SAÚDE

Veja quais são os mitos e fatos sobre condromalácia patelar

Ortopedista responde a dúvidas sobre o amolecimento da cartilagem da patela.

Em 27/02/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Sabe o que é condromalácia? A palavra provém da aglutinação dos radicais chondros, cartilagem e malacea, amolecimento, traduzindo, portanto, um amolecimento da cartilagem da patela. E este amolecimento pode evoluir para sua total destruição. Sabe-se que a cartilagem articular lesada tem potencial de cicatrização muito limitado. Isso se deve às propriedades histológicas do tecido cartilaginoso que, ao contrário da maioria dos tecidos do corpo, possui pouquíssimas células (hipocelularidade), não possui vasos sanguíneos (avascularidade), é aneural, ou seja, não possui terminações nervosask, e é riquíssimo em água. Consequentemente, uma vez lesada, a reação inflamatória é muito pequena, e a possibilidade de reparo, quase nula. Todos os dias blogs e sites que abordam o assunto recebem milhares de dúvidas e comentários. Na grande maioria das vezes são pessoas que frustradas em um tratamento sem sucesso buscam tirar dúvidas com a experiência de outras pessoas. Seguem então as principais que tenho recebido meu site na última década:

 

1. Quem tem condromalacia não pode praticar esportes: MITO

A doença está ligada a distúrbios biomecânicos, e após melhoria de sintomas é imprescindível o fortalecimento seguido de prática regular de esportes de baixo impacto, prevenindo sua recidiva.

2. Mulheres têm mais chance de desenvolver a doença que os homens: FATO

Mulheres possuem fatores anatômicos neuromusculares e hormonais que predispõem a doença.

3. Pratico muito esporte, o impacto vai sobrecarregar minha cartilagem e levará a condromalacia: MITO

A crença de que o esporte degrada mais as articulações caiu por terra há cinco anos atrás. Estudos recentes provaram que atividade física libera enzimas anti-inflamatórias no joelho que protegem a sua degeneração. Isso explica a taxa de desgaste de joelho ser infinitamente maior em pessoas sedentárias.

4. Fiz uma ressonância do joelho, e no laudo consta que tenho condromalácia. Este exame é suficiente para meu diagnóstico: MITO

Desequilíbrios musculares e distúrbios biomecânicos estão intimamente ligados à origem da doença. Na ressonância é muito comum imagens de degeneração da cartilagem, mas muitas vezes trata-se do envelhecimento fisiológico da cartilagem, e a dor do paciente está em outro ponto do joelho. Por isso, o diagnóstico de condromalácia tem que ser dado para um médico que esteja familiarizado com o gesto esportivo que o paciente pratica. Após análise biomecânica de força excêntrica e sincronismo muscular, o médico deve observar as imagens de perda de cartilagem da patela e confrontá-las com o ponto de dor do paciente. Infelizmente, hoje muitos têm diagnóstico de condromalácia, quando, na verdade, a lesão se trata de uma tendinite patelar, hoffite ou plica sinovial inflamada.

 

5. Quem tem condomalacia pode evoluir para artrose: FATO

Uma vez lesada a cartilagem, a liberação de enzimas inflamatórias pode erodir o joelho como um todo. Motivo pelo qual medidas condroprotetoras, como a viscossuplementação são necessárias, ao menos na fase inicial, para prevenir a progressão da doença.

6. A musculação é contra-indicada para quem tem a condromalácia: MITO

Particularmente, trato a doença em três fases:

- Regenerativa, onde o fisioterapeuta age tirando a dor e realizando a ativação inicial da musculatura da coxa e quadril.

- Preventiva, onde o trabalho inicial do fisioterapeuta é continuado em academia, tendo muito cuidado com a angulação de proteção de cada máquina e ao padrão de contração muscular. Nesta fase, é comum haver erro de execução, e exige comunicacao entre médico, fisioterapeuta e educador fisico.

Por este motivo, peço sempre a visita do personal trainer ao meu consultório ou encaminho o paciente para um professional que tenha sido treinado pela minha equipe.

- Retorno ao esporte, onde a equipe de profissionais prescreve a periodização do treino e retorno gradual ao esporte.

7. Tenho condromalácia e nunca mais vou poder voltar a correr: MITO

Como descrito no tópico acima, as três fases nao podem ser negligenciadas. Para a corrida de rua, esporte de endurance muito popular nos dias de hoje, tomo alguns cuidados adicionias com meus pacientes que incluem a realizaçãoo de teste isocinético para avaliação de equilíbrio muscular, teste de baro-podometria, buscando possíveis pisadas patológicas como supinadores e pronadores extremos. Fatores fisiológicos individuais, como níveis sanguíneos de GH, testosterona e vitamina D, são de suma importância na prevenção de lesões de over-use.

 

8. Estou muito pesado (a). Isso pode agravar ainda mais minha doença: FATO

Para se ter uma ideia, a cada passo que a pessoa dá, duas a quatro vezes do seu peso corporal são transmitidos através da articulação do joelho. Assim, quanto mais você pesa, mais forte é o impacto em seu joelho. Estudos mostram que ao se perder 10 kg de peso, reduz-se em até 20% da dor para joelhos com condromalácia.

9. Meu ortopedista me receitou glicosamina e condroitina. Segundo ele, isso vai ajudar na prevenção do agravo da doença: MITO

Particularmente, considero mito por não haver estudos de nível de evidência suficiente que comprovem isso. Talvez, por isso, a American Academy of Orthopaedic Surgeons (AAOS) nos Estados Unidos tenha publicado um relatório em 2017 considerando o tratamento como ineficiente. Particularmente, prefiro que meus pacientes realizem exercícios de baixo impacto como natação, deep-running e bicicleta por liberarem enzimas anti-inflamatórias no joelho do que utilizarem este produto que, aqui no Brasil, tem preço proibitivo. Para o efeito condro-protetor, prefiro o uso do ácido hialurônico por haver nível de evidência maior em seu efeito de modificação da evolução da doença.

 

10. Se minha doença nao melhorar, pode ser que eu precise de tratamento cirúrgico: FATO

Apesar de ter indicação muito limitada, alguns pacientes, principalmente mulheres na quarta década de vida com degeneração avançada da faceta patelar lateral da patela associada à hiperpressão lateral, podem se beneficiar com o tratamento cirúrgico.