EDUCAÇÃO

Arte leva presos ao sonho de liberdade

Ao todo, 15 detentos do complexo em Vila Velha fazem parte de projeto.

Em 20/10/2014 Referência JCC

Quem chega à Penitenciária Estadual II de Vila Velha (ES), no Complexo do Xuri, na Grande Vitória, não  imagina que os quadros que ficam na recepção são obras de arte que nasceram na unidade prisional. Preso por tráfico de drogas em 2011, Vinícius Lima é um dos detentos que descobriu o talento na prisão. Ele faz parte do 'Eu Faço Arte', projeto iniciado em 2011, que conta com a participação de 15 detentos.

Em uma sala reservada na penitenciária, os presos usam materiais recicláveis do próprio presídio para construir obras de arte. Palitos de picolé se transformam em barcos; e páginas de jornais, revistas e marmitas viram esculturas. Nas aulas, eles aprendem as técnicas e podem ensinar uns aos outros.

De acordo com o secretário estadual de Justiça, Eugênio Coutinho Ricas, o projeto nasceu de uma vontade dos próprios detentos. "Partiu deles, a gente deu a estrutura e de 2011 até agora está sendo sustentado pela Secretaria de Justiça. Os próprios presos começaram a gerir e a ensinar uns aos outros. O Vinícius é um dos que identificamos ter um talento natural. Ele pinta os próprios quadros, mas também ensina os outros", afirmou.

Ainda segundo o secretário, "Eu Faço Arte" será replicado em outros presídios. "A nossa ideia é começar a espalhar para todas as 35 unidades prisionais. Não vai ser de imediato. A gente vai começar a partir desse mês, selecionando os locais. Isso ja está expandindo", concluiu.

Nas paredes dos corredores da penitenciária, as telas pintadas por Vinícius dão vida ao lugar. Como a maior parte dos que participam do projeto, ele aprendeu as técnicas dentro da unidade. "Não é algo que a gente faz obrigado. A gente vai desenvolvendo aqui e geralmente vai recebendo a aprovação da administração e vamos evoluindo nossos trabalhos. Teve uma mudança grande, porque a gente aprende a trabalhar em coletividade, e também é um tempo que a gente acaba saindo um pouco desse cotidiano que é ficar trancado o dia inteiro, e tem um procedimento a cumprir, essas coisas todas", explicou.

Evaldo Nunes tem 56 anos e há sete, cumpre pena. Ele trabalha com barbantes fazendo tapetes, toalhas, centro de mesa, e pinturas em caixas. O detento lembra que o projeto é uma forma de reduzir a pena - a cada três dias no projeto, é um a menos na unidade.

"Aprendi tudo aqui dentro, de artista eu não tinha nada. Um dos meus projetos é repassar todo esse conhecimento para pessoas lá fora que dependem de melhorar a renda familiar ou uma coisa assim. Na minha comunidade, existem pessoas muito carentes, então meu projeto é passar esses meus conhecimentos para fazer com que as pessoas da minha área consigam melhorar o rendimento familiar", afirmou.

Além do aprendizado, a iniciativa ainda permite que eles tenham uma mudança de vida. "Completamente mudado. Vai melhorar o trabalho em conjunto, antes eu não tinha esse negócio de trabalhar em conjunto, trabalhar em equipe, essas coisas assim. Eu pretendo levar isso para minha comunidade, porque lá é carente e não tem nada disso", disse Benedito Florencio, de 38 anos.

 

O resultado do trabalho é exposto na unidade ou quando há a oportunidade de ser levado para alguma feira ou galeria. O secretário estadual de Justiça Eugênio Coutinho Reis explicou que as famílias dos detentos são as responsáveis pela venda dos materiais. "A gente só facilita o contato, a família pode fazer o que quiser com o trabalho. Teve quadro que já foi vendido a R$5 mil", explicou.

Fonte: G1-Espírito Santo