EDUCAÇÃO

Concorrência em medicina faz idade de calouros da USP subir, diz estudo.

Na Unicamp, concorrência aumentou mais de 900% desde 1980.

Em 31/07/2015 Referência JCC

O aumento da concorrência no vestibular de medicina da Fuvest desde 1980 mudou o perfil dos calouros da Universidade de São Paulo (USP). Segundo levantamento feito pelo Curso Poliedro, nos últimos 35 anos, quase dobrou o número de calouros que precisou fazer pelo menos dois anos de cursinho pré-vestibular antes de conseguir uma vaga na carreira.

O estudo também analisou dados históricos dos principais vestibulares do Brasil, incluindo os outros três cursos públicos de medicina mais prestigiados: os da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Segundo Rodrigo Fulgêncio Mauro, coordenador pedagógico da turma de medicina do Poliedro, a mudança no perfil dos calouros é decorrente do aumento da concorrência pelas vagas.

Enquanto a população brasileira cresceu 67% desde 1980, o número de vagas ofertadas nestas universidades manteve-se igual na USP e Unesp, caiu 3% na Unifesp e cresceu 22% na Unicamp, diz o estudo.

Desta forma, o número de candidatos disputando a mesma vaga cresceu. Há 35 anos, 19 candidatos disputavam uma vaga na Unicamp, hoje são 204, 973% a mais.

Veja as mudanças na relação candidato-vaga das quatro universidades:
USP – Em 1980, 66 candidatos disputavam uma vaga. Atualmente, 93 alunos disputam a mesma vaga. O aumento foi de 41%.
Unifesp – A taxa de candidato por vaga era de 94, em 1980, e subiu para 16, o que representa uma aumento de 70%.
Unesp – Em 1980, 116 candidatos disputavam uma vaga no curso de medicina. Em 2015, a concorrência aumentou 98%, para 230 alunos por vaga.
Unicamp – A Unicamp tinha a menor taxa de 19 candidatos por vaga em 1980. Atualmente, porém, 204 alunos disputam a mesma vaga. Aumento de 973%.

Diferença de milésimos
Segundo Fulgêncio, a pontuação entre os candidatos aprovados e não convocados é muito pequena. "O que separa o último jovem convocado do primeiro reprovado é uma crase, um erro de concordância ou uma vírgula. A diferença de pontuação chega a ser de milésimos. É muito pouco", destaca o coordenador.

"O segredo de passar na prova não é questão de genialidade, mas de humildade para entender suas deficiências e dedicação para correr atrás delas. O apoio dos pais é fundamental também", salienta.

Mais tempo no cursinho
Enfrentando maior concorrência, o tempo que os alunos passam no vestibular cresce cada vez mais. De acordo com o estudo, 55% dos estudantes aprovados na Fuvest 2014 ficaram dois ou mais anos no cursinho. Há 35 anos, o índice era de 29%.

Com isso, a média de idade dos calouros aumentou.  Em 1980, 16% dos candidatos aprovados na Fuvest tinham mais de 20 anos. Hoje, 40% dos estudantes apresentam este perfil.

Segundo Fulgêncio, ficar muito tempo no cursinho pode ser estressante para o aluno. "A maturidade é sempre positiva, e o aluno que ingressa mais velho na universidade entra mais maduro, mas isso é muito sofrido para o aluno. Ele encara a faculdade com mais seriedade, mas se desgasta muito, já entra cansado."

Preparação
Atualmente, a Fuvest é o vestibular responsável por selecionar os alunos aprovados na USP. Entretanto, em 1980, Unesp, Unicamp e Unifesp também usavam este modelo para aprovação dos candidatos. Hoje, com quatro provas diferentes, os estudantes têm tido mais dificuldade para ingressar na universidade.

Para o coordenador, em 1980 a preparação do aluno era mais simples, porque só tinha um tipo de prova. "O aluno deve se preparar para provas diferentes, conteúdo e tipos de questões diferentes e isso complica. A exigência da prova mudou muito", afirma.

"É um conjunto de características e estrutura emocional que aprovam o candidato. O nível de preparação dos cadidatos é nível de atleta. Estudam de segunda a segunda, fazem simulados e muitos testes. Esse estudo mostra que a falta de vagas é um problema estrutural de anos", explica o professor.

Fonte: G1