EDUCAÇÃO

Estudantes da USP levam Brasil pela 1ª vez a competição em Harvard.

De exatas, humanas e biológicas, eles fizeram projeto de biologia sintética.

Em 31/10/2015 Referência JCC

Começa neste sábado (31) a quinta edição da Biomod, uma competição de biologia sintética patrocinada por um instituto da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Pela primeira vez, o Brasil (e a América do Sul) estarão representados no evento, graças a um grupo de dez estudantes da Universidade de São Paulo (USP) que formaram uma equipe "interdisciplinar" e "indisciplinar". Adeptos da "ciência aberta", eles propuseram a ideia sem precisar da iniciativa de professores e arrecadaram cerca de R$ 20 mil de maneira independente para garantir a ida do grupo ao torneio.

Segundo o estudante de química Otto Heringer, de 25 anos, que integra a equipe batizada de Protomatos, a USP permitiu o uso de seus laboratórios para os trabalhos de desenvolvimento do projeto e professores doaram do próprio bolso um valor de cerca de R$ 2.500.

O resto do dinheiro foi arrecadado fora do meio acadêmico, em duas frentes principais: a venda de colares com o formato de moléculas, que rendeu aos jovens cerca de R$ 800, e uma campanha de financiamento coletivo com meta inicial de R$ 7 mil, mas que até a noite desta sexta já tinha arrecadado mais de R$ 15.800 (o prazo final de doações termina neste domingo).

Ciência aberta
Otto afirma que a ideia de buscar financiamento independente não é uma reação à falta de apoio institucional ao projeto, mas parte do conjunto de princípios que o grupo segue, ligado à ciência aberta. A ideia é quebrar as amarras da estrutura convencional de produção científica. Isso vai além de reunir estudantes dos mais variados cursos da USP, de arquitetura a ciências biomédicas, passando pelas ciências sociais e a física.

Os estudantes também passaram por cima da necessidade de ter um professor sugerindo o projeto, como costuma acontecer. Segundo eles, primeiro o grupo foi atrás da ideia, depois procurou professores para angariar apoio.

Além disso, eles dizem que fazem parte da "cultura maker", que estimula a criatividade e o empreendedorismo para que mais pessoas aprendam sobre o funcionamento de objetos e equipamentos do cotidiano e possam construir em cima desse conhecimento.

Para Lucas Nishida, estudante de ciências biomédicas, parte do projeto que a equipe vai apresentar neste fim de semana em Harvard passou pelo estabelecimento de uma "conexão" entre o mundo acadêmico e a sociedade além dos muros da instituição. "Essa conexão permitiu que tudo isso de legal acontecesse, permite que a gente esteja aqui divulgando
ciência para o público leigo, mostrando o quão importante esse tipo de projeto é, para fazer com que o Brasil tenha um papel relevante no mundo científico também no exterior."

Custos
O valor arrecadado pelos jovens garantiu o pagamento da inscrição de todos os integrantes do grupo na Biomod, mas não cobre todos os custos da viagem: eles conseguiram hospedagem gratuita com estudantes brasileiros que moram em Harvard, e muitos pagaram a passagem até os Estados Unidos com o próprio dinheiro.

A Biomod acontece durante o fim de semana em duas fases: na primeira, todas as equipes participantes farão uma apresentação de dez minutos sobre seus projetos.

O júri também vai considerar outras fases do trabalho de cada grupo, incluindo o vídeo final produzido por cada um. A produção da equipe brasileira foi gravada no Centro de São Paulo. No domingo acontece o anúncio dos vencedores e a premiação. Segundo a organização do evento, o objetivo é premiar o grupo que tiver "a ideia mais legal" de projeto usando as "moléculas da vida".

Nanomáquinas e DNA origami
A ideia desenvolvida pelos brasileiros é usar um software desenvolvido pelo pesquisador da USP Cássio Alves, do Instituto de Física (IF), que permite criar diferentes tipos de desenhos em 3D para as moléculas de DNA. A técnica usada pelos jovens, conhecida como DNA origami, consiste em programar as moléculas para que elas formem esses desenhos e passem a funcionar como "nanomáquinas".

O uso dessas máquinas varia, mas tem como objetivo otimizar o trabalho feito por enzimas para a produção mais econômica de diversos tipos de substâncias usadas todos os dias, como os remédios. Entenda mais sobre o processo das nanomáquinas.

Segundo Otto, o grupo acabou se tornando pioneiro na área da aplicação de DNA origami no Brasil, já que ainda há poucos pesquisadores atuando com a técnica. "Acho que isso é um indício muito forte de que, para você inovar mesmo em ciência e tecnologia, o caminho mais curto é o da ciência aberta e democrática", disse ele.

"Ninguém no Brasil antes conseguiu fazer um experimento com sucesso como o nosso, que realmente construiu uma estrutura de DNA. A gente se apropriou de uma teoria muito bem feita, que foi feita em colaboração com o exterior, e usou isso para criar colaboração local. A ciência aberta é o caminho mais prático para obter impacto não só econômico, mas social também, e deixar a ciência mais próxima das pessoas."

Fonte: G1