CIÊNCIA & TECNOLOGIA

A força dos negócios dos influenciadores digitais na sociedade

84% das pessoas seguem a vida de influenciadores digitais.

Em 10/07/2019 Referência JCC, Karoline Cabral

Foto: SEBRAE - Reprodução

A pesquisa #Hashtag Seguidores, realizada de março a maio de 2019, pelo Instituto de Estudos de Comportamento e Consumo Diário de Campo, com 1.260 pessoas de todo o Brasil, revelou que o hábito de seguir blogueiros (as) / influenciadores / celebridades é expressivo no Brasil. Esta onda tende a crescer cada vez mais e, além de um cobiçado status social, ser um “digital influencer famoso“virou uma mina de ouro. O estudo comprova que a estratégia das marcas em investir nos influenciadores é certeira e promissora:

  • 49% dos entrevistados lembram de já terem concretizado uma compra de produto por indicação de um influenciador;

  • 56% já conheceram novas marcas apresentadas nas redes;

  • 76% já mudaram de opinião sobre um produto após post de um influencer.

Quanto ao hábito de seguir um influenciador no Instagram:

  • 84,3% dizem gostar de seguir e acompanhar com frequência blogueiros(as)/influenciadores/celebridades;

  • 12,2% seguem, mas não veem perfis dos influenciadores com muita frequência;

  • apenas 3,5% não seguem/não gostam de seguir influenciadores.

E os efeitos de acompanhar a vida de amigos, conhecidos e estranhos podem gerar compulsão:

  • 64% dos entrevistados se consideram viciados na rede social Instagram;

  • 43% se assumem viciados em acompanhar influenciadores digitais.

A FORÇA DA INFLUÊNCIA

A pesquisa #Hashtag Seguidores, da Diário de Campo Pesquisa, mostra que a palavra “influenciador” tem fundamento: 76% das pessoas já mudaram de opinião sobre alguma coisa - como uma bebida ou um tipo de roupa – devido a um influenciador(a) digital.

A influência é ainda maior nas classes econômicas mais altas. Entre as pessoas da classe A, 86% já mudaram de opinião por influência de um blogueiro(a) / influenciador(a). “Essa ascendência do influenciador é mais evidente entre quem tem maior poder aquisitivo pela maior possibilidade de compra e até mesmo de descarte do que foi comprado anteriormente.”, esclarece Julianna Queiróz, sócia da Diário de Campo Pesquisa.

A médica Bruna Gomes, de 26 anos, foi apresentada a um universo de produtos que antes não conhecia quando passou a seguir novos influenciadores em rede social: “Eu me alimentava de maneira muito errada. Depois que comecei a seguir blogueiras que se preocupam com a saúde, conheci marcas e produtos que me fazem bem. Eu não tinha noção de que vários produtos que eu consumia eram de péssima qualidade. Afinal, não é assim que eles se apresentam, não é?!”, conta Bruna.

O estudo da Diário de Campo comprova também que há coerência nos investimentos de empresas em influenciadores digitais: 56% das pessoas dizem que já conheceram novas marcas e 51% já foram apresentadas a produtos ou serviços por quem seguem em rede social. Além disso, 49% lembram de já terem concretizado uma compra de produto por indicação de influenciador.

“Fui comprar uma pasta de dente e vi na prateleira uma nova que a @cicaregomacedo falou bem. Resolvi comprar para experimentar. É uma com coco e gengibre. Esse sabor é tão diferente que acho que eu não teria comprado sem ter ouvido que ela gostou.”, complementa Bruna Gomes.

Marcas, serviços e produtos que garantam suas qualidades têm se beneficiado das recomendações de influenciadores digitais para alavancar a imagem da marca e as vendas. Isso é evidente, por exemplo, para a marca de roupas Czar, de Belo Horizonte, que identificou um aumento no volume de compras e maior envolvimento com a marca depois de parcerias com blogueiras mostrando suas peça e estilo.

“Basta uma blogueira postar algo da loja que quase imediatamente vem uma alta procura e venda. Influenciadoras digitais quebram a distância de consumidoras com a minha marca.”, diz Flávia, diretora da Czar Moda.

A pesquisa indica também que as recomendações têm mais crédito quando não parecem propaganda. “Quando o consumidor percebe que é publicidade ou, como falam, ‘publi’, alguns poucos desconfiam, mas muitos outros continuam acreditando no que é dito pelo influenciador por confiar na sinceridade dele, que ele não mentiria e não faria uma “publi” do que não é bom.”, explica Renata Del Caro, também sócia da Diário de Campo Pesquisa.

