CIDADE

Grande Vitória/ES tem garantia de água só para mais 20 dias, alerta Cesan.

Abastecimento da Serra, de parte de Vitória e de Cariacica está ameaçado.

Em 21/09/2016 Referência JCC

A Represa Rio Bonito – localizada no Rio Santa Maria da Vitória, próximo a Santa Maria de Jetibá – possui água suficiente para apenas mais 20 dias, informou nesta segunda-feira (19) a Cesan. É este manancial que garante o abastecimento da Serra, parte continental de Vitória e parte de Cariacica.

O secretário-executivo do comitê da bacia do Rio Santa Maria da Vitória, Roberto Ribeiro, disse que, da represa, ainda continuam sendo liberados cerca de 2.500 litros/segundo. E chegam nela cerca de 1.000 litros/segundo. “Sem chuva, pode chegar um momento em que não será mais possível saber quanto há de água no local”, pondera.

Assim como no Rio Jucu, as águas do Rio Santa Maria da Vitória, em decorrência da redução de suas vazões, já não chegam mais ao mar.

Enrocamentos – pequenos muros de pedras – foram feitos para aumentar o volume dos rios nos pontos de captação de água da Cesan. E mesmos nestes locais o nível está tão baixo que já é difícil obter a água para o abastecimento. “A situação é muito grave”, pontua Ribeiro.

Críticos
Nesta segunda-feira, a Cesan solicitou à Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh) que incluísse os cinco municípios da Grande Vitória na lista dos que estão em situação extremamente crítica.

A assessoria de imprensa da agência informou que a solicitação deve ser aceita, assim como foi feita com as demais cidades.

Com a medida, nestas cinco cidades a irrigação fica proibida de ser feita em qualquer hora do dia. Antes ela era autorizada apenas à noite.

Na mesma condição estão outras cidades da Região Serrana, ao longo das margens do Jucu e do Santa Maria da Vitória, incluídas no dia 9 de setembro.

É o caso de Domingos Martins, Marechal Floriano, Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina. Para estas cidades também vale a restrição de irrigação.

A mesma legislação determina ainda que o prioridade deve ser o consumo humano e animal, em detrimento do abastecimento industrial e da agricultura.

Sufoco
De acordo com Roberto Ribeiro, já nos afluentes e na parte superior dos rios do Jucu e Santa Maria da Vitória, já não é possível irrigar as propriedades há mais de quatro meses por falta de água nos rios. “A situação piorou mais acentuadamente para a Grande Vitória agora. Os produtores vem enfrentando o problema de racionamento há meses”, relatou.

E mesmo que chova, acrescentou, a situação vai amenizar para os moradores da Grande vitória. Já os produtores vão ter que esperar de um ano e meio até quatro, dependendo da cultura, para recuperar os prejuízos. “Isto se tiver chuva normal nas próximas semanas”, assinalou.

Vazão dos rios está abaixo do limite crítico
Desde o início do mês as vazões dos que abastecem a Grande Vitória, que já estavam muito baixas, caíram muito em relação ao limite crítico. Ontem a do Rio Jucu estava mais de 47% abaixo do volume precário. Já o Rio Santa Maria da Vitória estava 42% abaixo do mesmo limite.

Segundo o diretor de engenharia e meio ambiente da Cesan, Amadeu Wetler, foi esta redução das vazões que acendeu o alerta de que não seria possível atender a demanda por água da Grande Vitória.

Rodízio
Ele explicou que a água retirada dos rios é tratada e permanece em reservatórios da companhia. Será o nível deles que vai determinar a ordem de racionamento das áreas. “Aquele que tiver com o nível mais crítico deve liderar o rodízio”, explicou Amadeu.
Uma situação histórica, acrescentou, já que é a primeira vez em que a Grande Vitória vai enfrentar um racionamento de água. “Vivemos a pior seca dos últimos 80 anos” pontuou Wetler.

Escolas podem ter que mandar alunos para casa
Com o racionamento de água, algumas escolas na Grande Vitória podem ter que suspender aulas. No entanto, a previsão é de que a medida só seja tomada em casos extremos.
Na rede particular, a possibilidade de liberar os alunos foi admitida pelo presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado do Espírito Santo (Sinepe-ES), Antônio Eugênio Cunha, mas só em casos “raríssimos” e pontuais.

“Já estamos com um programa de consumo consciente de água há muito tempo. Estamos trabalhando a conscientização dos nossos alunos e toda a rede trabalha consumindo água de maneira racional. Por isso, já é um hábito que está implantado em nossas escolas”, explica o presidente.

Ele também afirma que vários estabelecimentos possuem reservatórios grandes, o que aliado a essa política de consumo consciente, garante o funcionamento das escolas durante o dia em que as regiões não forem abastecidas.

Já a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informou que as unidades escolares da rede estadual possuem reservatórios de água (caixa d’água) capazes de suportar o racionamento previsto.

Segundo o diretor da Cesan, Amadeu Witler, a maioria das cerca de 900 escolas da Grande Vitória contam com bons reservatórios de água e devem enfrentar o racionamento sem problemas. “Mas, eventualmente, algumas delas podem ter que suspender as aulas em algum turno, não há alternativa”, assinalou.

Hospitais
Já os hospitais vão ter o abastecimento de água garantido, independentemente do racionamento. Para eles não haverá cortes e nos casos em que houver problemas, a água será garantida por meio de carros-pipas.

