CIDADE

Visitantes reclamam da falta de segurança na Sé, em SP.

Tiroteio na sexta-feira deixou duas pessoas mortas em frente à Catedral.

Em 05/09/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Na manhã de sábado (5), um dia depois do tiroteio que deixou dois homens mortos em frente à Catedral da Sé, no um dos cartões-postais de São Paulo, visitantes comentavam sobre o caso e reclamavam da falta de segurança na praça onde fica o Marco Zero do capital.

Na tarde de sexta-feira, Luiz Antônio da Silva, de 49 anos, armado, fez a balconista Elenilza Mariana de Oliveira refém na saída da igreja. O morador de rua Francisco Erasmo Rodrigues de Lima tentou ajudá-la, atracou-se com o atirador possibilitando a fuga da refém, e foi morto pelo bandido. Em seguida, policiais atiraram e mataram Silva.

Apesar de já ter sido lavada, a escadaria da Praça da Sé ainda tem algumas marcas de sangue e é possível ver marcas de tiro na porta. Duas mulheres foram vistas rezando no local das mortes.

As paraenses Daniele Ferreira, Ivana Marques e Júlia Ferreira visitavam a Catedral pela primeira vez. Ivana, a única moradora de São Paulo, disse que não se sente segura. "Sempre fico apreensiva devido à grande quantidade de pedintes".

O ajudante geral Agostinho Sinésio Rosa freqüenta sempre a região e pela primeira vez trouxe a esposa, Maria Celestina, para conhecer a igreja. "Aqui quando eu venho tenho que olhar pros quatro cantos. Dentro da própria igreja tem marginais", afirma.

O autônomo Orlando de Souza também reclama e acredita que a falta de segurança inibe a visitação da igreja. "Tinha que intensificar mais a segurança aqui".

Ele era uma das pessoas que na manhã deste sábado (5) foram tirar fotos no local do tiroteio. "Quero tirar foto perto de onde morreu o bom, e não o mau", afirmou, antes de posar ao lado de uma das portas da igreja, onde caiu o morador de rua Francisco Erasmo Rodrigues de Lima, de 61 anos.

Segundo estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, a região da Sé registrou dez homicídios entre janeiro e julho deste ano. Segundo o superintendente geral da Associação Viva o Centro, Marco Antônio Ramos de Almeida, diz que a falta de segurança assusta as pessoas que visitam a Catedral da Sé. "A Praça da Sé, por exemplo, tinha tudo para ser o cartão-postal de São Paulo, com uma catedral incrível, mas ela transmite insegurança e isso a afasta das pessoas que buscam lazer", afirma Almeida.

Moradores de rua

Na praça em frente a igreja, o episódio da sexta era muito comentado por moradores de rua e da região que estavam aglomerados. Eles afirmam que tanto o atirador quanto o morador de rua eram figuras conhecidas na região. "Eu não tenho pena não, ele gostava de meter a chave de fenda nos outros", disse um morador sobre o homem que fez a mulher refém. Luiz Antonio da Silva comerciava bicicletas na região. "A mulher dele passou a mão em tudo agora, ele tinha mais de oito bicicletas", diz outro sobre o mesmo homem.

 

Já o morador de rua Adriano Góes da Silva, 36 anos, afirmou ao G1 que estava dentro da igreja e viu quando o homem abordou a refém. Segundo Góes, os dois se conheciam. "Ele tava muito nervoso. Entrou até lá no fundo da igreja, aí chamou a morena, começou a conversar com a moça morena. Aí do nada eles começaram a debater, saiu pra fora arrastando ela. Aí ele deu um cutucão nela com o canto do revólver", relatou. "Ele queria voltar com ela, estar com ela, e ela não tava querendo mais nada com ele. Ela tinha separado dele já, não queria mais nada com ele, e ele com ciúme querendo ficar com ela ainda tava brigando com ela".

Como foi o tiroteio
O caso aconteceu por volta das 14h10 nas escadarias da catedral, na Praça da Sé. Segundo a PM, o homem ameaçava a mulher com uma arma. Ela contou ao G1 que foi abordada dentro da igreja, enquanto rezava, e acredita que o homem fugia da polícia. Eles saíram juntos da catedral.

As imagens mostram o homem com a mulher no topo da escadaria. Em seguida, um morador de rua se aproximou por trás e avançou contra o criminoso, que abraçava a refém. Ele conseguiu empurrar o suspeito, que pega a arma e atira no morador de rua. Em seguida, é possível ouvir os disparos dos policiais e o criminoso cai morto.

A mulher mantida refém disse que ficou machucada no olho e na cabeça "por causa da pancada" - ela foi agredida pelo criminoso.

O major Emerson Massera, porta-voz da PM, diz que o criminoso era Luiz Antônio da Silva, de 49 anos, e já tinha cumprido pena de 22 anos. Ele tinha passagens na polícia por roubo, furto, dano, lesão corporal, tráfico e fuga da cadeia. O morador de rua era Francisco Erasmo Rodrigues de Lima, de 61 anos. O caso será registrado no 1º Distrito Policial, na Sé.

Segundo Massera, caberá à perícia dizer se o morador de rua foi atingido por disparos da Polícia Militar, mas ele considera essa hipótese remota. "A sensação que a gente tem vendo as imagens é que quem acerta o morador de rua é o bandido. O barulho dos disparos, inclusive, é diferente, de 38 e de ponto 40", disse.

Ele afirma que é possível ver que, após receber os disparos, o homem permanece em pé por certo tempo, outro sinal de que não recebeu tiros da polícia. "Se ele tomasse tiro de ponto 40 [armamento usado pela PM], cairia na hora."

Massera disse que, diante do risco de morte de outras pessoas, mais de dois policiais atiraram contra o homem que mantinha a mulher refém. Ele afirmou ter sido possível ouvir pelo menos 13 disparos, mas não descarta a possibilidade de terem sido mais. "Os policiais atiraram simultaneamente por haver risco de morte", afirmou.

Segundo Massera, a polícia já havia cercado o local e estava negociando com o homem a libertação da refém, mas o morador de rua conseguiu furar o cerco. "Tinha todo um aparato no local, que estava isolado", afirmou.

Testemunha
O supervisor de vendas Ricardo Ferreira Silva estava no horário de almoço e presenciou o crime. Ele contou que a mulher conseguiu sair correndo quando o morador de rua se jogou contra o suspeito. Ela se abrigou atrás de uma pilastra da catedral. A mulher teve ferimentos na cabeça porque, de acordo com a testemunha, levou coronhadas. “Parecia cena de filme”, afirmou Silva.

Duas armas estavam na escadaria, ao lado dos corpos, por volta das 16h10. Os peritos concluíram os trabalhos e os corpos foram retirados às 17h30. Tanto o criminoso quanto o morador de rua eram conhecidos na região da Sé, segundo testemunhas ouvidas pelo G1. De acordo com os relatos, Francisco Lima pedia dinheiro no entorno da praça e dormia em um abrigo.

Em nota, o padre Luiz Eduardo Baronto, da Cúria da Catedral da Sé, lamenta as mortes e diz que “o triste acontecimento nos fala de modo trágico de como a violência não é solução para resolver situações de conflito, quaisquer que elas sejam”. Ele afirma que “na catedral, rezamos em sufrágio dos que perdem a vida nas tragédias e violências de todos os dias” e que convida a todos para “suplicar a Deus para que a paz se restabeleça em nossa cidade e cenas com essa não venham se repetir”.

Fonte: G1-SP