CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Restrição calórica aumenta longevidade dos lêmures, diz estudo

Os animais foram incluídos no estudo quando eram adultos jovens, com apenas três anos.

Em 06/04/2018 Referência JCC - AFP

Lêmures-ratos que sobrevivem com menos calorias durante a vida adulta vivem mais do que seus pares, disse um estudo publicado nesta quinta-feira, alimentando o debate sobre dieta e longevidade.

Lêmures com restrição de calorias estavam fisicamente mais jovens na velhice e menos afetados por doenças como câncer ou diabetes, embora também tenham perdido massa cinzenta mais rapidamente, descobriu a pesquisa.

“Os resultados apresentados fornecem evidências de que a restrição calórica crônica moderada (30%), quando iniciada no início da vida adulta, pode prolongar a vida útil dos lêmures-ratos em 50%” em comparação com seus pares em cativeiro, disse um artigo publicado na revista científica Communications Biology.

A perda acelerada de massa cinzenta, um efeito colateral potencialmente preocupante, não teve nenhum impacto óbvio nas habilidades cognitivas dos animais, acrescentou a equipe de pesquisa francesa.

Já foi demonstrado que restringir a ingestão de calorias – reduzindo a quantidade de alimentos sem perder nutrientes essenciais – aumenta a expectativa de vida em espécies de vida curta, como ratos, e melhora a saúde geral de alguns animais.

No entanto, houve resultados contraditórios sobre se o corte de calorias aumenta a longevidade em macacos rhesus – animais de vida longa, com uma expectativa de vida média de 27 anos em cativeiro e 40 na natureza.

Um artigo de 2012, feito com base em 23 anos de estudos, concluiu que uma dieta com 30% de restrição calórica tornou os macacos mais saudáveis, mas não prolongou suas vidas.

Isso contradiz diretamente uma pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa de Primatas de Wisconsin, que descobriu que os macacos com restrição calórica viviam mais do que seus pares.

Ainda não há nenhuma conclusão sobre os benefícios potenciais para os humanos.

A equipe francesa procurou desenvolver a pesquisa observando os lêmures-ratos que, junto com os humanos e macacos, são membros da família dos primatas.

Em média, o primata malgaxe vive cerca de 5,7 anos em cativeiro e cerca de 12 anos em estado selvagem.

O estudo começou em 2006, com 15 animais que receberam uma dieta diária “padrão” composta de seis gramas de frutas frescas e 15 gramas de uma mistura de cereais, leite e ovos – um total de 25 quilocalorias.

Outros 19 lêmures foram alimentados com a mesma comida, mas 30% menos – 16 quilocalorias por dia.

Os animais foram incluídos no estudo quando eram adultos jovens, com apenas três anos.

Os cientistas descobriram que os lêmures com restrição calórica viviam em média 9,6 anos, em comparação com 6,4 anos para aqueles com a dieta padrão.

No final do estudo, todos os 15 lêmures de dieta padrão haviam morrido, enquanto sete lêmures com restrição calórica ainda estavam vivos.

Todos os sete chegaram à idade de 13 anos, “o que é muito além do tempo de vida máximo” registrado, segundo o estudo.

A perda de substância branca – tecido conectivo que permite que diferentes regiões do cérebro se comuniquem – foi retardada nos lêmures com restrição de calorias, segundo os pesquisadores.

Mas a perda de massa cinzenta – a camada externa enrugada do cérebro, que abriga os processos de aprendizagem e memória, função motora, habilidades sociais, linguagem e resolução de problemas – foi acelerada.

Isso apontou para “um potencial impacto negativo da restrição calórica na integridade cerebral, que merece mais investigação”, disse a equipe.

Foto: (afp_tickers)