Em geral, internautas se mostram mais influenciáveis em segmentos como beleza e moda:

  • 53% dizem que influenciadores os ajudam a cuidar melhor de seu corpo e sua saúde;

  • 46% que ajudam a estar na moda.

“Já comprei um monte de coisa que vi no Instagram: batom, maquiagem, produto de cabelo. Quando a gente vê que o cabelo dela estava igual ao meu e melhorou, aí você acaba comprando e influenciando também os seus parentes porque eu falo para eles o que vejo no Instagram.”, diz Adriana Rosas, de 45 anos.

Outro segmento em que blogueiros exercem alta influência é o audiovisual: 64% das pessoas já assistiram filme/série/programa por indicação de influenciador digital. “As dicas de influenciadores sobre o que assistir são bem-vindas por aumentar a chance de se ter um tempo ‘bem gasto’, de acertar no filme, na série. Além disso, participantes da pesquisa dizem que é assim que se informam sobre o que está em alta, fazendo com que estejam mais antenados nas novidades.” analisa Renata.

PRINCIPAIS INTERESSES

O estudo comprova que esse hábito de seguir influenciadores digitais está relacionado a benefícios que os mesmos trazem para suas vidas. Desde algo intangível - como bem-estar, leveza, prazer - , como aspectos tangíveis - como dicas de compras e lugares para ir.

  • 52% dos entrevistados dizem que seguem influenciadores porque dão ótimas dicas de compras, beleza, receitas, viagens etc;

  • 45% afirmam seguir porque são engraçados.

“Questões de gênero, feminismo, política têm menos espaço em uma rede social de maior apelo visual. Quando se quer falar de política e outros temas mais densos, as pessoas preferem redes que dão espaço para texto. Isso porque um texto permite se pensar mais e reescrever, obtendo um resultado mais próximo ao desejado. Já o vídeo exige boa articulação, expressão, palavras na ponta da língua, raciocínio rápido. Um vídeo que pareça ensaiado perde a credibilidade“, analisa Julianna Queiróz.

As pessoas estão buscando o humor acima de qualquer outro assunto específico (55,2% das pessoas seguem pessoas que usam o humor em suas postagens). O humor funciona como um lugar de fuga dos problemas enfrentados tanto na vida pessoal, como política e social. O humor como uma possibilidade de respiro, um momento de poder desligar do dia a dia retratado pelos entrevistados como “pesado”.

Assim, o interesse é maior por influenciadores que falam principalmente sobre:

1. Humor (55%)

2. Comidas / receitas (49%)

3. Moda (48%)

4. Cabelo / Pele / Maquiagem (48%)

5. Música (48%)

6. Viagem (47%)

7. A vida deles mesmos (questões pessoais, o que fazem do dia a dia) (46%)

Falar sobre a vida deles mesmos, tende a capturar ainda mais a atenção dos seguidores. Assuntos banais ou sérios com uma conotação pessoal criam conexão. 57% dos entrevistados dizem se interessar por influenciadores que falam se suas vidas.

A médica Bruna Gomes segue mais de 20 influenciadores, mas cinco desses são especiais e ela tenta não perder um único story. “Eu comecei a seguir por interesse em algum assunto específico, como arquitetura, dieta... Mas acabei ficando próxima vendo elas falando e mostrando a vida delas. Acompanho o que fazem no dia a dia, aonde vão, a vida amorosa... Ouço elas várias vezes durante o dia. Aproveito atividades da minha rotina, como quando estou lavando louça ou escovando os dentes para ver os stories.”, diz Bruna.

Já para Adriana Rosas, de 45 anos, saber da vida do influenciador, só faz sentido quando essa pessoa tem um estilo de vida relativamente parecido com o dela. “De algumas influenciadoras me interessa a vida pessoal, de outras não. Tem muitas que têm uma vida muito destoante da minha, não são pessoas normais. Já a @abocarosabeauty e a @evelyn falam quando estão menstruadas, quando vão ao banco, limpam a casa, cuidam do cachorro. Aí é legal, porque você consegue ver o que você consegue aproveitar para o seu dia a dia.”, conta Adriana. Ela faz parte das 47% das pessoas que dizem se sentirem bem em ver pessoas que pensam como ela, mesmo sem conhecer pessoalmente.

APIRACIONAL / FUNÇÃO TERAPÊUTICA

A pesquisa da Diário de Campo também revelou que redes sociais como o Instagram fomentam o aspiracional, ou seja, o sonhar com aquilo que não se tem: 67% das pessoas dizem que gostam de ver dicas de lugares, passeios e produtos que sabem que não podem pagar, mas que inspiram e fazem sonhar.

”Se por um lado esse hábito de estar em contato com o inalcançável pode manter as pessoas em um constante lugar de falta, de escassez, elevando os níveis de ansiedade, por outro, paradoxalmente, também tem uma função terapêutica”, explica Renata Del Caro.

