POLÍTICA INTERNACIONAL

Brexit deve provocar refundação da Europa, diz chefe da diplomacia vaticana.

Esperamos que os objetivos do conjunto do projeto europeu possam ser protegidos.

Em 02/07/2016 Referência JCC

O terremoto provocado pelo Brexit deve levar a uma "refundação" da Europa, afirma o monsenhor Paul Richard Gallagher, arcebispo britânico e chefe da diplomacia vaticana, em entrevista à AFP, na qual também fala das relações com a ONU e com a África.

P: Como a Santa Sé e o Papa querem acompanhar o terremoto provocado pelo Brexit?

R: Evidentemente, a Santa Sé respeita completamente as decisões do povo do Reino Unido. Também é certo que a Santa Sé encorajou o projeto europeu desde os primeiros dias de sua criação.

Esperamos que os objetivos do conjunto do projeto europeu possam ser protegidos, preservados e inclusive reforçados. O Papa acredita que é necessária uma refundação da Europa, assim como uma reafirmação de seus valores e objetivos tradicionais. Trata-se de um convite para que os líderes europeus se escutem com mais atenção para que as preocupações de seus povos se reflitam nas decisões em nível europeu.

P: Como a diplomacia vaticana se entende com a ONU, quando o Papa a acusa de avalizar as "colonizações ideológicas" dos países ricos sobre os pobres, da contracepção aos direitos dos homossexuais?

R: O Papa deseja uma diplomacia que situe a pessoa no centro, uma diplomacia autenticamente evangélica. Deseja que a Igreja não apenas se interesse pelo que é feito em nível governamental, mas também no seio dos países, entre as pessoas.

Em relação à ONU, ainda há temas nos quais a Santa Sé está em desacordo, mas também existe uma determinação por parte da Santa Sé em ressaltar os pontos positivos e encorajá-los, mais que se concentrar excessivamente nas questões nas quais tem o dever de mostrar reservas.

O Ocidente exporta suas receitas como se sempre fossem as boas. E apenas quando se tem um profundo respeito pelas culturas e crenças é possível manter uma relação saudável. Impor as coisas pode dar resultados muito negativos.

Diante da imigração convém encorajar as comunidades, as conferências episcopais e os governos locais para darem uma resposta generosa e integralmente humana.

P: A Igreja tem uma grande influência na África, mas é suficientemente enérgica diante da manipulação de eleições, corrupção e tensões tribais?

R: A diplomacia da Santa Sé tenta encorajar os governos na África a serem bons governos. Onde há corrupção, com frequência também há o efeito da ação dos que corrompem a partir do exterior.

Um os desafios da África é a fidelidade às constituições dos países. Com frequência os conflitos explodem porque os dirigentes não parecem querer seguir estes princípios reconhecidos.

Se a Igreja é exigente em relação aos líderes políticos, também deve dar exemplo. No seio da Igreja devemos ser muito claros sobre nossa identidade. Somos membros da Igreja independentemente de nossa raça e nossa tribo.

Por outro lado, também observamos um fenômeno de tribalismo na maioria dos países ocidentais. Simplesmente é mais sutil. Tendemos a classificar as pessoas em pequenas caixas. Temos que lutar contra qualquer identidade tribal, também no seio da Igreja.

AFP