POLÍTICA NACIONAL

Em menos de 24 h, Temer publica 3 vídeos nas redes sociais

Governo e oposição aproveitarão fim de semana para buscar mais votos.

Em 29/07/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Após liberar bilhões de reais em emendas e distribuir cargos a aliados políticos, o presidente Michel Temer recorreu às redes sociais nos dias que antecedem a votação, no plenário da Câmara, da denúncia por corrupção passiva. Nos últimos dois dias, Temer já publicou três vídeos na internet para destacar dados positivos de seu governo.

A estratégia de propaganda virtual foi intensificada na semana em que o o Ibope divulgou pesquisa que aponta o governo Temer como o mais impopular da série histórica do instituto, que teve início em 1986. Segundo o Ibope, apenas 5% dos entrevistados pelo instituto avaliaram a gestão do peemedebista como ótima ou boa.

Em um esforço para tentar reverter sua baixíssima popularidade e atrair mais votos na Câmara, Michel Temer disparou três vídeos na web em menos de 24 horas.

Nas últimas semanas, ele já vinha utilizando as redes sociais para tentar se comunicar com os internautas, mas, até então, os pronunciamentos presidenciais na rede mundial vinham se limitando a um vídeo publicado geralmente às sextas-feiras com uma espécie de balanço da semana.

Nesta semana, com o desgaste dos números do Ibope e a iminência da votação da denúncia na Câmara, a comunicação do governo decidiu fatiar em vários vídeos a fala do presidente, que, em todas as gravações, usa a mesma roupa – um suéter azul claro sobre uma camisa azul e branca xadrez – em um mesmo cenário, que tem as bandeiras do Brasil e da República ao fundo.

O mais recente vídeo de Temer – publicado na manhã deste sábado (29) no Twitter e no Facebook – é um pronunciamento, em tom de propaganda de governo, no qual o presidente enaltece a queda da inflação e dos juros e destaca o crescimento da produção industrial.

"O governo está melhorando a economia. A inflação baixou no mês de junho. Nos últimos 12 meses, está em 3,5%, contra mais de 10% quando assumi a Presidência em maio do ano passado. Outra boa notícia é que, pela primeira vez, em quatro anos a taxa básica de juros está abaixo de dois dígitos", afirmou Temer em trecho do pronunciamento publicado nas redes sociais.

Na véspera, a equipe de comunicação de Temer já havia publicado outros dois vídeos. Em um deles, o peemedebista também destacava a redução do desemprego no país e anunciava que, em agosto, o governo vai pagar a primeira parcela do 13º do salário dos aposentados e pensionistas do INSS. A outra metade será paga em novembro, informou o presidente.

Nesta sexta, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o desemprego no país ficou em 13% no trimestre encerrado em junho. Segundo o levantamento, o Brasil tinha 13,5 milhões de desempregados.

“É o trabalho do meu governo para gerar empregos que começa a dar resultados, e, acreditem, é apenas o começo”, disse o presidente.

Na outra gravação publicada na sexta-feira, Michel Temer falou sobre a decisão de autorizar o uso das Forças Armadas nas ruas do Rio de Janeiro. Ele explicou no vídeo que a medida tem o objetivo de “defender a integridade da população, preservar a ordem pública e garantir o funcionamento das instituições”

O presidente assinou decreto que deu aval para a atuação das Forças Armadas na segurança pública do Rio até 31 de dezembro de 2017. O decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) foi publicado nesta sexta (28) em edição extraordinária do "Diário Oficial da União".

Denúncia na Câmara

Na quarta-feira (2), dia seguinte à retomada das atividades parlamentares, os deputados federais devem analisar em plenário a denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

O chefe do Ministério Público acusa o presidente da República, com base na delação premiada dos executivos da holding J&F – dona do frigorífico JBS –, de ter sido o beneficiário final de uma propina de R$ 500 mil paga pelo grupo empresarial ao ex-deputado e ex-assessor especial da Presidência Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).

Em abril, Rocha Loures foi filmado pela Polícia Federal saindo de um restaurante, em São Paulo, com uma mala contendo meio milhão de reais.

Segundo a PGR, o dinheiro destinava-se a Michel Temer e era parte de propina paga pela JBS para que a empresa fosse favorecida, por influência do governo, no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em um processo para reduzir preço do gás fornecido pela Petrobras a uma termelétrica da empresa.

Planalto x oposição

A aproximação da análise da denúncia no plenário da Câmara intensificará as reuniões e articulações políticas na capital federal, tanto por parte do governo quanto da oposição.

Temer, ministros e parlamentares aliados pretendem afinar neste domingo (30), em um encontro no Palácio do Jaburu, a estratégia política para barrar o prosseguimento da acusação de Janot para o Supremo Tribunal Federal.

Segundo o G1 apurou, o Planalto concentrará as articulações em deputados de PSDB, DEM e PSB. Levantamentos internos do governo indicam a possibilidade de parlamentares dessas três legendas aliadas se posicionarem a favor da denúncia contra Temer.

Especialista do Planalto em monitoramento de tendências do Congresso, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, tem analisado os "mapas" apresentados por diferentes deputados e comparado com os próprios levantamentos do palácio.

Já a oposição – que nos bastidores admite não ter 342 votos para assegurar a continuidade da denúncia – pretende, pelo menos, desgastar ainda mais a já combalida imagem de Temer. A tática oposicionista será não registrar a presença em plenário na sessão de quarta para tentar forçar o adiamento da votação.

Na terça (1º), véspera da votação, líderes da oposição irão se reunir na Câmara para definir os últimos detalhes da tática de guerrilha oposicionista com o uso de todos os dispositivos previstos no regimento interno da Câmara para atrasar a votação, o chamado "kit obstrução".

O objetivo dos oposicionistas é "sangrar" o presidente da República, segundo um parlamentar que pediu para não ser identificado.

Cerimônias no Planalto

A tentativa de impor uma agenda positiva em meio à aproximação da análise da denúncia de Janot na Câmara levou o governo a organizar eventos peculiares nas últimas duas semanas no Palácio do Planalto.

No dia 20, Temer reuniu ministros e congressistas em um dos salões da sede do Executivo para anunciar R$ 344 milhões para programas de saúde bucal do SUS. No entanto, o dinheiro já fazia parte do orçamento do Ministério da Saúde, que remanejou recursos internos para aplicar em ações de atendimento odontológico.

E na última quinta (27) o governo organizou uma solenidade no Palácio do Planalto, com a presença de centenas de aliados, para "anunciar a assinatura", no dia seguinte, dos contratos de concessão dos aeroportos de Porto Alegre, Florianópolis, Fortaleza e Salvador. Os leilões que concederam à iniciativa privada a exploração dos quatros terminais aeroportuários haviam ocorrido em março.

Inicialmente, o governo tentou antecipar para quinta-feira a assinatura dos contratos de concessões dos aeroportos, porém, como o edital previa a oficialização somente nesta sexta-feira, Temer teve de se conformar em fazer uma cerimônia simplesmente para anunciar que assinaria, no outro dia, os termos que autorizaram grupos estrangeiros a administrar os terminais.