CIDADE

Bairros da Grande Vitória (ES) podem ficar até 48 horas sem água.

Racionamento é um dia por região, mas algumas podem ficar dois dias.

Em 21/09/2016 Referência JCC

O racionamento de água proposto pela Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) é de um dia por região, mas algumas localidades da Grande Vitória podem ficar sem água por até dois dias. Esse é o tempo que o sistema pode levar para voltar à normalidade.

Isto acontece, explicou Amadeu Wetler, diretor de engenharia e meio ambiente da Cesan, após as ocorrências de interrupção do abastecimento. “O retorno da passagem de água pela rede, após a suspensão, não ocorre de forma imediata e depende do equilíbrio de pressão”, disse.

Para alguns bairros o retorno do abastecimento será quase imediato, e este tempo irá aumentando gradativamente para outros. Na situação limite chegará a 24 horas, o que totalizará dois dias sem água.

O problema deve ocorrer, principalmente, no bairros ou localidades situadas nas pontas de rede (não foram divulgados) ou nas áreas mais altas da cidade.

Racionamento
Agência de Regulação de Serviços Públicos (ARSP) do Espírito Santo autorizou o plano de contingência que prevê o racionamento de água na Grande Vitória, elaborado pela Cesan e entregue nesta segunda-feira (19). A medida já começa às 12h desta quinta-feira (22).

Essa é a primeira vez, na história do Espírito Santo, que a Grande Vitória passa por racionamento de água.

As áreas atingidas foram divididas em sete regiões, cada uma com pelo menos 33 bairros nos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Viana e o bairro Praia Grande, em Fundão. São 431 bairros no total.

Pressão
Wetler voltou a afirmar que não será adotado a redução de pressão na rede, o que faria com que a água chegasse mais fraca ou mais lentamente em alguns pontos. “Por isto decidimos optar pelo rodízio, para evitar que alguns bairros fossem prejudicados”, destacou.

O rodízio também não causará, na avaliação dele, um outro fator de preocupação para os consumidores: a presença de ar na rede.

Segundo o diretor, isto poderia ocorrer se houvesse restrição na vazão e representaria também um problema para a rede da companhia.

“Quando a vazão cai, o volume de água distribuída é menor e acaba permitindo a entrada de ar na rede. Mas com o rodízio não haverá restrição na vazão”, explicou.

A Cesan não recomenda aos usuários a acumulação de água em novos reservatórios. Há riscos para a saúde, apontam, como a geração de focos de mosquito.

Por outro lado, destaca Wetler, a maior parte das moradias e comércios já contam com reservatórios que, sendo bem utilizados, podem garantir água para seus moradores por 24 horas. “O momento é de economia e solidariedade”.

Consumo
Para o professor do departamento de Engenharia Ambiental da Ufes, Ricardo Franci, o consumo varia de acordo com a renda dos bairros.

"Tudo que dói no bolso afeta o consumo. Observei isso quando realizei um estudo sobre o consumo de água na Grande Vitória. Em bairros nobres como Praia do Canto, o consumo diário de cada morador era de 220 litros, alguns chegavam a 550. Já em Terra Vermelha, era de 80 litros por pessoa", disse.

Franci afirmou que em locais mais pobres as pessoas economizam mais porque qualquer gasto pesa no orçamento.

"Já nos bairros nobres, a conta de água é uma das últimas coisas com que elas se preocupam. O decreto de racionamento é importante, mas nós só vamos conseguir diminuir o consumo se conciliarmos educação ambiental com tecnologia. As concessionárias têm que investir em tecnologia para aumentar a eficiência do abastecimento de água, hoje em dia perde-se muito. Além disso, precisamos rever nossos hábitos, como o de tomar vários banhos longos por dia. Pequenos detalhes fazem muita diferença”, completou.

Força-tarefa de conscientização
O engenheiro florestal e professor de Recursos Naturais da Ufes, Luiz Fernando Schettino, pontua que não há outra saída a não ser o racionamento.

"No momento, precisamos de uma força-tarefa de cada segmento para conscientizar as pessoas, apresentar estratégias para economizar. Não vai adiantar nada se as pessoas começarem a armazenar água para usar no dia que ficarão sem, porque isso não é economia", pontuou.

Mudanças
O cabeleireiro Hélio Pereira da Silva contou que a mudança de hábitos quanto ao consumo de água já é rotina em seu salão.

“Para lavar calçada e banheiro, uso água da mangueira do ar-condicionado. Já estou pedindo para as clientes virem com o cabelo lavado e tirarem a tintura em casa”, disse.

Dono de um lava a jato em Bento Ferreira, Marcos Ribeiro optou por perfurar um poço artesiano para usar a água na lavagem dos carros.

“A lavagem dos veículos é feita com água retirada de um poço artesiano. Além disso, temos lavagem a seco. Custa o mesmo valor do serviço tradicional, com água”, disse.

Fonte: g1-ES