SAÚDE

Mais Médicos leva tranquilidade ao interior do ES, relatam moradores.

"O médico está sempre aqui e isso dá conforto", diz morador de Pacotuba.

Em 18/09/2015 Referência JCC

O médico Carlos Manuel Delgado Perez saiu de Cuba em 2014 em direção ao Espírito Santo para atender mais de 2,4 mil moradores do distrito de Pacotuba, em Cachoeiro de Itapemirim, na região Sul do estado.

Ele é um dos 24 médicos do 'Mais Médicos' que atuam no município. O programa do governo federal completou dois anos em agosto e já rende elogios da população. O G1 conversou com profissionais e pacientes atendidos pelo programa em Linhares e Cachoeiro de Itapemirim.

O pastor Geilson Meireles mora em Pacotuba e conseguiu verificar melhorias na saúde pública após o reforço no número de médicos. "O médico está sempre aqui, em horário integral e isso nos dá um conforto, uma tranquilidade, em saber que a gente pode chegar a qualquer momento e ser atendido. Antes, tínhamos essa dificuldade. O projeto trouxe mais conforto e comodidade. Aproximando a comunidade da saúde, coisa que há um tempo atrás não tinha".

Geilson foi levar a filha para uma consulta com o médico Carlos Manuel. Segundo ele, a  jovem estava com febre e foi prontamente atendida. "Eu estava observando para a minha filha aqui, que a antes quando ela passava mal, a gente tinha que ir a uma distância tremenda para conseguir uma consulta, e hoje que ela está com uma febre, uma dor de garganta, viemos aqui, dentro de casa, parece uma clínica particular", falou.

Para o médico, o trabalho no posto de saúde é uma união de toda a equipe de enfermeiros e técnicos. "Não é só responsabilidade do médico, mas também da enfermeira, agente de saúde, farmacêutica, das meninas que trabalham na recepção, toda uma equipe unida, realizando um atendimento de qualidade para que a assistência médica fique de melhor qualidade", disse.

Carlos se formou em Cuba em 2010 e trabalhou na Venezuela. Ele contou que o trabalho no interior gera um maior aprendizado, porque é possível conviver com diversas culturas. "Eu trabalhei na Venezuela, mas era na cidade, cheguei aqui e comecei a trabalhar em um posto do interior. Eu gosto muito, porque é uma experiência nova, que me faz crescer como profissional. Aqui, também realizamos o atendimento aos quilombolas, aos ciganos, culturas diferentes das que eu conhecia".

No dia a dia, a maior dificuldade do profissional foi o novo idioma. "No início a maior dificuldade foi a língua, mas os medicamentos não porque são os mesmos, as terminologias médicas, muda muito pouco. A gente tambem aprende o nome de algumas doenças que trocam de nome para o português, mas foi só isso. A equipe é muito boa. Para ser feito um bom trabalho, tem que ser feito uma interação da equipe toda", completou Carlos.

Em algumas unidades de saúde de Cachoeiro receberam mais de um médico cubano. É o caso do bairro Jardim Itapemirim. No local, onde também são atendidos moradores de outros cinco bairros, Marileidys Navarro e Alberto Rene dividem os pacientes com mais um médico do município.

Marileidys chegou em Cachoeiro em fevereiro de 2014, mas já havia trabalhado por sete anos na Venezuela. Assim como outros médicos cubanos, o maior problema para ela foi o idioma. "Com o passar do tempo a gente foi se acostumando, e hoje os pacientes já entendem a gente direitinho. Esse é o principal objetivo da gente, que eles entendam. Fomos muito bem atendidos quando chegamos, eles eram carentes de médicos. Quando nós chegamos, eles agradeceram muito, porque veem muito a diferença", pontuou.

O objetivo, segundo Marileidys, é realizar um trabalho de prevenção. "O mesmo trabalho que a gente fazia lá, a gente faz aqui. O objetivo é fazer uso da medicina preventiva e ajudar o povo brasileiro a melhorar o sistema de saúde, para evitar as complicações do paciente doente", concluiu.

O colega de trabalho no posto de saúde, Alberto Rene, quer ficar no Brasil o tempo que for necessário para realizar um bom trabalho. "O paciente fala muito de nós. Estão muito contentes com o nosso atendimento, com nosso jeito de ser, fala que somos muito sensíveis, gostam muito do nosso atendimento", disse.

Pacientes
Maria das Graças Cavalini e Demerzide de Oliveira consultam no posto de Jardim Itapemirim. Elas avaliam uma mudança no atendimento dos médicos. "O atendimento antes era completamente diferente, agora melhor. Era muito mais difícil. Médico você só via na hora da consulta, você não tinha aquela liberdade de falar com o médico e tudo, igual hoje em dia. É completamente diferente. Eles perguntam, conversam, você tem um diálogo", afirmaram.

