POLÍTICA NACIONAL

Denúncias contra a presidente Dilma são gravíssimas, diz Ricardo Ferraço.

Quando achávamos já que tínhamos visto de tudo, o que vimos hoje é estarrecedor.

Em 03/03/2016 Referência JCC

A edição de fim de semana da revista IstoÉ, antecipada para hoje (3), trouxe denúncias devastadoras. As mais de 400 páginas da suposta deleção premiada oferecida pelo ex-líder do governo da presidente Dilma no Senado, Delcídio do Amaral, a ser confirmada e homologada pelo Supremo Tribunal Federal, trazem uma situação política de gravidade sem precedentes na história. A gravidade se explica por envolver representantes dos três poderes da República: ministros de Estado, de tribunais superiores e do tribunal de contas. 

Quando achávamos já que tínhamos visto de tudo, o que vimos hoje é estarrecedor. O delator era, até o fim de 2015, o líder do governo do Senado, filiado ao mesmo partido da presidente da República. Não se trata, portanto, de um senado desinformado. Ele sabia, sim, das coisas, fazendo inclusive parte do chamado núcleo duro do governo. 

As 11 páginas da reportagem da publicação de circulação nacional mostram a riqueza de detalhes da suposta delação, relatando encontros reservados em salas do Palácio do Planalto e passeios pelos gramados do Palácio do Alvorada. As denúncias envolvem as mais altas autoridades da República em movimentos de obstrução da Justiça. E quando um presidente da República faz isso trata-se de um crime de responsabilidade. 

Ele informa que a presidente Dilma tinha total conhecimento sobre o episódio envolveu a venda da refinaria de Pasadena, o embrião do escândalo do Petrolão, que produziu um mar de corrupção a nos surpreender não só pelos volumes, mas pelo nível de sofisticação como o Estado brasileiro foi sequestrado por mecanismos de delinquência.  

A revista mostra que o senador Delcídio se apresentou como garoto de recados do ex-presidente Lula, intermediando conversas com Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, indicado pela presidente Dilma, para comprar o seu silêncio e excluir o ex-presidente de todo essa confusão gestada em seus dois governos. 

Outra surpresa está em algumas reações à reportagem. O até ontem figura de confiança do governo acaba de receber a desqualificação pública do ex-ministro da Justiça, atual advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo. De forma intempestiva, ele se refere ao senador petista com palavras duras, como sendo um falastrão e mentiroso. Ora, Delcídio era também presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, indicado pelo partido da presidente. Isso significa que tudo o que ele criou em matéria de relações e qualificação perante o governo virou pó. 

O senador Delcídio encontra-se em investigação na Comissão de Ética do Senado, onde terá espaço para apresentar o contraditório e se defender, como manda o Estado Democrático de Direito, a partir da reunião marcada para a próxima quarta-feira. À luz dos fatos de hoje, o Senado precisa se posicionar sobre este tema e apresentar uma resposta. Não podemos nos comportar como se tivéssemos numa redoma, como se não tivéssemos de tratar de tema do maior interesse da sociedade brasileira.

Por Camila Uliana Donna