EDUCAÇÃO

Formados em universidades nos EUA listam razões para não voltar ao Brasil.

Formandos brasileiros até têm planos de retornar ao país, mas não agora.

Em 11/06/2017 Referência JCC - Vanessa Fajardo

O Brasil está entre os dez países que mais enviam alunos para o ensino superior nos Estados Unidos, segundo o relatório Open Doors, do Instituto de Educação Internacional (IIE). Mas nem todos que vão, voltam.

O G1 ouviu alunos que se formaram recentemente em universidades de ponta para saber por qual motivo decidiram não voltar ao Brasil agora.

Segundo o IIE, no ano letivo de 2014-2015 os Estados Unidos registraram 23.675 brasileiros matriculados no ensino superior americano. No ano letivo anterior, o número era de 13.286. Os brasileiros atualmente representam 2,4% do total de estudantes estrangeiros nos EUA.

Gabriel Guimarães, de 23 anos, formado em Harvard, no curso de ciência da computação

“Vou morar em São Francisco para trabalhar em uma startup. Meu sonho grande é criar uma empresa de tecnologia maior que o Google no Brasil e acho que o melhor caminho é aprender e conseguir contatos e recursos no Vale do Silício. Acho que ir para São Francisco por uns anos é o melhor jeito de ajudar o Brasil a longo prazo.

Meu objetivo é voltar para o Brasil em aproximadamente cinco ano para empreender com o que aprendi aqui. Eu sou muito apaixonado pelo meu país.”

Taci Pereira, de 22 anos, formada em Harvard, no curso de bioengenharia

“Me formei em bioengenharia e trabalhei bastante com imunoterapia do câncer e engenharia de tecidos. Vou morar na Filadélfia e trabalhar em uma startup chamada de BioBots, que faz impressoras 3D de tecidos. Meu sonho é que as pessoas possam imprimir órgãos para fazer transplantes quando necessário.

Não vou ter uma oportunidade dessa equivalente no Brasil ainda. Por isso vou ficar nos Estados Unidos por mais um tempo para aprender o máximo que eu puder com os líderes da área e poder levar para o Brasil. A gente tem de parar de perder pesquisadores para os Estados Unidos e outros países.

Eu amo muito meu país, quero voltar daqui a três anos, provavelmente. Quero fazer algo que tenha impacto mundial e para fazer isso, e carregar o nome do Brasil comigo, tenho de aprender com os melhores.”

Larissa Maranhão, de 23 anos, formada em Harvard, no curso de economia

“Nenhum de nós [da turma que se formou em 2017] vai voltar para o Brasil imediatamente. Mas todos nós temos o sonho e o compromisso de um dia voltar trazendo o conhecimento e os recursos, que estamos trabalhando duro para construir, de volta para o nosso brasil.

Por enquanto estou indo para São Francisco me juntar a mais dois brasileiros incríveis que estão com um projeto novo muito legal no Vale do Silício. Vou trabalhar numa empresa que dois amigos meus acabaram de fundar. É uma empresa financeira no setor de tecnologia, ainda não temos nome, é muito nova, mas é uma oportunidade incrível. Vamos dar o melhor para representar bem o Brasil no Vale.

No futuro quero trabalhar em projetos que desenvolvam educação e renda, a princípio em Alagoas, que é meu estado.”

Henrique Labella, de 22 anos, formado na Universidade de Michigan, no curso de engenharia química

"Estou trabalhando em parceria com a Exxon Mobile numa pesquisa do departamento de engenharia quimica, do professor H. Scott Fogler, que escreveu o livro didático de reatores mais usado no mundo. Eu achei uma boa oportunidade.

Cogitei, sim, voltar ao Brasil e com certeza farei isso em algum momento a longo prazo. Mas aqui as oportunidades são muito boas, principalmente no campo da pesquisa, o que nem se compara ao Brasil."

João Henrique Vogel, de 23 anos, formado em Harvard, no curso de sociologia

"Sempre tive o sonho grande de contribuir para a melhora da qualidade de vida dos brasileiros. Antes da faculdade, achava que isso significava entrar na política, mas ao longo do curso eu fui exposto a outros canais de impacto que me atraem mais do que política atualmente.

Quando terminei a faculdade em maio do ano passado, conclui que seria muito pretencioso acreditar que eu poderia voltar ao Brasil, entrar na política e 'salvar o mundo'. Além de já ter muita gente boa tentando melhorar o Brasil há muito tempo, eu ainda preciso acumular bastante experiência profissional, credibilidade e independência financeira antes de ser capaz de melhorar a qualidade de vida dos brasileiros.

Então decidi passar um bom tempo dedicado a aprender e crescer profissionalmente no setor privado antes de migrar para o terceiro setor, ou academia, ou setor público. As oportunidades profissionais que tive acesso quando me formei foram bem mais atraentes aqui nos Estados Unidos do que no Brasil, por isso decidi ficar por mais um tempo, mas pretendo, sim, voltar ao Brasil porque ainda sinto falta da minha família e da minha cultura."

Bárbara Cruvinel Santiago, de 22 anos, formada em Yale, no curso de física

"Eu pensei muito em voltar pro Brasil durante os últimos dois anos. Porém, se eu voltasse agora, eu gostaria de trabalhar com políticas públicas, e na minha opinião, quem trabalha seriamente com isso na minha área, deve ter mais background educacional que só o bacharelado.

Fora isso, quem eu vejo voltando para o Brasil geralmente volta para trabalhar no mercado financeiro, mas eu acho que eu faço muito mais pelo Brasil continuando na área de pesquisa científica (que é o que gosto e fui treinada pra fazer) fora do país do que voltando para trabalhar em banco ou consultoria.

Eu levei isso em conta quando eu decidi ficar fora pelo menos nos próximos anos. Infelizmente, por mais que a situação de financiamento de pesquisa nos Estados Unidos não esteja ideal ainda mais na nova administração, está muito melhor que no Brasil, o que a gente vê até mesmo pela fusão do ministério da ciência com o das telecomunicações.

Se eu quiser continuar levando o nome do país em pesquisa para frente, infelizmente, seria melhor que eu continuasse minha formação fora pelo menos até completar meu doutorado. Então, após receber algumas propostas nos Estados Unidos e em dois outros países, decidi que vou trabalhar com pesquisa por um ano enquanto eu me candidato a programas de PhD em física nos Estados Unidos."

(Foto:  Edgard Baptista Guimarães)