MOTOR

Carro elétrico brasileiro sairá do papel após "vaquinha virtual"

PodCycle fará turnê pelo Brasil em 2016 e mira economia compartilhada.

Em 04/12/2015 Referência JCC

Depois de 3 anos de estudo e uma campanha de financiamento coletivo que quase “bateu na trave”, um grupo de engenheiros e empreendedores brasileiros conseguiu R$ 75 mil para construir um carro urbano totalmente elétrico para 2 pessoas, em uma plataforma própria.

O primeiro PodCycle terá motor elétrico de 50 kW, o equivalente a cerca de 68 cavalos de potência, que empurrarão o carro a no máximo 100 km/h. Com uma carga na bateria 96V de lítio ele poderá rodar até 100 quilômetros.

O pequeno elétrico brasileiro pesará apenas 650 kg e terá apenas 2,6 metros de comprimento. Mesmo com dimensões reduzidas, será possível levar bagagem razoável no porta-malas de 200 litros.

A iniciativa é de um grupo de pelo menos 19 pessoas de diferentes áreas, que trabalham de forma colaborativa desde uma competição de mecânica na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis (SC).

Chassis modular do PodCycle permite produção em baixa escala e diferentes tipos de carroceria (Foto: Divulgação/Signia Digital)
(Foto: Divulgação/Signia Digital)

Financiamento coletivo
Depois de muito estudo, a ideia precisava de investimento para “pegar no tranco”. Sem muito interesse de grandes empresas, a saída foi lançar uma campanha de “crowdfunding” – a “vaquinha” virtual - para captar R$ 68 mil e finalizar o primeiro protótipo.

Faltando apenas 2 dias para o final do prazo, o valor foi atingido, graças ao apoio de 345 pessoas, que receberão recompensas que vão desde um chaveiro até uma voltinha no carro durante a turnê de demonstração em 2016.

Quase metade dos quase R$ 75 mil arrecadados irá para a construção do chassis e da carroceria, enquanto 18% será consumido pelo alto valor da bateria. A expectativa é fazer os testes finais em maio e colocar o carro para experimentação em julho.

PodCycle Ficha (Foto: Divulgação/Signia Digital)

Mais mobilidade
O PodCycle é muito mais focado em mobilidade do que no carro como produto de consumo, como explica o engenheiro mecânico Mahatma Marostica, de 31 anos. “Veículos elétricos são mais simples de produzir do que os a combustão. É uma tecnologia que vai migrar para as grandes montadoras, mas elas ainda vão demorar por causa do tamanho. A tecnologia já está madura e podemos pegar um atalho, oferecendo um bem de capital”, afirmou Marostica.

Isto quer dizer que ele não será colocado à venda. Depois da turnê pelo Brasil para tentar conquistar investidores de peso, o modelo elétrico será usado de forma compartilhada, ou seja, um aluguel curto apenas quando o usuário tiver necessidade, deixando o carro para o próximo quando finalizar a viagem.

Mesmo entre os norte-americanos, que criaram e propagaram a cultura do carro como um símbolo de ascensão social, o número de adeptos ao chamado “carsharing” deve dobrar de pouco mais de 1 milhão em 2013 para 2 milhões em 2016, segundo a consultoria Alix Partners.

No mundo inteiro, o número deve crescer dos atuais 6,5 milhões para 26 milhões em 2020, conforme estudo recente da Berg Insight. Mas no Brasil, o sistema de compartilhamento encontra dificuldades para se tornar comum.

Marostica vê uma mudança inevitável na forma como o veículo é usado comercialmente na sociedade. “É como a histórias das fitas VHS (antes do DVD), que custavam US$ 75 cada uma quando foram lançadas. Aí veio a Blockbuster e resolveu alugar em vez de vender. O carro elétrico vai seguir o mesmo modelo”, afirma.

Desenvolvimento do chassis será aberto a interessados em adaptar o PodCycle para outros fins (Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)

Chassis ‘skate’
Mais do que um minicarro urbano, a ideia primordial do PodCycle é ser uma plataforma para diferentes usos e situações. A primeira carroceria, que lembra um Smart, foi desenhada voluntariamente por um estúdio de design, mas ele pode ser um “buggy” ou até um SUV.

Já no ano que vem, o grupo vai abrir todo o desenvolvimento da plataforma para quem quiser criar outras modalidades do PodCycle. No futuro, a fabricação dos veículos elétricos sobre o chassis modular brasileiro poderá ser feita pelo sistema de franquias.

“Não teremos uma grande montadora central. A experiência com produção de baixa escala e a modularidade permitem isso. O interessado em ter uma microfábrica receberá os conjuntos pré-montados diretamente dos nossos fornecedores e monta o carro”, explica o engenheiro.

De acordo com Marostica, o PodCycle é projetado para atender todas as exigências da legislação, como obrigatoriedade de airbags, freios ABS e normas de testes de colisão. Atualmente, cada modelo tem um custo estimado de R$ 95 mil.

Em 2017, o grupo espera ter mais unidades fabricadas para iniciar o serviço de compartilhamento em Florianópolis, dentro de um modelo que já é testado com carros a combustão.  O projeto já recebeu incentivo de fundos de amparo à pesquisa e de empreendedorismo.

Fonte:Auto Esporte