MOTOR

Primeiras Impressões: Audi RS Q3

Motor 2.5 de cinco cilindros tem turbo e desenvolve até 310 cavalos.

Em 21/01/2015 Referência JCC

Alguns chefes de cozinha misturam ingredientes inusitados, que têm tudo para “dar errado”, mas no final resultam em uma combinação vistosa aos olhos e saborosa ao paladar. O mesmo pode ser dito do Audi RS Q3, que alia a praticidade dos SUVs com a pimenta da grife RS, a mais “invocada” da marca de Ingolstadt.

Único crossover da marca com tal designação, o RS Q3 ganhou recentemente uma reestilização na Europa, que só deve chegar ao Brasil quando o modelo se tornar nacional, em 2016. Até lá, crossover compacto continua sendo vendido com visual “antigo” e etiqueta de preço fixada em R$ 273,6 mil, já na linha 2015.

O tempero do RS Q3 é dado pelo conjunto formado pelo motor 2.5 de cinco cilindros e o câmbio S-Tronic, automatizado de dupla embreagem e 7 velocidades. O bem-sucedido propulsor, que tem turbo e desenvolve 310 cavalos e 42,8 kgfm de torque foi considerado pelo quinto ano consecutivo o melhor entre 2 e 2.5 litros em premiação internacional.

Dá água para o vinho
É possível configurar o RS Q3 para rodar de duas formas bem distintas. No modo Comfort, suspensão, resposta do acelerador, direção e som do motor são voltados para a melhor convivência dos ocupantes.

Com este mapa, o utilitário nem parece ter a assinatura RS, tamanha suavidade no funcionamento. A direção é surpreendentemente leve, mas precisa em velocidades mais altas, enquanto a suspensão é macia e transmite conforto aos ocupantes.

Quando a ideia é pisar fundo no acelerador, basta pressionar a tecla Audi Drive Select para alternar o modo para a configuração Dynamic, a mais esportiva. É como trocar um copo d’água por um bom vinho.

O carro se transforma instantaneamente. A direção fica mais pesada, o acelerador se torna mais sensível ao pé direito do motorista, a suspensão fica mais rígida e o som do motor ganha tons ainda mais secos e altos.

O ronco do cinco cilindros, aliás, é um show à parte, que não lembra nenhuma outra disposição ou número de cilindros. É mais “rouco” do que um seis cilindros, mas suave igual um quatro cilindros, sem a vibração excessiva dos motores de cilindros ímpares.

Sede por gasolina
Outra característica marcante no Audi é a velocidade da transmissão. Trocas são feitas em frações de segundo, sem qualquer hesitação. Se você acha que pode ser mais rápido do que a central eletrônica, experimente jogar a alavanca para a direita, quando o modo manual é acionado, e faça uma “competição” contra a máquina. Certamente você perderá.

Cada redução de marcha representa um estouro seco no escapamento, e dá vontade de repetir o feito várias e várias vezes apenas pelo prazer de ouvir o escape ejetar o resíduo da queima do combustível.

Falando em combustível, é importante ressaltar que o RS Q3 é um apreciador de gasolina premium. Na cidade, o SUV registrou consumo médio de 5,7 km/l. Na estrada, a média melhora para 7,4 km/l.

Sobremesa
A sobremesa de andar no RS Q3 vem com o controle de largada. É a maior dose de diversão possível no carro. Arrancadas perfeitas podem ser obtidas colocando o câmbio no modo S, desligando o controle de tração, zerando o odômetro parcial e pisando com o pé direito no acelerador, enquanto o esquerdo está no freio.

O conta-giros irá ultrapassar as 3 mil rotações por minuto. Aí é só soltar o freio a qualquer instante, e sentir as costas sendo pressionadas contra o banco. Daí até os 100 km/h, são apenas 5,2 segundos, de acordo com a Audi. Na prática, parece menos.

