MOTOR

Chrysler 300C é confortável, mas gasta muito combustível.

Embora produzido no Canadá, o 300C é feito para agradar ao público americano.

Em 28/03/2016 Referência JCC

Muitos fabricantes buscam a receita ideal para o veículo autônomo. Enquanto o Google quer um modelo sem volante ou pedais, a Nissan, por exemplo, imagina que o condutor possa querer tomar o controle e se divertir dirigindo. Todas, porém, querem minimizar o nível de preocupação dos ocupantes.

Mas, aparentemente, nenhum destes modelos consegue "mimar" tanto o motorista quanto a Chrysler com o 300C. Apesar de dirigir sozinho, o sedã gigante da marca americana traz vários equipamentos que fazem de tudo para que o convívio a bordo seja o mais agradável possível.

Embora produzido no Canadá, o 300C é feito para agradar ao público americano e suas peculiaridades – mercadológicas e climáticas. As duas condições merecem destaque na hora de entender o modelo que tem mais de 60 anos de história e que no Brasil é vendido em versão única por R$ 224,9 mil. Além do preço de venda, os potenciais compradores precisam se preparar para o alto consumo de combustível - gasolina, no caso.

Tabela de concorrentes do Chrysler 300C (Foto: André Paixão/G1)

'Mordomo' sobre rodas
O sistema de entrada do 300C, sem a necessidade de ter as chaves nas mãos já é uma bela ajuda, embora não seja inédito em modelos desta faixa de preços. Ao abrir a porta, o banco recua e o volante fica no limite da altura, para facilitar o embarque. É possível memorizar os ajustes de ambos para que, após a partida, assento e direção retornem à posição mais confortável para quem vai dirigir.

As regulagens, inclusive dos espelhos, são elétricas. E é possível também determinar a distância dos pedais, movendo eletricamente o conjunto para frente ou para trás.

Como esperado para um veículo dessa faixa de preço, os bancos são revestidos em couro. Se a temperatura externa for muito baixa (situação rara no Brasil, mas comum na América do Norte), é possível aquecê-los, assim como o volante e o retrovisor - este último para evitar o acúmulo de neve.

Se o calor for o clima predominante, os mesmos bancos, que mais lembram poltronas, podem ganhar ventilação. Ainda há regulagem de temperatura para os dois porta-copos no console central – com opção de aquecimento ou resfriamento.

Para completar o pacote de climatização, o ar-condicionado possui regulagem independente para motorista e passageiro na frente, e saídas de ar para os bancos traseiros. Estes, por sinal, são bem inclinados, aumentando a sensação de "sala de estar".

Interior do Chrysler 300C (Foto: André Paixão/G1)
Interior do Chrysler 300C (Foto: André Paixão/G1)

Tudo ao alcance
O controle da maior parte destas “traquitanas” é feito pela central multimídia. O sistema Uconnect, por sinal, tem funcionamento simples e intuitivo, e é completo em recursos – a utilização inclusive é mais amigável do que em outros modelos da Fiat Chrysler, como o próprio Jeep Renegade.

Na tela de 8,4 polegadas, é possível regular desde as estações de rádio e a fonte do áudio, até acionar a cortina do vidro traseiro, esquentar os bancos ou ajustar o nível de assistência da direção elétrica (são 3 opções). A central ainda conta com navegador por GPS (em, português brasileiro).

Ainda há outra tela, de 7 polegadas, que fica entre o velocímetro e o contra-giros, e pode ser configurada para exibir diversos tipos de informação em 4cdiferentes locais – nos cantos superiores esquerdo e direito, no centro e logo acima do centro. Dá pra saber, ao mesmo tempo, consumo médio, velocidade, autonomia, estação de rádio, orientações do GPS e horário.

Completam a lista de itens de série partida por botão, volante multifuncional, teto solar panorâmico, faróis de bi-xenônio com luzes auxiliares de LED, sensores de luz, chuva e estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, rodas de liga leve de 20 polegadas, sistema de som da marca Alpine com 9 alto-falantes e subwoofer, controles de tração e estabilidade, airbags frontais (obrigatórios por lei), laterais, de cortina e de joelho (para o motorista).

Relógio no topo do console do Chrysler 300C (Foto: André Paixão/G1)Relógio no topo do console do Chrysler 300C (Foto: André Paixão/G1)

Sem o capricho dos rivais
Em meio a tanta tecnologia, o 300C conserva traz certo conservadorismo na cabine. Os mostradores possuem grafismos sóbrios e iluminação azul, enquanto há um relógio de ponteiro no topo do console central, que tenta dar um ar de sofisticação à cabine.

Além disso, há um acabamento imitando madeira em boa parte do console central, no volante e na lateral das portas. Ainda há partes em plástico imitando alumínio e outras áreas em material emborrachado. A qualidade é boa, mas não exibe o mesmo nível de capricho que sedãs de marcas premium, como Mercedes, Audi e BMW.

O visual externo, apesar de renovado no ano passado, é clássico. As linhas são as mais sóbrias para um sedã – capô longo, linha de cintura alta, pequena área envidraçada e cortes praticamente retos na carroceria, definindo bem os 3 volumes.

Nesta reestilização, o 300C ainda ganhou em elegância. A grade dianteira trocou as barras horizontais por uma tela em forma de colmeia. A trama também está presente na parte mais baixa, onde os faróis de neblina ganharam novo formato e um contorno cromado ao longo de toda a dianteira.

Aliás, cromados estão por todos os lados no visual externo. Eles aparecem nos retrovisores, molduras das janelas e na barra cromada na tampa do porta-malas. Para completar o exagero, rodas de liga-leve de 20 polegadas, também cromadas.

