ECONOMIA CAPIXABA

Dez empresas saem do mercado por dia no Espírito Santo.

De janeiro a maio deste ano, 1.565 negócios foram extintos.

Em 17/06/2015 Referência JCC

Muitos empresários têm sofrido os reflexos da desaceleração da economia brasileira. No Espírito Santo, não é diferente. De janeiro a maio deste ano, 1.565 empresas fecharam as portas, o que significa que nesses cinco meses, dez empresas fecharam por dia em todo o Espírito Santo. Os dados são da Junta Comercial do Estado. O número é o maior dos últimos três anos para o período.

Em 2013, no mesmo intervalo, 1.296 empresas foram extintas. No ano passado, 1.417 encerraram suas atividades, um aumento de 9,3%. O crescimento de 2014 para 2015 foi de 10,4%. Em janeiro, foram 276 fechamentos; em fevereiro, 246; em março, 361; em abril, 332 e, em maio, foram 350 empresas extintas no Espírito Santo, segundo a Junta Comercial.

Mas esse número pode ser ainda maior. De acordo com o secretário-geral da Junta Comercial, Paulo Juffo, em geral os empresários mantém suas inscrições ativas, quando há uma crise, para voltar com o negócio quando a situação melhorar. “Quando o empreendedor desiste mesmo ou não consegue voltar às atividades, ele costuma demorar um tempo para registrar a baixa na Junta”, explica.

Foto: Guilherme Ferrari

Percentual de empresas que fecharam as portas de 2014 para 2015 passa dos 10%, mas número pode ser maior.

Crise
O economista Orlando Caliman, no entanto, destaca que o momento ruim da economia tem contribuído para muitos fechamentos de empresas. “A economia parou de crescer e está até decrescendo, o desemprego e a inflação aumentando, isso naturalmente faz com que, principalmente empresas que já vinham com algum problema, passem a ter mais problemas e não aguentar o tranco da economia. Essa é a razão do número maior de morte de empresas”, analisa.

O diretor financeiro da Fecomércio, Marcus Magalhães, detalha que o comércio tem sentido muito o cenário de crise e que o consumo retraiu muito por causa do alto endividamento das famílias. “Todo mundo esperava um ano difícil, mas ninguém poderia esperar tantas dificuldades como passa o empresariado. É um grau de estresse muito grande. Tivemos uma diminuição no varejo em geral por causa do alto grau de endividamento das famílias. Isso faz com que as economias não andem e os comércios comecem a fechar acima da normalidade. Acreditamos que isso vai continuar acima da média até o final do ano”.

O forte reflexo no comércio, observa Magalhães, revela uma crise sistêmica. “O comércio é a ponta da lança de toda a economia. Então, se o comércio não vende, não gera emprego, não faz encomenda para a fábrica, não gera impostos. O termômetro da economia é o comércio. Se ele vai mal, toda a cadeira produtiva vai mal”, pontua.

Até mesmo o segmento da prestação de serviços tem sentido os reflexos da desaceleração da economia. Para o presidente do Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços do Espírito Santo (Sindepres), Mario Cesar Ribeiro, o setor geralmente é o “último segmento da fila” a ser atingido.

“Até dezembro do ano passado, estávamos imunes à crise. Nesse ano, a crise veio e em janeiro tivemos queda de 1,5% na criação de empregos formais. Mas nossa base são micro e pequenas empresas, que fecham e abrem com muita facilidade. Temos frequência de fechamento mas também abertura de novas empresas”.

Retrato capixaba

Retrato capixaba
Móveis e vestuário entre os setores mais atingidos

O volume de vendas no varejo brasileiro caiu 0,4% em abril frente a março, terceiro mês seguido de perdas, de acordo com os dados do IBGE. Foi a maior queda para um mês de abril desde 2003. Entre os setores mais atingidos estão o de móveis e eletrodomésticos, tecidos, vestuário e calçados.

“Isso acontece por dois efeitos: o efeito real, de pessoas que perderam o emprego e ficaram receosos de fazer qualquer gasto, mas há também o elemento psicológico. Muita gente se sente amedrontada na crise e passa a ter um comportamento de precaução”, explica o economista Orlando Caliman.

O setor que sofre menos é o de supermercado, já que as pessoas têm que comer, afirma o diretor financeiro da Fecomércio, Marcus Magalhães. “Mas os empresários supermercadistas são unânimes: o tiquete médio da compra diminuiu. A população da classe média não compra mais a marca, ele procura uma segunda linha, de valor menor”.

