EDUCAÇÃO

Jovem leva filha à aula preparatória

Raquel engravidou aos 19 anos e agora quer voltar a estudar.

Em 06/11/2014 Referência JCC

Muitas são as histórias de desafios e superação de quem driblou as dificuldades para realizar um sonho. O que faz dessas histórias únicas é exatamente o modo como cada protagonista conseguiu transformar os contratempos em motivação. No caso da estudante Raquel Krauzer, de 21 anos, que busca uma vaga no curso de pedagogia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a solução para conseguir se dedicar aos estudos é ter, na sala de aula, a companhia de uma figurinha sorridente e pra lá de agitada. Sem ter com quem deixar a filha de dois anos, a jovem leva a pequena Rebeca para o curso preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Projeto Educacional Compartilhado Saberes (PECS). A prova acontece nos próximos sábado (8) e domingo (9).

Raquel engravidou quando tinha 19 anos. A gravidez não planejada fez com que ela parasse de estudar durante dois anos. “Cheguei a fazer o Enem quando estava grávida, mas não prestei vestibular porque seria no mês de nascimento da neném. Depois, precisei ficar parada para cuidar dela e também para trabalhar”, disse.

 

Depois de conseguir matricular a filha em duas creches – uma pela manhã e outra durante a tarde -, Raquel voltou para a sala de aula e este ano ela vai tentar o vestibular para o curso de pedagogia. “Ter uma filha influenciou a minha escolha. E eu tenho um sobrinho que tem autismo, então o meu objetivo é fazer pedagogia e alguma especialização para trabalhar com crianças especiais. E isso vai me ajudar muito como mãe”, contou.

A ideia de levar a Rebeca para as aulas surgiu depois que o pai da criança, que costumava ficar com ela durante a noite, não pôde mais fazer companhia à filha. “No começo, o pai dela podia ficar com ela porque não tinha aula à noite, mas agora ele não pode mais. E a avó dela às vezes podia pegá-la também. Inicialmente, quando precisava levá-la um dia ou outro, não conversava com a coordenação, só levava ela mesmo, e todo mundo queria ficar com ela um pouquinho. Depois, quando comecei a levar direto, todos os dias, eles viram que não tinha jeito. Ela fica sentadinha no meu colo ou perto das meninas”, disse.

A rotina cansativa, para mãe e filha, não desanima a dupla. “A rotina dela é cansativa. Ela vai de manhã para a creche, à tarde para a outra creche e à noite para a aula comigo. Ela acorda às 6h e vai dormir às 23h. Já pensei em desistir várias vezes. Não é fácil. É por ela, é ela que me incentiva”, contou.

Xodó da turma
Elétrica e sorridente, a pequena acabou conquistando a simpatia da maioria da turma e também dos professores e coordenadores do curso. “Os professores e coordenadores gostam muito dela. Ela ficou super famosa lá (no curso), todo mundo conhece. Ela vai com todo mundo, brinca com todo mundo. Eles falam que ela é a mascote da turma”, garantiu. “A Rebeca é mais uma aluna nossa. Não é o xodó só da nossa turma, mas de todas. Sempre está com alguém, brincando, compartilhando a alegria dela”, confirmou o professor e coordenador do curso, Diego Matheus Rodrigues.

Mas, segundo Raquel, apesar de toda simpatia de Rebeca, alguns alunos não aprovaram a ideia de conviver com uma criança na sala de aula. “Algumas pessoas reclamaram, porque ela é uma criança de dois anos, então às vezes fala alto, grita, fica muito agitada. Não foi muito fácil. O coordenador veio conversar comigo e eu disse que não tinha jeito mesmo, que eu não tinha com quem deixar. Minha mãe mora muito longe, não tem como me ajudar com ela e a minha irmã acabou de ter neném. Aí comecei a trazê-la e agora ninguém reclama mais. Acho que todos se acostumaram com a presença dela”, comemorou.

Ajuda dos colegas
Para driblar a dificuldade, Raquel conta com a ajuda de colegas de turma. Ela contou que muitas vezes os alunos se dispõem a ficar um pouco com a Rebeca durante a aula, levando-a para fora da sala, ou desenhando com a menina, por exemplo. “As meninas me ajudam bastante, muita gente me ajuda. Às vezes a coordenadora fica lá fora com ela um pouquinho, ou algum aluno vê que ela está agitada e roda com ela para eu me concentrar melhor na aula. Alguém pega ela, dá um chocolate, dá uma bala, brinca, desenha com ela. Se não fosse pela ajuda das meninas, eu não teria continuado. Porque ela pede muita atenção”, disse.

A estudante Samara de Oliveira , de 21 anos, é uma das amigas que auxiliam Raquel. “Tem matérias que são mais importantes para a Raquel e não tanto para mim, aí eu saio com a Rebeca. Tem dia que atrapalha. É difícil ela ficar quietinha na sala, porque ela é pequena, então temos que trazer brinquedo, bala, coisas de comer”, explica.

Exemplo
Tanto para os amigos como para os professores de Raquel, a atitude da jovem é corajosa e digna de elogios. Para eles, levar a filha para a aula representa a força de vontade da mãe. “É a primeira vez que a gente acompanha um fato desse. Isso nos faz pensar o quanto a pessoa pode se dedicar e que maneiras ela encontra para que esse ingresso na universidade aconteça. A Raquel é uma das pessoas que, mesmo com dificuldade de tempo, horário, consegue driblar isso de alguma maneira”, destacou Diego.

Fonte: G1-Espírito Santo