SAÚDE

Disfunção cognitiva é indício importante na esclerose múltipla

Sintomas relacionados à cognição podem aparecer desde o início da doença.

Em 08/08/2019 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: Folha Vitória - Reprodução

Segundo dados da National Multiple Sclerosis Society – entidade americana dedicada a estudar e difundir pesquisas sobre a esclerose múltipla - mais da metade de todas as pessoas com a doença poderão desenvolver problemas com a cognição. Aliás, esse pode ter sido, inclusive, o primeiro sintoma de esclerose nos pacientes. Apesar de não ter cura, o diagnóstico precoce é o maior aliado do paciente, já que com o tratamento, a evolução da doença pode ser controlada, garantindo uma vida social mais ativa.

Cognição refere-se a uma gama de funções cerebrais de alto nível, incluindo, mas não limitado a capacidade de aprender e lembrar informações, organizar, planejar e resolver problemas, concentrar, manter e desviar a atenção, entender e usar a linguagem, perceber com precisão o ambiente e realizar cálculos.

A neurocientista e neuropsicóloga Carina Spedo trabalha justamente na identificação precoce da disfunção cognitiva e neuropsiquiátrica dos pacientes e no diagnóstico precoce/progressão da esclerose múltipla, bem como dos aspectos relacionados a empregabilidade e reabilitação neuropsicológica da doença. "Combinando a clínica, exames de imagem tradicionais e exames neuropsicológicos, é possível avançarmos no diagnóstico precoce, garantindo melhor qualidade de vida para os pacientes – dado que hoje temos à disposição tratamentos transformadores do curso natural da doença", afirma a Dra. Carina.

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Nas doenças desmielinizantes, como é o caso da esclerose múltipla, as lesões cerebrais características podem ser sutis no primeiro momento, e o paciente pode não apresentar qualquer comprometimento físico e motor, porém, é possível que já haja algum prejuízo cognitivo. Alguns sinais podem ser alterações de humor, diminuição da velocidade de processamento de informações, falta de atenção/memória, e habilidade reduzida de recordar sequências numéricas e organizar materiais. Esses sinais são geralmente imperceptíveis por grande parte dos pacientes e familiares, principalmente no início da doença.

Como exemplo, a neuropsicóloga citou um estudo brasileiro, em que numa amostra de 35 pacientes com menos de três anos de doença e quase sem incapacidade, foi o teste cognitivo que mostrou ser uma característica mais significativa da presença de esclerose múltipla. Os problemas cognitivos não são diretamente relacionados a outras características da doença – o que significa que alguns indivíduos podem apresentar limitações físicas/ motoras, mas sem qualquer comprometimento cognitivo, e vice e versa.

De acordo com a Dra. Carina, apesar do comprometimento cognitivo na esclerose múltipla possuir taxas de prevalência de 43% a 70% e ser importante aliado no diagnóstico precoce e qualidade de vida para o paciente, mais estudos se fazem necessários. "Avançamos a um ponto em que não precisamos de uma bateria extensa de exames neuropsicológicos. Protocolos de triagem enxutos, simples e direcionados colaboram atualmente para o auxílio diagnóstico da esclerose múltipla. Devemos avançar com essa abordagem, pois quem ganha é sempre o paciente", conclui a neuropsicóloga.

O reconhecimento, a avaliação e o tratamento precoces são importantes porque as alterações cognitivas – juntamente com a fadiga – podem afetar significativamente a qualidade de vida, os relacionamentos, as atividades e o emprego de uma pessoa. Os primeiros sinais de disfunção cognitiva podem ser sutis – quando notados, primeiro pode ser pela pessoa com esclerose múltipla ou por um membro da família ou colega. Geralmente, a fadiga, as dificuldades cognitivas e emocionais podem acometer o emprego, o desempenho de certas atividades sociais e diárias. Esses podem ser os primeiros indícios de que é necessário buscar também por tratamento não medicamentoso e conversar com o empregador sobre a possibilidade de obter ajustes no emprego.

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