Ampliação no atendimento
De acordo com o secretário de Saúde de Cachoeiro de Itapemirim, Edison Fassarella, havia uma dificuldade em contratar médicos para o município. "Os secretários anteriores iam nas portas das faculdades de Medicina, quando iam recém-formados, pedindo pelo amor de Deus para eles virem trabalhar nas unidades, porque nós tínhamos dificuldade. Nossa cidade também tem uma renda per capita baixa, nós temos a dificuldade com os municípios vizinhos, que são litorâneos e tem os royalties do petróleo, e eles pagam o dobro ou muito mais que a gente", explicou.

Fassarella acredita que o cumprimento da carga horária de 8h por dia contribui para que o atendimento ocorra melhor nas unidades de saúde. "A gente sabe que os médicos brasileiros são bons, tem muita qualidade, mas eles têm a cultura de ter mais de um emprego, então eles ficam mais tempo na unidade. A gente percebe muito que o médico intercambista fica na unidade, quando ele anda na rua ele reconhece o paciente, ele abraça, ele vai almoçar na casa do paciente, o médico intercambista criou um vínculo muito grande de amizade com o paciente", concluiu.

Linhares
Em Linhares, na região Norte do Espírito Santo, foram enviados 12 médicos do programa, segundo a prefeitura do município. Nove são cubanos e quatro brasileiros. Arlei Brito dos Santos é do Mato Grosso do Sul e começou a trabalhar na unidade de saúde do bairro Aviso em 2014. "Eu vim para Linhares, não conhecia ninguém. Formei na Venezuela em 2013 e ingressei no programa junto com os intercambistas", disse.

Arlei contou que no começo do trabalho em Linhares a população acreditava que ela vinha de outro país e precisou ganhar a confiança dos pacientes. "A experiência está sendo boa. A estrutura oferecida também. Precisa melhorar muito a atenção primária, uma questão básica da saúde, mas o que nos cabe fazer, estamos fazendo. A expectativa também é boa. Com o passar do tempo, a gente vai ganhando confiança dos moradores", completou.

Proximidade
Uma característica comum aos médicos que realizam o atendimento no Programa de Saúde da Família é a abordagem mais próxima realizada com os pacientes. Muitos médicos tornam-se amigos dos moradores da região. Dona Maria das Graças é uma delas. "Ótimo atendimento, cuida muito bem de mim. Sente quando estou de baixo astral. Ela percebe antes, às vezes eu nem preciso consultar", elogiou a paciente.

Para a moradora do bairro Aviso, Regiane dos Santos, a atenção que recebe de Arlei é o que a destaca dos demais profissionais. "As consultas são boas, a médica é atenciosa. Demora um pouquinho, mas é atenciosa. É importante para gente. Eu nunca fui muito de consulta, mas essa médica está bem melhor do que a gente costumava ver antes", afirmou.

Eloa costumava frequentar o posto de saúde antes da chegada do "Mais Médicos" e notou a diferença no atendimento. "De todos os médicos que tivemos em Aviso, acho ela a mais atenciosa, ela é zelosa, muito profissional e tem esse lado dela como se fosse da família. Todo mundo que consulta com ela observa. Ela é uma médica diferente. Parece que ela tem outro padrão de consulta, como se tivesse uma harmonia junto com a medicina, uma humanização", disse Eloa Impagliazzo.

Já a Marta, que nunca tinha realizado uma consulta com uma profissional do "Mais Médicos" elogiou o primeiro contato. "Descobri a minha gravidez tem uma semana. Fiz a minha primeira consulta com a Arlei e gostei, foi legal. Ela me perguntou muitas coisas, mediu a minha pressão, pediu muitos exames", pontuou a jovem.

Aprendizado
Yamiley Duran Lopez saiu de Cuba junto com marido, também médico, para trabalhar em Linhares. Eles mudaram de vida e tiveram que se adaptar à nova cultura. Para Yamaley, o aprendizado tem sido constante. "A princípio foi um pouco difícil a questão do idioma, mas o atendimento foi igual. As doenças não iguais, as crônicas, as transmissíveis. Varia um pouco só o protocolo para tratamento, mas é tudo normal", afirmou.

A médica trabalha em uma unidade nova, inaugurada no bairro Três Barras. "Para mim foi muito bom, os pacientes gostaram. Eles ficavam temerosos porque éramos estrangeiros, mas depois de acostumavam. A gente tem equipamento, remédios", completou Yamiley.

Fonte: G1-ES