CULTURA

Coletivos ganham força e agitam a cena cultural da Grande Vitória

Grupos organizam eventos e promovem cultura e política por todo lado. Conheça alguns dos coletivos que mais movimentam a cena no estado.

Em 22/09/2014 Referência JCC

"Queremos ver mudanças políticas, espaços públicos revitalizados, ocupados com arte e ações interessantes, queremos estar envolvidos nos planejamentos nacionais de cultura e ter satisfação de viver no lugar que vivemos". O desejo é da produtora cultural Lorena Louzada, membro do coletivo Expurgação. Nos últimos anos, os coletivos mudaram a cena cultural da Grande Vitória. Esses grupos, formados na maioria por jovens que buscam mudar e movimentar o cenário do estado, organizam festas, exposições, caminhadas, festivais, além de lutar por melhorias nas políticas públicas e acesso à cultura.

O jornalista e produtor cultural do Coletivo Canellada, Adriano Monteiro, conta o objetivo dos coletivos. “Nós buscamos criar espaços de referência e produção de cultura e arte na cidade”, disse.

 

Ações culturais como o Festival Tarde no Bairro, o Grito Rock e o Ensaio Aberto ajudam a divulgar o trabalho de músicos do estado, além de fazer com que muita gente conheça-os. Outras ações promovidas por coletivos são as lutas pela igualdade social e de gênero, como a Marcha das Vadias e o Cineclube Diversidade.

Há tempos, ouvir o termo coletivo ficou cada vez mais comum, mas eles sempre existiram, embora a denominação fosse diferente. Porém, é inegável que a quantidade de coletivos e a qualidade dos projetos coordenados por estes vem aumentando, assim como o número de pessoas alcançadas por eles.

Para Ana Lucia Rezende, do Coletivo Femenina, os coletivos têm de se destacar pela horizontalidade organizacional. "É um grupo de pessoas que pensa junto, executa junto, diferente das organizações. A gente não tem líder, não tem presidente. Quando você pensa coletivamente, pensa num todo, mas cada um faz o seu melhor", explica.

Já para o Adriano, do Canellada, coletivo é um grupo de pessoas conectadas por um ideal em comum. "De certa forma, vejo na atividade de um coletivo uma espécie de militância. O que dá gás nas iniciativas é o engajamento por uma política pública para cultura e juventude", conta.

Um dos maiores problemas enfrentados por coletivos do estado é a falta de dinheiro para realizar os projetos. “Nossa maior dificuldade é a de todos os coletivos: dinheiro! Para financiar nossas atividades, principalmente para remunerar todos os envolvidos na cadeia de produção”, conta Adriano.

Grande parte dos grupos trabalha de maneira independente, com o lucro gerado nos próprios eventos, ou com a verba coletiva, o investimento dos membros. Alguns grupos procuram a iniciativa pública e conseguem apoios, como aparelhos de som e liberação de locais públicos, mas muitos membros reclamam da falta de suporte. Um meio buscado por muitos e conquistado por alguns é o uso de editais públicos oferecidos pelas secretarias de cultura. “O jeito que encontramos é mandar projetos para editais públicos. Muita gente fala que tem alguns grupos mais beneficiados, mas temos que tentar, todos tem que tentar”, disse o produtor cultural Guilherme Rebêlo, membro do Assédio Coletivo.

Já o Coletivo Expurgação tem um jeito diferente de arrecadação e cadeia de trabalho. Lorena Louzada, membro do coletivo, explica como este funciona. “Expurgação é o nosso negócio. Trabalhamos na estruturação do negócio diariamente. Atualmente temos uma cartela de aproximadamente 50 clientes, que admiram nosso processo e acreditam na qualidade dos resultados. Também investimos bastante em comunicação. Temos um site reformulado que comunica nossos serviços e gera conteúdo cultural. Estamos sempre buscando envolvimento em feiras, rodadas de negócios e outros projetos que potencializam nosso trabalho”, conta.

União
Em 2012 foi realizada a primeira edição da Reviravolta Coletiva, um evento articulado pelo Assédio Coletivo, que reúne o trabalho de vários grupos do estado, buscando mostrar o que está sendo produzido por eles, além de possibilitar uma troca de experiência e conhecimento. O evento terá uma nova edição este ano, de 9 a 23 de novembro, e manterá o formato do último ano, com duas semanas de programação reunindo mais de 30 ações, entre oficinas, festivais e debates. O produtor cultural Guilherme Rebêlo, membro do Assédio, explica a importância da Reviravolta.

"Ela tem uma importância muito grande, porque todos os coletivos podem mostrar o que estão produzidos. Na primeira edição a gente buscava conhecer os coletivos daqui, agora a gente tenta realizar essa troca, que é o mais importante para mim. Muita gente acha que os coletivos são um bando de jovens loucos que só querem produzir sem pensar na política. A gente faz isso para debater política e pensar o que é a prática coletiva, a horizontalidade, o ser coletivo", conta Guilherme.

