SAÚDE

Aeróbico em jejum não ajudaria a emagrecer e ainda faz mal

Professor afirma que não há diferença em termos de resultados.

Em 15/08/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

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Os adeptos do mundo fitness estão sempre buscando novos métodos capazes de melhorar o desempenho e potencializar resultados. E fazer exercícios aeróbicos em jejum é um desses modismos que rondam as academias de todo o país. Mas será que treinar sem comer é mesmo eficaz para a queima de gordura? Será que traz riscos à saúde? Para tirar as principais dúvidas sobre o polêmico assunto, conversamos com Paulo Gentil, professor de educação física, doutor em Ciência da Saúde e docente na Universidade Federal de Goiás, que tem acompanhado diversos estudos na área.

E Paulo Gentil é taxativo. Ele garante que não há a menor diferença entre a perda de peso obtida com um treino aeróbico realizado em jejum e um feito após a ingestão normal de alimentos.

- A diferença de queima de gordura entre comer um pão com manteiga ou não comer nada e fazer exercícios é insignificante. Se somarmos o benefício obtido depois de se passar 15h em jejum, sendo uma hora fazendo exercício, daria o equivalente a queimar 2,7g de gordura. Ou seja, todo esse sacrifício resultaria no equivalente a você queimar meia gota de azeite - afirmou.

Mas então de onde saiu a ideia de que colocar o corpo para trabalhar sem dar a ele os combustíveis necessários poderia otimizar os ganhos? Paulo Gentil explica a teoria que começou a ser amplamente difundida nos anos 90.

- Nosso corpo pode usar vários tipos de substratos como fontes energéticas, e a seleção deles depende do seu estado atual de combustíveis armazenados. Quando você passa uma noite sem comer, passa muito tempo sem entregar nenhum nutriente para o corpo, que começa a utilizar gordura como principal fonte de energia. Aí quando você acorda, esse é o estado em que seu corpo se encontra, utilizando mais gordura do que se tivesse em estado alimentar, o que é natural. Aí, pensando nisso, começaram a colocar as pessoas para fazer exercício de baixa intensidade, que já usaria uma quantidade boa de gordura normalmente, em jejum, para que a quantidade utilizada fosse maior do que a normal - explicou.

Mas não é bem assim que a coisa funciona. Segundo o professor Paulo Gentil, quando você fica sem comer durante a noite, não esvazia suas reservas energéticas totalmente, mas coloca o corpo em estado de alerta. Então, ele resgata o instinto de sobrevivência que é tentar preservar energia para as suas funções vitais. Ao obrigar seu corpo a fazer atividade física em jejum, é como se estivesse o alertando de que você está em período de alta privação. Ou seja, seu corpo começa a fazer ajustes metabólicos para se preservar dessa “agressão”, e um deles é tentar poupar a reserva de energia, que é a gordura, e se livrar de tecidos “desnecessários”, no caso, o músculo.

Resumindo, treinar em jejum não só não melhoraria os resultados, como poderia colocar seu corpo em estado metabólico desfavorável, deixando seu metabolismo mais lento por até 24 horas. Além disso, há o risco de o praticante do treino aeróbico em jejum apresentar tonteiras e até desmaiar durante a atividade, colocando-se em risco.

- Seu cérebro se alimenta do açúcar que está circulando no seu sangue. Se você diminui a oferta de carboidrato, seu corpo percebe que corre o risco de falha na nutrição do seu cérebro e desliga. É quando as pessoas desmaiam, ficam tontas, etc. É um risco que é totalmente injustificável e desnecessário - afirmou o professor.

Mas certamente há adeptos do aeróbico em jejum que vão dizer que estão tendo bons resultados treinando desta forma. Mas segundo Paulo Gentil, você não precisa correr riscos para chegar a eles.

- Claro que você obtém ganhos, mas se fizesse exercício alimentado iria ganhar a mesma coisa, ou até mais, e sem correr riscos. O exercício vai dar resultado, alimentado ou em jejum. Mas normalmente os resultados extraordinários obtidos com treinos em jejum só são possíveis com o uso de termogênicos ou até mesmo de esteroides anabolizantes. Essas substâncias anulariam os efeitos negativos da atividade em jejum, entre eles, o risco de redução no metabolismo e de catabolizar o músculo. O que seria bom, então? Uma boa dieta e um bom programa de exercícios intensos, como treino intervalado e musculação - orientou o professor.