CIÊNCIA & TECNOLOGIA

10 avanços e 1 promessa da técnica que edita DNA

Pesquisadores conseguiram evitar doença cardíaca hereditária com o uso de Crispr.

Em 04/08/2017 Referência JCC / Carolina Dantas, G1

Nos cinco anos após a primeira publicação a respeito, a técnica de edição genética conhecida como Crispr permitiu alguns avanços importantes: eliminou o HIV e outras doenças em camundongos, foi usada em pesquisas contra o câncer em humanos, criou porcos mais resistentes.

A técnica é chamada de "revolução" por publicações de prestígio como a "Science". É revolucionária porque os cientistas podem "recortar" e mudar tudo o que desejam dentro do código genético, responsável por nossas características e doenças hereditárias, e de forma precisa e barata -- tão acessível que escolas dos EUA já receberam kits de Crispr para editar DNA dentro da sala de aula.

Essa facilidade trouxe, no entanto, um debate ético: até onde podemos mexer na genética dos seres vivos, resultado de bilhões de anos de evolução?

Em janeiro deste ano, a FDA, órgão dos Estados Unidos similiar à Anvisa no Brasil, publicou um texto nomeando as pesquisas em andamento liberadas: tratamento de HIV, câncer ou doenças raras; controle ou alteração de micro-organismos que causam doenças infecciosas, como vírus da zika e seus vetores; melhoria do bem-estar de animais produtores de alimentos, como a criação de resistência à doenças; e a alteração de traços específicos de plantas alimentares ou fungos.

Com isso, a criação de "humanos transgênicos" fica barrada nos Estados Unidos, e isso acaba servindo como referência também para o restante do mundo.

O G1 listou os 10 importantes avanços feitos pelos cientistas com o Crispr:

1. Cura de condição hereditária

Nesta quarta-feira (2), a revista "Nature" mostrou que pela primeira vez os cientistas conseguiram modificar genes defeituosos em embriões humanos e evitar uma condição cardíaca hereditária. A pesquisa gerou embriões saudáveis, que sem a edição genética teriam desenvolvido a cardiomiopatia miotrófica -- doença que dificulta o bombeamento do sangue pelo coração.

2. HIV em animais

Em abril de 2016, o periódico "Cell Reports" avaliou que a técnica precisava de ajustes para evitar a ação do vírus da Aids, com sua alta capacidade de mutação. Mais de um ano depois, em maio de 2017, a revista “Molecular Therapy” publicou que cientistas da Universidade Temple, na Filadélfia, conseguiram editar o código e evitar que o vírus continuasse a se replicar em animais. Os cientistas trabalham para aplicar a técnica em humanos e, quem sabe, achar a cura do HIV.

3. Câncer em humanos

Em outubro de 2016, os chineses injetaram pela primeira vez em seres humanos genes editados com o Crispr. Um time da Universidade de Sichuan inseriu as células modificadas em um paciente com um tipo agressivo de câncer de pulmão -- uma proteína foi desativada com a ajuda do recorte do DNA, justamente a que é usada para a proliferação do câncer.

4. Diabetes em camundongos

Pesquisadores da Universidade de Chicago fizeram um enxerto de pele em camundongos para secretar o hormônio regulador de glicose no sangue. De acordo com o artigo, o mecanismo conseguiu equilibrar os níveis de glicose no sangue dos roedores durante quatro meses e reverteram a resistência à insulina. O estudo foi publicado nesta quinta-feira (3), na revista "Cell Stem Cell".

5. Órgãos humanos

Nos Estados Unidos, cientistas criaram órgãos humanos em porcos para a realização de transplantes. Isso ocorre em duas etapas: primeiro, os especialistas removem o gene de um embrião de suíno recém-fertilizado e que levaria ao desenvolvimento do pâncreas. Depois, as células-tronco humanas são injetadas dentro do embrião do animal. Com isso, o órgão humano se desenvolve dentro do porco e depois pode ser retirado para uma possível cirurgia.

6. Edição do RNA

Vale lembrar das aulas da escola: o RNA é o material genético responsável pela transmissão de "informações" entre o DNA e o maquinário produtor de proteínas dentro das células. Um estudo publicado pela revista "Science" anunciou uma forma de editá-lo. Com isso, os cientistas podem ajudar no tratamento de doenças como o mal de Huntington -- que causa a degeneração das células nervosas do cérebro -- até problemas cardíacos. Além disso, alguns vírus têm apenas RNA, como o zika.

7. Porcos resistentes

O vírus da síndrome reprodutiva e respiratória suína (PRRS) custa US$ 1,6 bilhão aos criadores de porcos europeus. Os cientistas conseguiram criar porcos resistentes à infecção dos dois subtipos principais, de acordo com artigo da revista "PLOS Pathogens". O estudo foi feito pelo Instituto Roslin da Universidade de Edimburgo.

8. Fim da mutação da CGD

Em janeiro deste ano, Suk See De Ravin e colegas corrigiram uma mutação da doença de imunodeficiência rara - a doença granulomatosa crônica (CGD, sigla em inglês). A condição é causada por defeitos na proteína NOX2, molécula chave do sistema imunológico. Os pesquisadores repararam a mutação em células de pacientes e as implantaram em camundongos, o que não causou efeitos colaterais.

9. Correção de distrofia muscular

Um camundongo teve a distrofia muscular Duchenne tratada com a ajuda do Crispr -- a mutação gênica foi corrigida. A pesquisa foi feita pela Universidade Duke. A doença afeta um em cada 5 mil homens recém-nascidos.

10. Contra a Hemofilia B

A Universidade da Pensilvânia, em novembro de 2016, publicou um artigo em que diz que conseguiu evitar a hemofilia B em camundongos recém-nascidos e adultos. A doença é causada pela falta ou defeito de uma proteína de coagulação. "Basicamente curamos os camundongos", disse o autor do estudo, Lili Wang.

Uma promessa

Os cientistas querem ressuscitar uma espécie extinta. Eles pretendem reviver parte do mamute-lanoso (Mammuthus primigenius), que desapareceu da Terra há milhares de anos. George Church, líder do projeto, disse em reunião da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, em inglês) que a sua equipe na Universidade de Harvard deverá criar um embrião híbrido de mamute e elefante em até dois anos.

A criatura que poderá ser criada, chamada algumas vezes de "mamufante", seria parte elefante -- com orelhas, gordura subcutânea, cabelos longos e desgrenhados, sangue adaptado ao frio -- e parte mamute. Os genes dos antigos animais seriam mesclados aos do elefante usando o Crispr.