SAÚDE

Jornalista fala do desafio para vencer transtorno alimentar

Jornalista Vanessa Haas fala da fixação pelo corpo que a levou a um quadro de bulimia.

Em 20/07/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A jornalista Vanessa Haas, 29 anos, enfrentou diferentes vícios durante a vida: a compulsão pela comida que a fez atingir os 111 quilos, a fixação pelo corpo que a levou a um quadro de bulimia e a obsessão pelo esporte, que a lesionou. Agora, ela dá os primeiros passos para cuidar da saúde (física e mental) de uma forma mais harmônica. Leia o depoimento de Vanessa a seguir:

“Encontrar a fórmula perfeita de treino e dieta para si é muito difícil, ainda mais com as influências de todos os tipos da internet. Se, na infância, eu era vítima de bullying por causa do sobrepeso, aos 20 e poucos anos caí na roubada de exagerar no esporte e sofri com a bulimia – e, para ser sincera, a luta ainda não foi vencida.

Enquanto era criança, não ligava para minha forma mais cheinha, mas no fim da adolescência vi minha relação com a comidadesandar quando meu pai faleceu e tive que cuidar da minha mãe, que havia adoecido. Estava na faculdade e fui obrigada a carregar responsabilidades que eu só pensava em ter bem mais velha. Assim, acabei encontrando na comida meu único prazer. É verdade que meus hábitos alimentares nunca foram bons, mas comecei a devorar um pote de creme de avelã em cinco minutos. A pequena atleta que eu havia sido na escola virou uma jovem sedentária e sem tempo para si. O susto tomou conta de mim quando a balança já apontava 111 quilos.

Desesperada para emagrecer, fui a um endocrinologista, que me recomendou sibutramina logo de cara. Minha saúde piorou de vez – passei a ter hipertensão e crises de pânico. Conclusão: não consegui perder peso e ainda fui internada no hospital, em 2009, após um episódio de ansiedade extrema. Lá, me dei conta de que nenhuma estratégia milagrosa seria a solução.

Então, mesmo com o aval para passar por uma cirurgia bariátrica, preferi seguir uma reeducação alimentar sustentável. Me matriculei na academia e marquei consultas na nutricionista e na psicóloga. Com a ajuda dos profissionais, minha rotina mudou completamente! Trabalhava de manhã, ia para a faculdade à noite e depois para a musculação. Quando não tinha tempo, voltava para casa e pulava corda.

Passei a ser bem mais regrada com a alimentação e a comer de três em três horas para me sentir saciada. Preparava as refeições em casa, sempre pensando nos nutrientes do prato. A parte mais difícil era driblar o doce, mas adotei a tática de escondê-los na geladeira atrás de verduras e snacks saudáveis. Após dois anos, dei adeus a 35 quilos.

Altura: 1,69 m

Peso: 61,5 kg

Conquista: Venceu a compulsão e encontrou
 o equilíbrio na vida saudável

Só que minha batalha não acabou aí. Tive que encarar novos inimigos. Sabe aquela história de que a grama do vizinho é sempre mais verde? Olhando o shape das blogueiras, me sentia insatisfeita comigo mesma. Queria secar completamente, como elas. E, quando a cabeça não está boa, nem adianta tentar cuidar do corpo. Assim, desenvolvi um começo de bulimia – tomava laxantes, cortei pela metade a quantidade das porções e cheguei a vomitar algumas vezes. Em 2016, me casei pesando apenas 57 quilos.

Estava fora de controle novamente. Também passava dos limites no crossfit e na corrida. Na minha cabeça, chegar ao pódio e diminuir medidas valiam todo o esforço exagerado (parei de menstruar pela falta de gordura, desenvolvi uma gastrite e acabei lesionando o joelho). O processo de cura não aconteceu de um dia para o outro e precisou de um empurrãozinho de quem vivia à minha volta. Ainda bem que meu marido e minha amiga e personal me deram um chacoalhão e me fizeram perceber que o novo tipo de excesso estava me destruindo.

Ainda luto para superá-lo, mas já estou há três meses sob controle. Faço acompanhamento psicológico e amo malhar, mas na medida certa: corro quando posso e me inscrevo nas provas por diversão. Continuo com a musculação diária, mas sempre respeitando os sinais do meu corpo – e faço aula de zumba quando quero extravasar. Aos poucos, deixo a paranoia com a alimentação de lado (o carboidrato já faz parte do meu cotidiano sem neura). Agora, estou descobrindo como tomar conta do nosso interior é tão importante quanto cuidar do exterior. Afinal, nós temos um corpo para usá-lo, e não para viver em função dele.”

“Como estou lidando com um transtorno alimentar”

1. Não tenho vergonha

“O primeiro passo é assumir
 o problema e pedir ajuda – inclusive profissional. Um abraço e um ombro amigo também fazem total diferença.”

2. Sou paciente

“A superação é um processo que não acontece da noite para o dia. Leva tempo.”

3. Evito comparações

“Não confie em tudo o que você vê na internet e não queira ser como o outro. Cada um tem suas marcas e características.”

(Foto: Divulgação)