Além disso, os influenciadores, por exemplo, têm um papel muito importante na construção da autoconfiança.

  • 56% das pessoas dizem que os influenciadores as ajudam a ter mais autoestima e se aceitarem como são;

  • 51% dizem que os influenciadores as ajudam a encarar a vida de forma mais positiva;

  • 44% das pessoas dizem que os influenciadores as ajudam a se relacionarem melhor com amigos, familiares e parceiros.

“Muitos influenciadores incluem em suas postagens frases motivadoras, de auto-superação, auto-aceitação, dando estímulos necessários em momentos de carência e, até mesmo, aplacando e preenchendo o lugar de falta que o própria rede social fomenta com suas imagens, corpos e vidas perfeitas. Já, inclusive, nos deparamos com depoimentos de casos de depressão que foram amenizados por estímulos de influenciadores.”, diz Julianna Queiróz.

Para Jaqueline da Silva, de 38 anos, seguir pessoas que ela considera de sucesso, a ajuda a ter ideias de como melhorar sua própria vida. “A gente fica querendo acompanhar o que uma pessoa bonita faz para ficar daquele jeito. Quero ver a carreira dela para saber o que ela fez para chegar a esse patamar”, conta Jaqueline.

A influenciadora digital Kika, do perfil no Instagram @DicadaKika, diz perceber que “hoje em dia está faltando mais esse contato mais próximo entre as pessoas. Vejo as pessoas mais carentes. Então, se a pessoa te vê ali falando no story, ela acha que você está conversando só com ela. Quando eu faço um story, eu penso que eu estou falando para aquela pessoa que está me vendo.”

É assim com Liliane Pereira, de 39 anos, uma das participantes da pesquisa Hashtag Seguidores: “Ver a Kika, do @DicadaKika, toda manhã me faz ter vontade de sair de casa, de viver! Ela ainda me apresenta lugares que antes eram só em sonho pra mim. Um dia ela até me incentivou ir no Copacabana Palace. Vendo ela lá e então sabendo como tudo é lá, acreditei que eu também podia ir.”

Seguindo a lista de benefícios, influenciadores digitais são responsáveis por aumentar o repertório da conversa de 46% de quem os acompanha. Ou seja, o que os influenciadores dizem é replicado em conversas fora da rede. Por meio deles, as pessoas também têm a oportunidade de viver realidades que dificilmente teriam a oportunidade de experimentar de outra forma. Não raramente, ouvimos que ao “consumir” influenciadores, as pessoas se destacam entre seus pares, elas se tornam “influenciadoras” de seus universos, ou seja, se tornam mais importantes e admiradas.

E, ainda, 44% das pessoas dizem que os influenciadores as ajudam a se relacionarem melhor com amigos, familiares, parceiros.

A seguidora Bruna Gomes, de 26 anos, atesta: “já aprendi muito com elas. Elas me fazem pensar sobre mim, me ajudam a refletir sobre vários assuntos. Até na minha relação com o meu namorado elas já influenciaram. Elas ampliam o meu olhar para o mundo. Já mudei a minha forma de pensar por causa delas.”

ESCAPISMO

A pesquisa da Diário de Campo também apontou que redes sociais voltadas a fotos e vídeos espontâneos – como o Instagram – são escolhidos para momentos de escape do dia a dia, das questões pessoais, momento para espairecer. “O Instagram amplifica os espaços vazios dentro da rotina. Curtos momentos de pausa entre uma atividade e outra são expandidos.”, explica Renata Del Caro.

  • 53% porque ajuda a passar o tempo;

  • 50% seguem porque os influenciadores são engraçados;

  • 45% seguem porque gostam de ver estilos de vida diferentes dos deles;

  • 41% seguem porque se sentem bem em ver pessoas que pensam como eles.

AMIGOS VIRTUAIS

Essa grande influência se explica pela alta sensação de proximidade dos seguidores em relação a influenciadores.

  • 62% se consideram próximos aos blogueiros(as) / influenciadores digitais / celebridades;

  • 40% dizem se considerar bem próximos dos influenciadores como são dos amigos ou até mais próximos do que os amigos da “vida real”;

  • 44% dizem que influenciadores poderiam ser chamados de seus amigos;

  • Isso é mais forte entre os homens, 52% deles chamam influenciadores de amigos.

Para Bruna Gomes “um mundo sem influenciadoras seria triste. Já me acostumei a acompanhar algumas delas. Sei muito da vida delas. Elas são como minhas amigas.”