Oferta de emprego pelos Sines cai mais de 40% em todo o Estado

Ter uma pós-graduação no currículo não foi suficiente para evitar que Cássia Rosa de Azevedo, 29 anos, ficasse na fila do desemprego. Formada há sete anos em Sistemas de Informação, ela conta que sempre atuou na sua área. No entanto, nos últimos seis meses - tempo em que está sem emprego -, Cássia não conseguiu retornar ao mercado de trabalho. “Dificuldade para preencher vagas sempre existiu, mas acho que ultimamente está pior”, diz.

A jovem não é a única na fila do desemprego, que tem crescido cada vez mais, como consequência da queda na oferta de vagas nas agências de emprego. Para se ter uma ideia, nas 11 agências do Sine vinculadas ao Governo do Estado, de janeiro a abril de 2014 foram ofertadas 10.072 vagas de trabalho. No mesmo período deste ano, foram 5.854 vagas de emprego ofertadas: uma redução de 41%.

Entre as áreas que mais perdem vagas de emprego estão serviço, comércio e indústria de transformação.

Já a Agência do Trabalhador de Cariacica registou uma redução 6.308 vagas de empregos. De janeiro a maio deste ano, a oferta foi de 9.350 chances, contra 15.658 oferecidas no mesmo período de 2014.

O Sine da Serra ofereceu 1.344 postos a menos nos primeiros cinco meses do ano ante o mesmo período de 2014. O secretário de Trabalho, Emprego e Renda, Romário de Castro, atribui essa redução ao momento econômico do país, no qual as empresas precisaram demitir para reduzir custos.

O Sine de Cachoeiro de Itapemirim ofereceu, no ano passado, 1.112 empregos de janeiro até o mês de maio. No mesmo período deste ano, o número caiu para 281. Dados da prefeitura reforçam que 2015 está sendo bem pior do que 2014 no quesito demissões. Este ano teve mais gente perdendo o emprego do que sendo contratada. Nos quatro primeiros meses, 5.532 foram empregadas, enquanto 5.589 foram demitidas.

O coordenador do Sine Vila Velha, Ricardo Reis, informou que nos cinco primeiros meses deste ano foram 1.026 chances, contra 1.682 de 2014. “A economia parou de crescer, por isso, é inevitável o fechamento de vagas”.

Na contramão da queda no número de vagas, o Sine de Vitória registrou um aumento na oferta de oportunidades. Segundo o órgão, de janeiro a maio de 2015, foram gerados 1.377 empregos. No mesmo período de 2014, foram 1.223 vagas. Esse aumento é reflexo da busca do órgão para estabelecer parcerias com mais empresa, para compensar a redução no número de solicitações de vagas.

Os postos de trabalho perdidos
Cariacica
A Agência do Trabalhador de Cariacica registou uma queda de 6.308 no número de oferta de vagas. De janeiro a maio deste ano, foram oferecidas 9.350 oportunidade, enquanto que no mesmo período do ano passado, foram 15.658.
Vila Velha
No Sine de Vila Velha, 656 novas vagas foram perdidas este ano. Se de janeiro a maio do ano passado eram 1.682 vagas, este ano foram 1.026 vagas abertas. A maior parte dessas oportunidades foi destinada ao reposicionamento
de pessoal.
Serra
No Sine da Serra, nos primeiros meses do ano foram 3.490 vagas oferecidas, enquanto que, no mesmo período do ano passado, eram 4.834. De acordo com o órgão, são 1.344 chances a menos.
Cachoeiro
O Sine ofereceu no ano passado 1.112 empregos em Cachoeiro de Itapemirim de janeiro até o mês de maio. No entanto, no mesmo período deste ano, o número caiu para 281 oportunidades apenas.
Estado
Nas 11 agências do Sine vinculadas ao Governo do do Estado, de janeiro a abril de 2014, foram ofertadas 10.072 vagas de trabalho. No mesmo período, neste ano, foram 5.854 vagas, refletindo o cenário nacional. A redução foi de 4.218 chances. No Espírito Santo, além da área de serviço e comércio, a indústria de transformação também sofre com a diminuição do consumo.
(Fonte: Órgãos consultados)

Cursos para conseguir colocação

Um curso de qualificação pode ser uma boa saída para quem quer arranjar um emprego ou até mesmo trabalhar por conta própria. As agências do trabalhador ligadas aos municípios costumam oferecer esse tipo de treinamento.

O gerente de Capacitação Profissional, Emprego e Renda de Cariacica, Joe Jerffson Almeida Lima, observa a importância de se qualificar.

“Se a pessoa não consegue emprego como pintor, por exemplo, pode fazer um curso de pedreiro. Isso vai abrir o leque de opções para retornar o mercado. Há, ainda, aqueles que fazem um curso de cabeleireiro e abrem o próprio salão”, afirmou.

Já o coordenador do Sine Vila Velha, Ricardo Reis, também defende que o profissional precisa se tornar multifuncional para voltar ao mercado.

Por Gazetaonline