POLÍTICA NACIONAL

Planalto tenta se afastar de crise causada por pedidos de prisão da PGR.

Essa foi a razão por trás da decisão de última hora do presidente interino.

Em 08/06/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

BRASÍLIA - Em meio ao turbilhão causado pelas informações de que a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros, do senador Romero Jucá, do ex-presidente José Sarney e do presidente afastado da Câmara, deputado Eduardo Cunha, o Palácio do Planalto tenta se isolar da crise e passar a ideia de que o governo interino de Michel Temer não será afetado.

“De uma certa forma é bom que o foco tenha saído do Planalto. A crise agora está lá do outro lado da rua”, afirmou uma fonte palaciana, negando que o presidente interino tenha conversado com Jucá, Renan ou Sarney. “O governo reagiu mostrando que não está parado”, disse.

Essa foi a razão por trás da decisão de última hora do presidente interino de participar de uma reunião de ministros sobre o andamento de questões sobre a Olimpíada do Rio. Temer chegou ao final, falou aos ministros por cinco minutos e anunciou que iria visitar o Parque Olímpico, no Rio de Janeiro, na semana que vem.

Ainda assim, a palavra que define o clima no Planalto é expectativa sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação aos pedidos da PGR e sobre o que mais poderá vir na esteira desses pedidos.

Mesmo que se tente vender a ideia de que o problema não está mais dentro do governo, já que Jucá e o outro ministro envolvido diretamente na tentativa de burlar a operação Lava Jato –Fabiano Silveira, da Transparência– já deixaram os cargos, fontes reconhecem que a situação é grave e não se sabe o que mais pode vir por aí.

“É claro que a situação é grave. Não afeta o governo, afeta o país, afeta a sociedade. Ninguém do governo está na lista. Mas como fica o país com um presidente do Senado preso, o presidente da Câmara preso”, disse uma alta fonte do Palácio do Planalto. Não se sabe, lembrou a fonte, o que embasou o pedido de prisão apresentado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

“São só as gravações? Tem mais coisas?”, disse.

A informação de que Janot pediu a prisão de membros da cúpula do PMDB foi divulgada na edição desta terça-feira do jornal O Globo. Procurados pela Reuters, nem o STF nem a PGR confirmaram o conteúdo do pedido. Os implicados, no entanto, manifestaram inconformismo com o episódio e criticaram a decisão do procurador. [nL1N18Z1ZR].

Oficialmente, o Planalto não se manifestou, e os ministros que chegaram a falar do assunto mantiveram uma distância regulamentar, evitando atrair a crise para o Planalto.

“Só quem pode responder é doutor Janot. Ele sabe por que fez o que fez. O que ele escreveu, o que ele pediu, ninguém sabe”, disse o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

 

PARALISIA

Existe uma preocupação de que a crise, especialmente se os mandados de prisão forem concedidos, cause uma nova paralisia no Congresso e afete a agenda do Planalto, mas uma das fontes do Planalto insiste que é possível continuar trabalhando.

“Mesmo que Renan saia, as votações vão continuar”, disse uma das fontes, afirmando não acreditar que o primeiro-vice-presidente, Jorge Vianna (PT-AC), vá querer “assumir o ônus” de paralisar as reformas econômicas, mesmo sendo da oposição.

Para mostrar que não está sendo afetado pela crise, Temer vai acelerar a agenda nesta e na próxima semana, inclusive com viagens pelo país. Nesta quarta-feira, receberá empresários trazidos pelo presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) para conversar sobre a retomada do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, e mudanças nas agências reguladoras.

O governo discute reforço financeiro e técnico para as agências, dando prioridade a funcionários de carreira para as diretorias.

Na quinta-feira, Temer recebe os governadores para tratar da dívida dos Estados. A intenção inicial era transformar a reunião no momento de anúncio de um acordo, mas ainda não houve acerto, especialmente em relação ao prazo de carência de dois anos pedido pelos governos estaduais.

Na próxima semana, o presidente interino fará suas duas primeiras viagens desde que assumiu o cargo. Além do Rio de Janeiro, na terça-feira, irá a Arapiraca (AL), para anunciar a renegociação da dívida de agricultores familiares, e Floresta (PE), onde visitará a obra de transposição do rio São Francisco.

Reuters