“Quando vejo o @italomarsili, parece que ele está falando comigo. É um cara crítico, sincero, sem filtros. Já conheço tanto que se eu cruzar com ele na rua vou querer parar para falar com ele como se fosse um amigo... Porque ele é mesmo. O cara se abre nos stories dele. Se abre mais do que vários amigos que tenho.”, diz Pedro Magalhães, de 56 anos.

“Relacionamentos, mesmo os de amizade, exigem trabalho. Nos dias atuais, a tecnologia se vende como uma solução simples, rápida e indolor. Ela aplaca o medo da intimidade e possibilita a conexão com controle: assisto a stories na hora em que quero, sigo apenas o que e quem quero, faço tudo o que me é mais conveniente. No fim, temos a ilusão de estarmos em companhia, mas sem as demandas de um relacionamento offline’”, explica Renata.

“Vimos no campo da pesquisa que amigos virtuais permeiam até mesmo as conversas offline e presenciais entre amigos.”, complementa Julianna. Segundo Raquel Nazareh, de 22 anos, “Numa roda de amigos, tem uma hora que está todo mundo olhando o celular, principalmente o WhatsApp e o Instagram. Fica aquele silêncio. Mas se alguém vê algum look legal, alguma coisa interessante, fala para os outros, e aí a gente engata em outra conversa ou não... ou continuamos olhando os celulares.”

TRÊS GRANDES MUNDOS

O estudo Hashtag Seguidores identificou três grandes esferas desse grande universo de seguidores de influenciadores digitais:

  • Janela para o Mundo

Por meio de influenciadores digitais, seguidores se sentem “antenados”, atualizados sobre o que há de novo, o que está acontecendo.

57% dos entrevistados dizem que seguem influenciadores porque dão ótimas dicas de compras, beleza, receitas, viagens etc.

  • Buraco da Fechadura

Seguir pessoas aplaca o desejo de bisbilhotar a vida alheia. Pessoas que se expõem em suas intimidades, que falam de seus erros e fracassos nos fazem sentir bem, sentir humanos, sentir aceitos. Mas o oposto também é atraente: ver – e ter a sensação de participar - do sucesso alheio é aspiracional. Entrevistados dizem que isso os faz acreditar que também podem chegar lá.

57% gostam de seguir influenciadores que falam sobre a vida deles mesmos (questões pessoais, o que fazem do dia a dia). 44% das pessoas dizem que os influenciadores os ajudam a se relacionar melhor com amigos, familiares, parceiros.

O VÍCIO DAS REDES SOCIAIS

A Pesquisa da Diário de Campo também revelou que 64% das pessoas são compulsivas pelas redes sociais e 84% acompanham a vida de influenciadores digitais. E o hábito de acompanhar a vida de amigos, conhecidos e estranhos pode até gerar compulsão. O tempo excessivo gasto olhando e/ou curtindo fotos e vídeos no Instagram, por exemplo, tem efeitos diversos para a saúde e vida dos heavy users.

“Esse número é ainda maior, pois há pessoas que não têm consciência ou então se envergonham e não admitem esse vício. Presenciamos isso durante o campo da pesquisa.”, revela Julianna Queiróz.

O comportamento de entrar frequentemente em rede social e de seguir influenciadores tem alto impacto na vida das pessoas. A psicanalista Flávia Hasky, que estuda como a internet afeta as relações de cada um consigo mesmo e com os outros, explica que esse vício tem efeitos diversos e impacta cada indivíduo de modo singular.

Flávia indica que “para uma pessoa mais desenvolta socialmente essa adesão maciça às redes sociais pode ser prejudicial, por reduzir os momentos de convívio com amigos íntimos e familiares, com a natureza ou mesmo o envolvimento em atividades culturais, por exemplo. Há ainda uma diminuição preocupante da capacidade de se haver com o tédio, de lidar com a própria solidão.”, completa.

Bruna Elia, de 24 anos, mestranda em antropologia, identifica alguns desses danos: “o Instagram não tem fim. Fico olhando e de repente me toco que eu estou há 2 horas sem fazer nada. Perco a hora, sempre me atraso pra sair de casa e ainda fico ansiosa por não conseguir ver tudo. Faço print para ler depois. Parece que você está presa ali. É como se ficasse dopada.”

No entanto, a psicanalista esclarece que para uma pessoa mais tímida pode até ser benéfico, pois o mundo dela tende a se expandir. ¨Ela se abre para realidades com as quais dificilmente teria contato por ser mais retraída socialmente.”, explica.

A médica Bruna Gomes diz que já aprendeu muito com as influenciadoras que segue. “Elas me fazem pensar sobre mim, me ajudam a refletir sobre vários assuntos, ampliam o meu olhar para o mundo. Já até mudei a minha forma de pensar por causa delas.”