OPINIÃO

A lei da pesca, a lei da vida: Quanto VALE o mar?

Rompimento de barreira, afetou a pesca no litoral de norte a sul do estado.

Em 23/04/2019 Referência JCC, Dr. Eduardo Santos Sarlo

Divulgação

Desde menino via meu pai saindo para pescar no litoral do Sul de nosso Estado. Nas mãos, anzol, linha, material de mergulho, rede e iscas. Tudo pronto para se lançar ao mar e trazer de lá não só o peixe, que era nosso sustento, mas também a alegria de horas em comunhão com a natureza e consigo mesmo, numa meditação direta com Deus.

Eram tempos difíceis financeiramente, mas muito felizes porque tínhamos a imensidão do mar, o amor da família que nos unia e, principalmente, a certeza de que tudo poderia mudar, menos esse amor e a beleza do mar, nos saciando a fome e os olhos com a sua majestade.

Mas as coisas mudaram. Me tornei Advogado, meu pai também se formou em Direito e se tornou Advogado e meu irmão seguiu a carreira da enfermagem em conjunto com a pesca como profissão, o que leva em sua vida até hoje com suas mãos calejadas de tanto trabalho.

O amor pelo mar continuou, como bem ensinado por nosso pai.

Aquela imensidão de peixes e alegria acabou. Acabou primeiro porque tive que vir para a capital estudar, me estabelecer e tocar a vida. Segundo porquê e, mais recentemente, a estupidez humana assim o quis.

Me sinto parte legitima para falar dos rompimentos de barreiras da Vale, que ocasionaram um grande desastre ecológico, podem ter levado mais de 200 pessoas a óbito e podem ter deixado nossos rios e mar com baixíssima capacidade de pesca.

Com o rompimento da barreira, em primeiro plano tivemos afetados a pesca nosso litoral de norte a sul. Sentimos na pele esta violência ambiental, já que meu irmão vive da pesca, sustenta quatro filhos e uma esposa com sua atividade pesqueira e se viu sem trabalho e, consequentemente, sem recurso financeiro, simplesmente porque não já tinha peixe e nem camarão no mar.

Ora, é a Vale responsável por esse dano ambiental? É responsável pelo prejuízo imensurável que gerou à tantas famílias de pescadores que vivem da pesca artesanal, como meu irmão e sua família? Pode uma empresa deixar que barragens atinjam pessoas sem dar à elas chance sequer de sobreviver? Pode uma empresa atingir o meio ambiente com um golpe tão letal, que sequer conseguimos pescar em nosso litoral?

Penso que não pode. Tenho um barco, pesco também, sou filho de pescador, meu irmão é pescador, temos orgulho de falar isso. Contudo, nunca nos deparamos com algo tão agressivo aqui no nosso Estado contra o mar e contra os pescadores.

Acredito que esta empresa deveria zelar pela vida humana e pela vida marinha, entretanto o que vivemos e enxergamos são danos ambientais gravíssimos e danos em nossa sociedade pesqueira que não vejo reversão nesta geração humana.

Vivo diariamente com esta reflexão: Estamos diante de uma dano ambiental? Estamos diante de um dano material e moral frente à sociedade pesqueira? Estamos diante de um crime?

O que não consigo hoje é ficar calado frente às atrocidades narradas acima. Não consigo esquecer que foi o mar que me tornou gente, me tornou homem e me aproximou ainda mais do núcleo da sociedade, e a família.

Sobre o autor:

Dr. Eduardo Santos Sarlo, é advogado, professor e diretor da Sarlo & Machado Advogados Associados.

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