ESPORTE INTERNACIONAL

Conflito de interesse e muito dinheiro: Nacional desperta suspeita de rivais.

Grupo que comprou o time colombiano, em 1996, tem patrimônio de mais de R$ 5 bilhões.

Em 15/07/2016 Referência JCC

O possível financiamento do dinheiro sujo do narcotráfico liderado por Pablo Escobar, que manchou a conquista da Libertadores pelo timaço do Atlético Nacional de Medellín em 1989, ficou no passado. Hoje, 27 anos depois, é contra o poderio financeiro esmagador do conglomerado da Organização Ardila Lülle (OAL), presidida pelo empresário multimilionário Carlos Ardila Lülle e com patrimônio avaliado em US$ 1,6 bilhão (R$ 5,4 bilhões), que os rivais – torcidas e clubes adversários – protestam na Colômbia.

A OAL comprou o Nacional em 1996 e o clube, que até então tinha apenas seis títulos nacionais, rapidamente se tornou o maior campeão da história, com mais nove conquistas, superando Millonarios (14), América de Cali (13), Deportivo Cali (9) e Independiente Santa Fé (8), além de duas Copas das Colômbia, duas Superligas e duas Copas Merconorte. Agora, está na final da Taça Libertadores, com a melhor campanha. Muito disso, claro, graças ao alto investimento feito no clube.

Principal produtora de biocombustível do país; proprietária de redes de TV (RCN, WinSports e NTN24) e outros 17 veículos de comunicação que estendem braços de atividade nos Estados Unidos, na Europa e na Oceania; a OAL também lidera o mercado de bebidas com a Postobón (não-alcoólica), a Heineken Colômbia e a Central Cervecera de Colômbia. O Nacional é a empresa mais popular da organização.

Conflito de interesses?

Não que se ignore as qualidades do time comandado pelo técnico colombiano Reinaldo Rueda, com os talentos de Davinson Sánchez e Alexander Mejía, já vendidos para Ajax (HOL) e León (MEX) respectivamente, Marlos Moreno, Macnelly Torres e, agora, Ángel Miguel Borja, autor dos quatro gols da equipe nas duas semifinais contra o São Paulo.

Nem se pode subestimar a campanha espetacular do Vardolaga na competição continental. Foram nove vitórias, dois empates e apenas uma derrota – com o feito de não ter sofrido um único gol na primeira fase, algo inédito na competição. O problema é que o conflito de interesses da OAL desperta suspeitas na arbitragem, com históricos de erros que favoreceram o Atlético Nacional em momentos importantes.

– O futebol é um negócio e isso está bem, não é mal. O Nacional é a única equipe com canal de televisão na Colômbia. De quem é a WinSports? De quem é a RCN? De quem é o Nacional? De Ardila Lulle. Vocês acham que a Win ou a RCN vá falar mal do Nacional? Observem e verão que é verdade – afirmou o então do Deportivo Cali, técnico Fernando Castro, em janeiro deste ano, durante entrevista coletiva. 

Além de a WinSports e a RCN serem as detentoras dos direitos de transmissão do Colombiano, a Postobón patrocina o campeonato e o Nacional de Medellín.

O Nacional de Medellín é presidido por Juan Carlos de la Cuesta, de 42 anos, desde 2010. É o presidente mais jovem da história do clube. Antes, destacou-se como revisor fiscal de uma das empresas da OAL e como gerente financeiro do Nacional. Em entrevista ao Globo Esporte, há uma semana, ele afirmou que o sucesso do clube se deve à estratégia de sua administração e à meta de transformar o futebol do Nacional em um produto atraente para o torcedor, principal consumidor.

– A organização do grupo econômico que comprou o Nacional é transparente como é transparente a administração do Nacional, cumprindo e respeitando todas as leis nacionais e internacionais nesses 20 anos –  afirmou.

A receita do Nacional de Medellín em 2015, segundo La Cuesta, foi de US$ 25 milhões (R$ 82,4 milhões), sendo US$ 3 milhões de publicidade, US$ 5 milhões merchandising, US$ 7 milhões de bilheteria, US$ 9 milhões com venda de jogadores e US$ 1 milhão de direitos de TV – pagos pela OAL. O presidente espera fazer o valor saltar para US$ 33 milhões neste ano.

O presidente se vangloria ainda do fato de, desde 2011, não pedir mais dinheiro à OAL para cumprir rombos do orçamento do clube, como costumava acontecer.  

Controvérsia nas redes

Nas redes sociais, há um perfil dedicado a apontar supostos problemas de conflitos de interesses. Torcedores rivais enumeram equívocos da arbitragem a favor do Nacional de Medellín. Alguns deles, contra times brasileiros por torneios internacionais. Como no primeiro jogo da semifinal da Copa Sul-Americana, Nacional 1 x 0 São Paulo, em 27 de novembro de 2014, quando o goleiro Armani deu uma voadora em Alan Kardec fora da área no início do jogo e impediu gol do São Paulo e o árbitro uruguaio Daniel Fedorczuk nada marcou. 

Ou na segunda partida pelas oitavas de final entre Vitória e Nacional (0 x 1), em 16 de outubro de 2014, quando o atacante Dinei empatou o jogo a seis minutos do fim, mas o árbitro argentino Diego Abal anulou ao marcar impedimento inexistente. O empate por 1 a 1 classificaria o Vitória, já que partida de ida havia sido 2 a 2.

Nesta Libertadores, além dos problemas no jogo contra o São Paulo, o Nacional foi beneficiado por erros nas oitavas de final, contra o Huracán (ARG). Na vitória por 4 a 2 sobre o time argentino, em Medellín, o árbitro venezuelano Jose Argote marcou pênalti inexistente a favor do Nacional, deixou de marcar outro para o Huracán em cima do atacante Ábila Wanchope e expulsou o zagueiro Federico Mancinelli erradamente.

No dia seguinte, o site “Patria Quemera” aumentou as especulações com a informação de que Argote, na verdade, nasceu em La Guajira, município colombiano próximo ao Mar do Caribe, tendo se naturalizado venezuelano na faculdade. 

Fedorczuk e Argote, apesar dos erros e dos protestos dos clubes prejudicados, foram convocados para apitar na Copa América Centenário.

O técnico do Tricolor, Edgardo Bauza, reclamou muito do pênalti em Hudson após a partida. Ao ser questionado sobre se ele via algum movimento para beneficiar o Atlético Nacional, o treinador disse:

– Isso eu não sei . Também aconteceu com Huracán e com Rosario Central. Não sei se é coincidência...

Victor Marulanda, atual gerente de planejamento do Nacional e antecessor do presidente Juan Carlos de La Cuesta, rechaça as acusações de beneficiamento e conflito de interesses. Diz que o Nacional vence porque é bem administrado.

– O Nacional é uma empresa com políticas e boas práticas institucionais como as de qualquer outra empresa de sucesso – afirma.

 

Globo Esporte