MEIO AMBIENTE

"Dá para salvar o Rio Doce", diz professor Profissionais

Expedição científica explorou maior rio do estado para diagnóstico.

Em 14/11/2014 Referência JCC

A destruição da mata às margens do Rio Doce é uma das principais causas pela perda de diversidade animal da região, de acordo com biólogos que participaram da Expedição Rio Doce. Durante o trajeto realizado pelos pesquisadores, na Expedição Científica, os biólogos procuraram as espécies que ainda sobrevivem na região. "Se nada for feito de imediato, e falo da recuperação de nascentes, plantios de árvores em torno das áreas de preservação, é um prognóstico meio preocupante", afirmou o biólogo José Roberto de Matos. No fim do trajeto, o professor Abrahão Elesbon disse que acredita na salvação do Rio Doce. "Dá para salvar se todo mundo se juntar", finalizou.

Esta é a quinta, e última matéria da série de reportagens sobre a expedição científica realizada para explorar o maior rio do Espírito Santo. O objetivo era levantar informações que podem ajudar na elaboração de um diagnóstico a respeito da atual situação do rio. Em sete dias de expedição, especialistas viajaram 160 km pelos municípios de Baixo Guandux, Colatinax e Linharesx. Em uma primeira análise, a equipe constatou que serão muitos os desafios para a recuperação do rio.

Depois de quase uma semana de viagem, e 100 km percorridos, desde a divisa de Minas Gerais com o Espírito Santo, o destino final da equipe era Regência, em Linhares. O último trecho começou cedo e animado. Às 5h30, ainda com uma névoa sobre o Rio Doce, os participantes desmontaram o acampamento.

O café da manhã da equipe foi marcado por um churrasco, ainda de madrugada. "É assim, porque a gente está saindo agora cedo e tem muita distância a percorrer rio abaixo e a gente precisa de se alimentar. É isso aí, a pescaria é assim", disse Wallace Negrelli, pescador amador.

O visual urbano de Colatina ficou para trás. Em meio à vegetação, as sapucaias rosa se destacaram e mostraram os resquícios do que sobrou da Mata Atlântica, menos de 10% do que já cobriu o Espírito Santo. "A gente já catalogou mais de 3 mil espécies de plantas para a bacia do Rio Doce. Muitas dessas plantas são ameaçadas de extinção e muitas delas só existem nessa região", disse o biólogo Marcelo Simonelli.

A procura pelas espécies continuou dentro da mata. Os pesquisadores instalaram armadilhas fotográficas nas árvores para conseguir fazer os registros. Segundo o biólogo Eduardo Segatto, a principal ameaçã na bacia é a destruição dos habitats. "A gente vê bastante descaracterizado ao longo do tempo, com a ocupação humana desordenada. Em alguns municípios a gente ainda vê uma situação muito pior, a vegetação quase não existe, tem município que só tem 2 ou 3% de mata. A caça ainda é bastante cultural na maioria dos municípios. A fauna pede socorro e o momento é esse para começar a agir e fazer alguma coisa", afirmou.

À noite, a equipe buscou répteis e anfíbios. "Os anfíbios de modo geral são indicadores de qualidade ambiental. Então determinadas espécies só ocorrem em ambientes preservados ou só ocorrem em determinados do tipo de ambiente. A gente tem uma taxa de endemismo muito grande na Mata Atlântica. Então, vendo qual espécie de sapo você tem em determinado lugar, você tem como saber a qualidade ambiental de cada lugar. A abundância dos bichos diminui muito quando você não preserva as margens. Você vê muitos bichos associados aos lugares que estão mais preservados e os lugares que estão mais devastados você não acaba vendo eles", explicou Paulo Scherrer.

Linhares
Na chegada à Linhares, a qualidade da água é medida. No rio São José, também conhecido como Rio Pequeno, um dos afluentes do Rio Doce e principal fonte de abastecimento de Linhares, é possível ver canos de esgoto saindo das casas e caindo direto na água. "Quanto pior estiver a água do rio, mais cara fica a água para a população. Então quanto mais cuidar, vai sentir o reflexo da qualidade da água", disse Abrahão Elesbon, professor do Ifes.

Em um acampamento, a Polícia Ambiental encontrou dois pescadores com peixes que eram pequenos demais para ser capturados. Durante o dia, foi possível encontrar várias armadilhas de madeira. "Esse tipo de armadilha é feito para pegar camarão, e lagosta. É proibido. Esse animal está em risco de extinção", disse o policial ambiental Cabo Aloízio Júnior.

Fim da expedição
No último trecho da viagem, outros pontos de encalhe foram identificados na foz do Rio Doce. A equipe que viajou 160 km durante toda a expedição foi recebida ao som dos tambores de congo. Para o professor Abrahão Elesbon, o momento foi um mistura de cansaço e emoção. "Sensacional, foi uma experiência de vida única para todos nós. A gente viu que há muito o que ser feito, mas que o Rio Doce é lindo demais. Dá para salvar se todo mundo se juntar. Vale a pena se esforçar", finalizou.

Fonte: G1-Espírito Santo