Outra forma que os grupos criaram para trabalhar juntos é o Coletivos Unidos, uma espécie de fórum, onde os membros debatem política e ações conjuntas, além buscar formas de ocupar os espaços públicos de debate, como o Conselho de Cultura.

Femenina
A primeira edição do Festival Femenina aconteceu em 2001, mas somente em 2010 as pessoas que o organizavam decidiram criar o Coletivo Femenina, um grupo que fizesse ações que mobilizassem a população durante todo o ano, e não só no em março, quando acontece o festival.

O coletivo busca atuar de forma ativa e propor a discussão através da arte feminista. O Femenina continua promovendo o festival, além de organizar a Marcha e a Bicicletada das Vadias, festas, o Cine Vadias e ações no centro prisional de Viana.

Qualquer pessoa que queira participar do coletivo, pode entrar em contato com as integrantes através da página no Facebook. "Todos tem a possibilidade de começar a conversar e com o passar do tempo pode participar das nossa ações", explica a membro Ana Lucia.

Assédio Coletivo
O grupo surgiu em 2012, após os membros fundadores participarem de um congresso do Fora do Eixo, em São Paulo. Eles, então, decidiram criar um grupo que promovesse a música produzida no Espírito Santo. Eles surgem como um coletivo de bandas, realizando o primeiro Festival Tarde no Bairro, no mesmo ano.

"A partir da primeira Reviravolta, virou um coletivo de produção cultural, porque a gente viu que trabalhava com vários tipos de arte, além da parceria com outros coletivos", lembra Guilherme Rebêlo. Segundo ele, o objetivo do grupo é fortalecer uma cena cultural independente e autoral na cidade de Vitória.

O Assédio busca sempre ocupar o espaço público nas ações que promove, sempre com músicos com trabalho autoral. Os membros e artistas não são remunerados e o grupo tem dificuldades para conseguir verbas. "Basicamente não tem recurso. A gente vive pela cena, mas o que a gente já conseguiu foi com editais públicos. Trabalhamos de forma horizontal, não temos diretores ou assistentes", explica Guilherme.

Qualquer pessoa pode fazer parte do coletivo, que se reúne todas as segundas-feiras, às 19h, na Libre - Casa Coletiva, sede do Assédio.

Coletivo Planta
O Planta foi formado em 2012 por alunos do curso de Psicologia da Ufes, que se uniram para difundir a permacultura e criar uma horta aberta ao lado do Centro Acadêmico do curso, no campus de Goiabeiras. Qualquer pessoa pode plantar ou colher no espaço, assim como participar do coletivo. Só é preciso ir ao Centro Acadêmico e conversar com algum membro.

Um dos fundadores do grupo, o psicólogo Ernesto Rabello, conta que o coletivo já teve altos e baixo. "Ficou um tempo sem cuidar, mas agora o pessoal retomou os cuidados. Estão plantando de novo, colhendo maracujá, de um pé plantado em 2012. Então o coletivo continua, com outros membros, outras pessoas. O coletivo nunca teve gestão, sempre foi autogerido", conta.

Coletivo Canellada
O Canellada surgiu em 2012, formado amigos que buscavam contribuir para o fomento cultural da cidade de Vila Velha, promovendo o trabalho de artistas novos e o acesso democrático às artes, ocupando espaços públicos como praças e as ruas. O principal objetivo do grupo é criar espaços de referência e produção de cultura e arte. "O viés político não fica de lado, com nossas ações buscamos cobrar uma política pública cultural para o município que até o momento revela-se não existente", conta o membro Adriano Monteiro.

O coletivo realiza os festivais Noites com Canella e Ponte de Cultura, além de edições em Vila Velha de Grito Rock e Tarde no Bairro. Qualquer pessoa interessada pode participar do Canellada. Os membros se reúnem às terças-feiras no Shopping Praia da Costa.

Coletivo Expurgação
O Expurgação surgiu há sete anos e busca engajar a sociedade no processo de contrução da identidade cultural. O grupo trabalha como uma cartela de cerca de 50 clientes e é formado por nove sócios, que atuam com elaboração de projetos para desenvolver ações e serviços.

O modo de funcionamento é diferente dos outros grupos. A produtora Lorena Louzada, membro do Expurgação, conta como funciona. "Praticamos um novo modelo de gestão onde muitos sócios atuam de forma colaborativa, baseada na criatividade e que preza o conhecimento tácito, Para cada projeto ou serviço montamos uma equipe específica que pode envolver outros profissionais, empresas ou coletivos", explica.

Fonte: G1 Espírito Santo