Em acelerações, a tração integral quattro faz com que o RS Q3 “ande sobre trilhos”. O carro permanece todo o tempo na mesma trajetória, sem o menor sinal de deslizamento. O mesmo acontece em curvas. Basta apontar o SUV, que ele se comporta de forma exemplar, mesmo tenho um centro de gravidade mais alto do que qualquer outro esportivo. Aliás, ele nem parece um utilitário esportivo.

Envelhecido
A cabine do RS Q3 denuncia que o crossover não é da “última fornada” de desenvolvimento da Audi. As saídas de ventilação são retangulares, e não seguem o atual padrão circular da marca.

O ar-condicionado, de duas zonas, tem como comandos para ajuste de temperatura dois seletores, quanto os modelos mais recentes adotam teclas giratórias menores.

A tela multimídia, retrátil, não é sensível ao toque, só pode ser controlada por meio de um botão no centro do rádio. Não há o moderno e intuitivo touchpad presente em modelos mais baratos, como o S3. A falha mais grave, entretanto, é não oferecer entrada USB. Há até conexão para cartões SD, menos usuais do que o primeiro.

Fora isso, tudo é muito bem construído. Os materiais são de primeira – bancos mesclam couro e Alcantara, os poucos plásticos possuem textura agradável e há detalhes em alumínio. Além disso, o volante tem base reta e revestimento de couro perfurado. Há teclas para controlar volume e estação do rádio, computador de bordo e comandos de voz.

Recheio
Em relação ao Q3 “convencional”, a versão RS, além do motor maior e mais potente, adiciona outros equipamentos. Ela conta com rodas de liga leve de 19 polegadas (contra, no máximo, 18 no Q3), acesso e partida sem chave, acabamento interno em preto brilhante e teto em tecido preto.

A marca RS está presente em na base do volante, na manopla do câmbio, grade frontal e capas das pinças de freio. Além disso, retrovisores, rack de teto, pedais e soleiras são feitos de alumínio.

Entre os itens de série, ar-condicionado de duas zonas, airbags frontais, laterais e de cabeça, controles eletrônicos de tração e estabilidade, bancos dianteiros com ajustes elétricos, piloto automático, faróis bi-xenônio com luzes diurnas de LED, sensores de chuva e luminosidade, teto solar panorâmico, start-stop, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro e sistema de som da marca Bose. Faz falta a câmera de ré, já que o RS Q3 não é nenhum compacto.

Conclusão
O cardápio de SUVs no mercado brasileiro apresenta opções das mais diversas. Porém, quando a especialidade são esportivos, são poucas as casa com representantes. O principal concorrente do RS Q3 vem de Stuttgart, e atende pelo nome de Mercedes-Benz GLA 45 AMG. Ele sai de fábrica com o motor 2.0 mais potente do mundo. Turbinado, tem 360 cv, e chega de 0 a 100 km/h em 4,8 segundos. Apresentando desempenho e espaço interno melhores, o Mercedes custa pouco mais do que o Audi. São R$ 289,9 mil do GLA, contra R$ 273,6 mil do RS Q3.

Maior em tamanho, e pior em desempenho, o Volvo XC60, na vesão T6 R-Design, também é uma opção com pegada mais esportiva entre os SUVs. Ele conta com um 6 cilindros em linha turbinado de 304 cv, capaz de levar o modelo da imobilidade aos 100 km/h em 6,9 segundos, com máxima limitada em 210 km/h. Na hora de pagar a conta, o sueco cobra R$ 250.990.

Mesmo prestes a mudar e com algumas falhas no pacote de equipamentos, o RS Q3 encanta por oferecer um competente conjunto mecânico, visual atraente e a versatilidade de um utilitário.

Custando menos do que o principal concorrente, é como aquele restaurante que, mesmo não fazendo parte dos contemporâneos mais badalados do mundo, deve ser respeitado pela competência em cumprir o que se propõe.

Fonte:AutoEsporte