MEIO AMBIENTE

Cerca de 125 mil ainda jogam esgoto no mar de Vitória (ES).

Relatório da prefeitura aponta 73 pontos de lançamento de esgoto in natura.

Em 15/05/2017 Referência JCC / Carla Sá e Caíque Verli - G1ES

Setenta e três pontos jogam esgoto direto no mar ou em rios, que também vão para o oceano, em 16 locais da cidade de Vitória, 15 bairros e o Canal da Passagem, que vai desde a Grande Goiabeiras até a Praia do Canto.

Um problema longe de ser resolvido, o esgotamento sanitário em Vitória segue com deficiências, enquanto a prefeitura e a Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) não entram em acordo sobre responsabilidades e a situação da rede.

Os flagrantes estão nas fotos de um relatório produzido pela Secretaria de Municipal de Meio Ambiente (Semmam) em março de 2016 com base em informações da Cesan e da própria prefeitura. O documento aponta ainda números do esgotamento sanitário na capital.

Em 2016, 38,3% da população jogava esgoto diretamente em rios, canais e mangues, caindo no mar, sendo que 27% não tinham feito a ligação e 11,3% não possuíam rede. O total de cobertura (população que tem a rede disponível) era de 88,7% no ano passado.

Já o atendimento (percentual de habitantes com rede conectada), era de 69,6%. A população de Vitória é de 327.801, e o relatório mostra que, em 2016, 125.433 pessoas estavam fora da rede, o que significava 185,8 litros/segundo de esgoto in natura na orla e 16.055.424 litros/dia.

Dos locais, o primeiro da lista é Santo Antônio, com 12 pontos, e o Canal, com nove. Além de Santo Antônio e Canal da Passagem, há pontos de saída de esgoto em Andorinhas, Ilha das Caieiras, Ilha do Príncipe, Mário Cypreste, Centro, Grande Vitória, Ilha de Santa Maria, Inhaguetá, São Pedro, Forte São João, Goiabeiras, Ilha de Monte Belo, Ariovaldo Favalessa e Maria Ortiz.

Um dos moradores que sofre com o esgoto caindo na baía na Ilha das Caieiras é o aposentado Airton Jorge da Silva, de 72 anos. São 34 anos morando no bairro e o problema persiste desde então.

“Os moradores sofrem e esse é um dos pontos mais bonitos de Vitória. É feio para o município receber os turistas com esse mau cheiro”, disse.

Atualmente, a Cesan informa que a cidade conta com 90% de cobertura e 78% de atendimento.

Balneabilidade

O levantamento que deu origem ao relatório foi feito em 2016 após um teste de balneabilidade mostrar que a Praia de Camburi estava totalmente imprópria para banho por contaminação por coliformes fecais, que chegam na água do mar pelo esgoto.

Na ocasião, só foram divulgados dados gerais de despejo de dejetos das cidades da Grande Vitória. Mas o documento mostra um raio-X mais completo da situação da Capital.

Sobre os 73 pontos identificados despejando esgoto in natura, o secretário de meio ambiente de Vitória, Luiz Emanuel Zouain, disse que as informações do relatório foram passadas à companhia há um ano, em um encontro em que foram discutidas questões sobre a água, e que o município entende que é dela o dever de resolver isso.

“A Cesan não se manifestou. E qualquer situação onde haja esgoto no município, seja a céu aberto, na rede pluvial, de imóveis públicos ou privados, a responsabilidade é da Cesan”, afirmou Zouain.

Entretanto, a Cesan informa que não recebeu o relatório.

'Cesan não tem poder de obrigar interligação', diz diretor

O diretor de Engenharia e Meio Ambiente da Cesan, Amadeu Wetler, diz que a concessionária não recebeu o relatório preparado em março de 2016 pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Vitória, que mostra 16 locais com 73 pontos jogando esgoto diretamente em rios e no mar.

Ele ressalta que existe um trabalho em conjunto da companhia e gestão municipal, com atividades que se complementam. A primeira oferece o serviço de tratamento e coleta. “Mas a Cesan não tem poder de polícia para obrigar a interligação. A prefeitura tem o poder de fiscalizar e multar”, afirma.

Amadeu explica que a concessionária troca informações com a administração do município, encaminha dados sobre imóveis que ainda não realizaram a ligação, embora tenham rede disponível, e por isso estão irregulares. “No último ano, a gente passou a encaminhar por ofício.”

Ele diz que, atualmente, a capital conta com 90% de cobertura, ou seja, esse é o percentual da população que tem a rede de esgoto disponível, e 78% de atendimento (já conectado a rede).

O diretor também destaca que, nos últimos quatro anos, com o programa Águas Limpas, foram feitas 7 mil ligações na cidade.

“Foi um investimento na ordem de R$ 75 milhões em Vitória. Vale lembrar que em 2007 a cobertura era de 56%”, salienta.

Integrado

Após o avanço da capital, para despoluir a baía, entretanto, é preciso trabalhar também a situação do restante da Grande Vitória. O diretor da Cesan lembra que esgoto das outras cidades chegam ao mar e o prejuízo não é só para a população de Vitória.

“Hoje temos um projeto para a Grande Vitória, porque é preciso pensar integrado. Estamos avançando. Na Serra já temos uma PPP (Parceria Público Privado) que investe na rede de esgoto, em Vila Velha acionamos esse ano também uma PPP e em Cariacica estamos em busca”, disse.

Sobre a intenção da prefeitura da capital de realizar um estudo para mudar a concessão de esgotamento sanitário e tratamento de água em Vitória, Amadeu ressalta que é preciso pensar integradamente.

“Vitória não produz água, por exemplo. Os municípios da região têm que seguir um projeto com uma rede compartilhada de saneamento. Um estudo assim daria apenas uma visão de um recorte, muito particular de um problema que é amplo”, disse.

Imagem: reprodução do G1ES