OPINIÃO

É degradante, é asqueroso, é vitalício

Bolsonaro é devoto da cloroquina, o papis do senador das rachadinhas, o amigo do Queiroz.

Em 31/01/2021 Referência CCNEWS, Redação Multimídia

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Enquanto brasileiros morrem como moscas em hospitais que mais parecem acampamentos medievais de curandeirismo, onde há falta de médicos, enfermeiros, macas, equipamentos, remédios e agora até de oxigênio, uma casta abjetamente privilegiada gastou, apenas em 2020, cerca de 15 milhões de reais com tratamentos de saúde.

Estou me referindo a 77 senadores e 184 ex-senadores que espetaram a conta milionária no lombo dos otários pagadores de impostos, que ironicamente são os mesmos que os colocam no Senado Federal para, ao contrário do que fazem, trabalharem em prol de seus estados e, no limite, da população brasileira como um todo.

Mas não pense o leitor amigo que a regalia asquerosa é exclusiva dos senadores, não. Toda casta do funcionalismo público, nos três poderes (executivo, legislativo e judiciário), em todas as esferas (municipal, estadual e federal) goza de privilégios semelhantes, igualmente pagos pela sociedade brasileira. Por quê? Ora, porque sim.

Jair Bolsonaro, o devoto da cloroquina, o maníaco do tratamento precoce, o papis do senador das rachadinhas, o amigo do Queiroz, o marido da receptora de cheques de milicianos, o mito que iria acabar com as mamatas, com o toma lá dá cá, com as safadezas do centrão e retirar Brasília das costas do povo e dos empresários, é um destes.

Como ele, até hoje não nasceu político ou governante que tenha proposto – e feito aprovar -, em qualquer canto deste miserável pedaço de chão, uma lei que retirasse imediatamente este “direito adquirido”, às custas de “deveres indevidos”, dos bolsos dos brasileiros, sejam pobres ou ricos, jovens ou velhos, petralhas ou bolsominions.

Os governos do País (municipal, estadual e federal) criam, aprovam, julgam e executam leis que beneficiam apenas a si mesmos e aos seus. Na maioria dos casos, inclusive, benefícios absurdos são extensivos a familiares, quando não raro transmitidos de pais para filhos, sob a forma de aposentadorias especiais (o que inclui todo o pacote).

Como sempre digo por aqui, pouco importa a ideologia – se esquerda ou direita – ou o partido político. Pouco importam regionalidade, etnia, credo, gênero e idade. O modus operandi dos políticos que dominam o tal do “sistema” é imutável há pelo menos 200 anos. Tudo para eles e nada para a sociedade. Entra ano, sai ano e nada muda.

As lufadas de brisa fresca em meio ao ar fétido e denso que emana dos Poderes, na figura de alguns poucos políticos de novas gerações, e de um partido apenas, o Novo, não conseguem transpor o altíssimo muro que mantém intocado este deplorável estado de coisas. São como o nanico Davi, desarmado, diante do gigante Golias.

Enquanto a maioria absoluta dos brasileiros não deixar de idolatrar políticos e governantes, e começar a tratá-los como trabalhadores comuns, que devem receber salários e benefícios compatíveis com seus cargos e funções, mediante o cumprimento dos seus deveres, teremos que bancar para sempre a festa que nunca fomos convidados.

Ah! O plano de saúde dos senadores é vitalício. Ou seja, avise seus filhos, netos e bisnetos.

Sobre o autor

Ricardo Kertzman, é blogueiro, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, reclamou do hospital, brigou com o obstetra e discutiu com a mãe. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração. (IstoÉ)