SAÚDE

Entidade faz levantamento de ex-hansenianos que viveram isolados.

Em Cruzeiro do Sul, cerca de 200 hansenianos foram separados da família.

Em 11/07/2015 Referência JCC

A coordenação do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) no Acre iniciou, nesta semana, um levantamento que vai catalogar ex-hansenianos que foram separados de suas famílias entre as décadas de 1930 a 1980 no estado. A intenção da entidade é que as pessoas que foram obrigadas a viver em isolamento em comunidades rurais e seringais sejam indenizadas.

Em Cruzeiro do Sul, município que fica a 648 km da capital Rio Branco, pelo menos 200 pessoas já foram identificadas.

"Estima-se que no Acre ao menos 500 pessoas tenham vivido nessa situação. Essas pessoas que ficaram isoladas nos seringais ficavam sem nenhum contato com os familiares. Temos várias histórias de sofrimento que precisam ser recompensadas”, explica o coordenador do Morhan no Acre, Elson Dias.

A deputada Maria Antônia (PROS-AC) apresentou, na sessão da Assembleia Legislativa do Estado do Acre (Aleac), no início do mês, um ofício pedindo apoio dos deputados federais para que seja feita a revisão da Lei 11.520, de 18 de setembro de 2007, que assegurou pensão às pessoas atingidas pela hanseníase e que foram submetidas a isolamento e internação compulsórios em hospitais-colônia.

Dias ressalta que mais de 700 pessoas, que passaram por esse tipo de internação no Acre, puderam ser indenizadas por causa da atual legislação. Porém, ele ressalta que não é justo que pessoas que ficaram sozinhas em casas de campo e seringais não tenham direito ao mesmo benefício.

“São pessoas que não tiveram oportunidade de estudar e essa indenização é um reconhecimento do erro cometido. Caso a proposta seja aprovada, cada uma das pessoas que estão sendo cadastradas deve recbeber uma indenização de cerca de R$ 110 mil”, afirma.

Fichado como 'leproso'
Nascido e criado em Tarauacá, a 400 quilômetros de Rio Branco, Manoel da Silva, de 57 anos, foi acometido pela hanseníase em 1960. Ele conta que para que o patrão não soubesse de sua doença, os pais o escondiam dentro de casa. Devido à hanseníase, ele teve a perna direita amputada e atualmente usa uma prótese.

“Vivi isolado dentro de casa, escondido e sofri vários anos. Depois, as reações foram muito fortes e meu pai me levou para Eirunepé (AM). Meu pai me carregava nos braços, pois não conseguia caminhar. Fui fichado como 'leproso' em 1975. Só consegui chegar em Cruzeiro do Sul em 1980. Foram anos de muita dificuldade, pois nunca tinha saído do convívio familiar. Ninguém podia sair do hospital para ir a lugar nenhum", lembra.

Somente após o tratamento com pílulas, Silva começou a apresentar melhoras. Para ele, o cadastramento é muito importante, pois dará para as pessoas um direito que deveria ter sido concedido a todos que foram contaminados pela hanseníase.

Lei
A lei federal 11.520 assegura um benefício às pessoas que tiveram hanseníase, mas somente para as que foram internadas em clínicas. A revisão da lei propõe que todos aqueles acometidos pela doença e que foram isolado tenham direito do benefício.

Hanseníase
De acordo com o Ministério da Saúde, a hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, cujo principal agente causador é o  Mycobacterium leprae (M. Leprae). Essa bactéria tem a capacidade de infectar um grande número de pessoas, no en­tanto poucas adoecem. A doença atinge a pele e os nervos periféricos e pode levar a graves incapacidades físicas.

O tratamento específico da hanseníase, recomendado pela Organização Mundial de Saúde - OMS e recomendado pelo Ministério da Saúde do Brasil é a poliquimioterapia (PQT), uma associação de Rifampicina, Dapsona e Clofazimina, em cápsulas. Esse tratamento evita a resistência ao medicamento, o que ocorre, com frequência, quando é utilizado apenas um remédio, impossibilitando a cura da doença.

A Dra. Ana Escobar, consultora do Bem Estar, explica que, ao contrário do que muitos pensam,  hanseníase tem baixa contagiosidade e tem cura.

Fonte: G1