Espaço no banco traseiro do Chrysler 300C (Foto: André Paixão/G1)Espaço no banco traseiro do Chrysler 300C (Foto: André Paixão/G1)

Latifúndio
Com 5,05 metros de comprimento e 3,05 m de entre-eixos, o 300C é um dos maiores sedãs à venda no Brasil. Sabendo desta informação, é fácil imaginar que o espaço seja farto para 5 pessoas– mas não é.

Como possui tração traseira, há um túnel central elevado para acomodar o eixo cardã do veículo, o que limita o espaço para as pernas do quinto ocupante. Por não ser tão alto (1,49 m), passageiros mais altos que andem no banco de trás podem raspar a cabeça no teto.

Por outro lado, a largura de 1,90 m permite que os 5 viagem com espaço de sobra na região dos ombros.

No porta-malas vão 500 litros, e há uma rede que auxilia na acomodação de bagagens menores, bem como duas alças para sacolas, que podem segurar até 22 kg cada.

Motor V6 Pentastar do Chrysler 300C desenvolve 296 cv (Foto: André Paixão/G1)Motor V6 Pentastar do Chrysler 300C desenvolve 296 cv (Foto: André Paixão/G1)

Como anda?
Com tantos equipamentos, o conjunto mecânico do sedã canadense tende a ser ofuscado. Apenas até o motorista dar a partida. O V6 de 3.6 litros Pentastar desenvolve 296 cavalos, ou 10 cv a mais do que no modelo pré-facelift, e 36 kgfm de torque.

Projetado em 2011, ele não conta com turbo, então, a toda a potência é entregue em altas 6.350 rotações por minuto, enquanto o torque integral aparece a 4.800 rpm. A transmissão é automática, fornecida pela alemã ZF, e tem oito velocidades.

De concepção moderna, o Pentastar já foi premiado algumas vezes como um dos melhores motores do mundo com este porte. Ele ainda é dono de um ronco instigante para um V6 – normalmente conhecidos por uma melodia mais suave.

Na hora de colocar os 1.828 kg do sedã em movimento, ele entrega arrancadas vigorosas, que contrastam com o que o porte do 300C poderia sugerir – um veículo lento.

A transmissão automática realiza as trocas de forma suave, respeitando quase sempre a vontade do motorista. Se a pegada é mais esportiva, as marchas são passadas em rotações mais altas, acima das 4.500 rpm.

Mas, se não há pressa, o câmbio fica em dúvida entre trocar a marcha na casa das 2.000 rpm e “matar” a aceleração ou passar a marcha e manter o ritmo mais pacato. A opção de trocas por conta do motorista faz falta.

Chrysler 300C (Foto: André Paixão/G1)Chrysler 300C (Foto: André Paixão/G1)

Consumo alto
A troca da direção, antes eletro-hidráulica por uma elétrica, tornou possível três níveis de leveza, e acabou com antigas reclamações de um peso excessivo na hora de manobrar o sedã. Uma suspensão macia, mas que apoia bem o carro em curvas completa o bom conjunto mecânico.

O ponto negativo é o consumo. Durante a estadia de uma semana do 300C com o G1, o consumo médio, em percurso majoritariamente urbano, foi de 6 km/l, abaixo dos 7,1 km/l aferidos pelo Inmetro e ainda inferior ao de rivais com motores sobrealimentados. Ainda assim, o tanque de gasolina de 70 litros garante uma boa autonomia.

Porta-malas de 500 litros do Chrysler 300C é generoso (Foto: André Paixão/G1)
Porta-malas de 500 litros do Chrysler 300C é generoso (Foto: André Paixão/G1)

Com quem concorre?
Talvez esta seja uma das perguntas mais difíceis de responder sobre o 300C. Em porte, ele briga com Mercedes Classe E, Audi A6 e BMW Série 5. Mas falta refinamento para encarar a trinca de sedãs de origem alemã.

Olhando para a tabela de preços, os concorrentes mais próximos são os sedãs médios das montadoras premium, Classe C, Série 3 e A5 (o A4 ganhará nova geração em abril). Todos, em suas versões topo de linha, se aproximam do 300C no nível de equipamentos e no valor de compra. Porém, o trio leva sob o capô motores de quatro cilindros e 2.0 litros com menos potência.

A "diferença de classes" cobra seu preço - literalmente. As revisões até os 60 mil km do 300C custam R$ 9.237,50, de acordo com a apuração do G1. A manutenção periódica de um Audi A4 nos mesmos parâmetros sai por R$ 6.769,61, ou 36% mais. Vale ressaltar que o 300C, por ter plano de revisões a cada 12 mil km, faz uma para a menos do que o Audi, que tem revisões a cada 10 mil km.

Se o motorista precisar trocar as peças do 300C, um novo problema. Uma cesta de peças, composta por farol dianteiro, para-choque dianteiro, amortecedores dianteiros e pastilhas de freio dianteiras de um BMW Série 3, por exemplo, custaria R$ 9.663,67, valor inferior ao preço apenas do farol do 300C, que sai por "apenas" R$ 12 mil. Ao somar os demais itens, a conta fecha em R$ 22.689, valor suficiente para comprar um Fiat Palio seminovo ano 2015.

Conclusão
O 300C parece um peixe fora do aquário nas ruas brasileiras. Dono de um visual cheio de estilo, mas pouco comum, e maior do que boa parte dos sedãs que por aqui rodam, o Chrysler é a atração por onde passa.

No fim, nenhum modelo desta faixa de preço consegue se aproximar de um carro que faz quase tudo por seus ocupantes quanto o 300C.

Para quem vai dentro do carro, o conforto predomina, e sobram regalias. Para o motorista, está reservado um motor competente e uma boa dirigibilidade, ainda que sem o requinte dos sedãs alemães. Os pontos negativos ficam para o consumo combustível e os custos de peças e revisões.

Por Auto Esporte