeta)
Claudia vende chup-chup em sinal para enfrentar a crise (Foto: Fernando Madeira/ A Gazeta)

 

Convites
E quem passa pela avenida Abdo Saad, em Jacaraípe, na Serrax, já deve ter notado que além de ser uma boa vendedora, Cláudia esbanja simpatia, beleza e é dona de um corpo sarado.

Isso rendeu a ela um convite para ser ring girl, no Rio de Janeiro, e para ser musa da escola de samba Barreiros no próximo carnaval capixaba.

“É muita responsabilidade ser musa de uma escola, ainda mais sendo a primeira vez, mas sou esforçada e vou tirar de letra”, disse.

Para manter a boa forma ela acorda todos os dias às 5h30 para se exercitar, aliado a isso se alimenta de forma saudável e bem equilibrada.

Sonho
A vendedora ambulante Cláudia Santos de Aquino disse que sempre sonhou em cursar Direito. “O meu irmão que sempre insistiu que eu levava jeito. Entrei no curso pois sonho ser delegada, para representar as mulheres e ter poder.

Quando cursava o sétimo período da faculdade, a universitária perdeu o estágio e também veio a crise. Sem uma renda fixa, Claudia precisou trancar a faculdade.

“Perdi o estágio e tive que escolher entre pagar a faculdade ou as prestações do apartamento. Optei por pagar as prestações, tranquei a faculdade e fui vender chup-chup para me sustentar. Consegui pagar aluguel, comida, água e luz, tudo com o dinheiro do chup-chup. E depois que comecei a ralar aqui no semáforo, muitas portas foram se abrindo. Hoje, faço recepção em feiras, eventos promocionais e não pretendo parar”, explicou.

Cláudia ainda é mãe de dois jovens, um de 18 e outro de 16 anos, que vivem com os avós. Ela também quer realizar o sonho de conhecer a Disney com os dois. “Deus abre portas para quem não cruza os braços”, afirmou.

Assédio e preconceito
Embora o negócio tenha dado certo, a universitária ainda enfrenta assédio e preconceito. “Já fui ofendida no sinal, infelizmente. Alguns homens já me fizeram propostas indecentes, outros me xingaram com nomes de baixo calão. Mas passo por cima de tudo isso porque sei onde vou chegar. Quando estiver na minha cadeira de delegada, vou rir disso tudo e agradecer as pessoas que me ajudaram”, disse confiante.

Claudia se refere ao sonho de ser delegada de polícia. Para quem já trabalhou como recepcionista, secretária, auxiliar administrativo e até técnica em Segurança do Trabalho, não dá para duvidar. “E para enfrentar toda essa maratona, faço exercícios na praia e tento manter uma alimentação saudável”, concluiu.

Claudia enfrenta preconceito e assédio ao vender chup-chup no Espírito Santo (Foto: Fernando Madeira/A Gazeta)
Claudia enfrenta preconceito e assédio ao vender chup-chup (Foto: Fernando Madeira/A Gazeta)