ESPORTE NACIONAL

Aidar e Ataíde são expulsos do Conselho Deliberativo do São Paulo.

Ex-presidente foi julgado por corrupção; já o agora ex-diretor, segundo Comissão de Ética, tentou assassinar Aidar

Em 26/04/2016 Referência JCC

O ex-presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, e o agora ex-diretor de relações institucionais, Ataíde Gil Guerreiro, foram expulsos do Conselho Deliberativo do clube nesta segunda-feira à noite. Em reunião extraordinária realizada no Salão Nobre do Morumbi, os dois foram excluídos pelo Comitê de Ética do Clube, que após ampla investigação, divulgou sua decisão em um relatório de 16 páginas. Os dois podem recorrer à Justiça, mas Ataíde Gil Guerreiro já adiantou que vai respeitar a decisão. Ambos não são mais conselheiros vitalícios, mas seguem associados ao clube.

No total, 178 conselheiros estiveram presentes na reunião. No caso de Aidar, 142 votaram pela expulsão e 36 foram contrários. Em relação a Ataíde, 120 optaram pela exclusão, 56 não concordaram com o parecer e dois não votaram.  Aidar, que saiu rindo muito do salão nobre, não quis conversa com a imprensa, enquanto Ataíde Gil Guerreiro lamentou a atuação do Comitê de Ética do Clube.

– Desde o início, estava claro que o presidente do Comitê de Ética estava querendo aparecer, não tem outra explicação. Ele escreveu no relatório que houve uma tentativa de homicídio contra o Carlos Miguel. Isso é um absurdo. Estava tão confiante que nem me preocupei em fazer política com os conselheiros.  É lamentável que uma tentativa de agressão tenha o mesmo peso de todas as desonestidades praticadas pelo ex-presidente – disse Ataíde, que vai pedir demissão do cargo de diretor de relações institucionais nesta terça-feira.

A negociação de Iago Maidana, a transferência fracassada de Rodrigo Caio e comissões pagas a empresa TML Foco no contrato com a Under Armour, fornecedora de material esportivo, são motivos de acusação a Aidar. 

Já Ataíde foi julgado porque agrediu Aidar durante reunião em um restaurante de São Paulo, no ano passado, revoltado, segundo ele, com as irregularidades cometidas pelo ex-presidente. Na ocasião, ele era vice-presidente de futebol.

TENTATIVA DE HOMICÍDIO

A reunião do Conselho começou com a leitura do parecer do Comitê de Ética do Clube, que durante 60 dias, investigou denúncias de desvio de dinheiro e danos aos cofres do São Paulo durante a gestão Carlos Miguel Aidar, de abril de 2014 a outubro de 2015. As denúncias foram feitas por Ataíde. O comitê também apurava a agressão de Ataíde Gil Guerreiro em Carlos Miguel Aidar - o relatório apontou que Ataíde Gil Guerreiro teria tentando matar Carlos Miguel Aidar durante a discussão ocorrida no hotel Radisson no dia 5 de outubro do ano passsado. Só que o relatório foi bem mais amplo do que isso e trouxe novos fatos.

No caso de Ataíde Gil Guerreiro, o presidente do Comitê de Ética, José Carlos Ópice Blum, afirmou ter recebido um documento que mostra que Guerreiro teria recebido uma comissão de R$ 100 mil pela indicação dos serviços do advogado José Roberto Cortez, que presta serviços ao São Paulo, a outros clubes do futebol brasileiro. A ideia teria partido do então presidente Carlos Miguel Aidar. Em seu depoimento, Ataíde disse que a situação é totalmente diferente. Aidar sugeriu que se cobrasse R$ 100 mil de cada clube e que Ataíde dividisse a comissão com Cinira Maturana, namorada de Aidar. Ataíde não gostou da ideia. Meses depois, ele foi questionado pelo então presidente Leco que o mesmo advogado estaria cobrando R$ 8 milhões do São Paulo por serviços prestados.

- É mais uma coisa ilícita que ele fez. Para os outros clubes, se cobrava R$ 100 mil. Para o São Paulo, R$ 8 milhões - disse Ataíde. 

Na época, Cortez foi contratado para cuidar das questões de impostos atrasados do clube, função que era feita gratuitamente por Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. Cortez cobra do São Paulo a quantia de R$ 8 milhões por serviços prestados, dos quais já recebeu praticamente a metade. O São Paulo tenta se livrar desse pagamento.

No caso de Carlos Miguel Aidar, o fato novo é que foi revelado que a namorada do ex-presidente, Cinira Maturana, esteve envolvida na venda fracassada de Rodrigo Caio para o futebol espanhol. Ela é acusada de participar de várias outras negociações, como por exemplo do acordo de fornecimento de material esportivo com a Under Armour, que provocou enorme polêmica dentro do clube.

Depois da leitura do parecer, que durou aproximadamente uma hora, o Comitê de Ética sugeriu as cassações dos mandatos de conselheiros vitalícios dos dois envolvidos. Na sequência, cada um teve 20 minutos para se defender. Enquanto Ataíde Gil Guerreiro foi passional e partiu para o ataque contra Carlos Miguel Aidar, o ex-presidente foi frio e, com muita calma, explicou o envolvimento de Cortez com o São Paulo e a presença da namorada na negociação de Rodrigo Caio.

Gritando várias vezes e falando palavrões, Ataíde chamou Aidar de bandido, mau-caráter e safado, entre outros xingamentos. Contou que tinha total confiança no ex-presidente até receber uma proposta para dividir comissão pela contratação de um jogador da Portuguesa. Relatou a história do dia da suposta agressão, confirmou que pegou Carlos Miguel pelo pescoço e diz que teve vontade de matar o desafeto.

– Meu único arrependimento nessa história toda é não tê-lo agredido. Peguei o teu pescoço e tinha vontade de te matar. Não sou sem vergonha que nem você. No caso do Iago Maidana, ele não deixou chegar no (departamento de) futebol, fez tudo sozinho. E, para piorar, colocou o (José Eduardo) Chimello (ex-gerente de futebol) na história. Olha o naipe das pessoas que ele colocou no São Paulo. É outro sem vergonha, já que falou que não teve nenhum envolvimento com a contratação do jogador – afirmou Ataíde.

Aidar disse que a contratação de Cortez foi um serviço ao clube, já que o São Paulo estava com muitos problemas pelo atraso de PIS e COFINS e estava perto de ser punido em última instância, com obrigação de pagar uma multa altíssima. Revelou ainda que contratou Cortez por ter estudado com ele e ser seu amigo.

– Amigo trabalha de graça para amigo. Para empresa não – justificou o ex-dirigente.

Na sequência, Aidar falou sobre Cinira Maturana ter envolvimento na tentativa de venda de Rodrigo Caio a clubes espanhóis.

– Ela estava na Espanha de férias para comemorar o aniversário do filho – ressaltou Aidar, que depois admitiu que pediu a Cinira para que fosse encontrar a comitiva da negociação de Rodrigo Caio em Barcelona e depois em Madri.

Após um intervalo de dez minutos, iniciou-se a votação e depois foi realizada a apuração que determinou a expulsão da dupla do quadro de conselheiros vitalícios do clube.

Fonte:GE