Análises
“Medida veio tardiamente”
O racionamento é uma medida que veio tardiamente. Já venho abordando esse tema desde 2014. Se não chover até outubro, vamos ter falta de água para consumo humano. Há medidas de curto, médio e longo prazo para essa questão. Para o curto prazo seria a construção de poços de alta vazão depois de um estudo hidrogeológico adequado. A médio e longo prazo vem a recuperação das áreas de recarga, que são as que ficam acima das nascentes. O racionamento chega quase um ano depois do necessário. É preciso tirar projetos de recuperação ambiental do papel.
Marco Bravo - consultor ambiental e comentarista da CBN“Racionamento é um mal necessário”
Não é bom para ninguém, nem para a concessionária (Cesan), nem para o governo, nem para a população. Mas o racionamento é um mal necessário. Temos que estar mais preparados para uma próxima estiagem, com mais reserva de água. No Norte do Espírito Santo, vários racionamentos aconteceram. Dessa vez a seca foi prolongada e alcançou a Grande Vitória, onde não houve seca tão grande nos últimos anos como esta. É necessário acelerar instrumentos para economia de água, como preservação das bacias hidrográficas, planejar onde vai fazer reservatório, tomar medidas de redução de demanda, gerar economia. E evitar ações isoladas de reservatórios e pensar soluções que sirvam à bacia inteira. Pode-se também conscientizar a população de que a água não é infinita.
Antônio Sérgio Ferreira Mendonça - doutor em engenharia de recursos hídricos e professor da Ufes

“Tem que plantar e diminuir consumo”
O racionamento tem que ser feito. A água está no final. Para resolver, tem que plantar árvore e diminuir o consumo. No Brasil o consumo é de 300 litros por segundo (l/s). Na Suécia, 50 l/s.

A Represa Rio Bonito – localizada no Rio Santa Maria da Vitória, próximo a Santa Maria de Jetibá – possui água suficiente para apenas mais 20 dias, informou nesta segunda-feira (19) a Cesan. É este manancial que garante o abastecimento da Serra, parte continental de Vitória e parte de Cariacica.

O secretário-executivo do comitê da bacia do Rio Santa Maria da Vitória, Roberto Ribeiro, disse que, da represa, ainda continuam sendo liberados cerca de 2.500 litros/segundo. E chegam nela cerca de 1.000 litros/segundo. “Sem chuva, pode chegar um momento em que não será mais possível saber quanto há de água no local”, pondera.

Assim como no Rio Jucu, as águas do Rio Santa Maria da Vitória, em decorrência da redução de suas vazões, já não chegam mais ao mar.

Enrocamentos – pequenos muros de pedras – foram feitos para aumentar o volume dos rios nos pontos de captação de água da Cesan. E mesmos nestes locais o nível está tão baixo que já é difícil obter a água para o abastecimento. “A situação é muito grave”, pontua Ribeiro.

Críticos
Nesta segunda-feira, a Cesan solicitou à Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh) que incluísse os cinco municípios da Grande Vitória na lista dos que estão em situação extremamente crítica.

A assessoria de imprensa da agência informou que a solicitação deve ser aceita, assim como foi feita com as demais cidades.

Com a medida, nestas cinco cidades a irrigação fica proibida de ser feita em qualquer hora do dia. Antes ela era autorizada apenas à noite.

Na mesma condição estão outras cidades da Região Serrana, ao longo das margens do Jucu e do Santa Maria da Vitória, incluídas no dia 9 de setembro.

É o caso de Domingos Martins, Marechal Floriano, Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina. Para estas cidades também vale a restrição de irrigação.

A mesma legislação determina ainda que o prioridade deve ser o consumo humano e animal, em detrimento do abastecimento industrial e da agricultura.

Sufoco
De acordo com Roberto Ribeiro, já nos afluentes e na parte superior dos rios do Jucu e Santa Maria da Vitória, já não é possível irrigar as propriedades há mais de quatro meses por falta de água nos rios. “A situação piorou mais acentuadamente para a Grande Vitória agora. Os produtores vem enfrentando o problema de racionamento há meses”, relatou.

E mesmo que chova, acrescentou, a situação vai amenizar para os moradores da Grande vitória. Já os produtores vão ter que esperar de um ano e meio até quatro, dependendo da cultura, para recuperar os prejuízos. “Isto se tiver chuva normal nas próximas semanas”, assinalou.

Vazão dos rios está abaixo do limite crítico
Desde o início do mês as vazões dos que abastecem a Grande Vitória, que já estavam muito baixas, caíram muito em relação ao limite crítico. Ontem a do Rio Jucu estava mais de 47% abaixo do volume precário. Já o Rio Santa Maria da Vitória estava 42% abaixo do mesmo limite.

Segundo o diretor de engenharia e meio ambiente da Cesan, Amadeu Wetler, foi esta redução das vazões que acendeu o alerta de que não seria possível atender a demanda por água da Grande Vitória.

Rodízio
Ele explicou que a água retirada dos rios é tratada e permanece em reservatórios da companhia. Será o nível deles que vai determinar a ordem de racionamento das áreas. “Aquele que tiver com o nível mais crítico deve liderar o rodízio”, explicou Amadeu.
Uma situação histórica, acrescentou, já que é a primeira vez em que a Grande Vitória vai enfrentar um racionamento de água. “Vivemos a pior seca dos últimos 80 anos” pontuou Wetler.

Escolas podem ter que mandar alunos para casa
Com o racionamento de água, algumas escolas na Grande Vitória podem ter que suspender aulas. No entanto, a previsão é de que a medida só seja tomada em casos extremos.
Na rede particular, a possibilidade de liberar os alunos foi admitida pelo presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado do Espírito Santo (Sinepe-ES), Antônio Eugênio Cunha, mas só em casos “raríssimos” e pontuais.

“Já estamos com um programa de consumo consciente de água há muito tempo. Estamos trabalhando a conscientização dos nossos alunos e toda a rede trabalha consumindo água de maneira racional. Por isso, já é um hábito que está implantado em nossas escolas”, explica o presidente.

Ele também afirma que vários estabelecimentos possuem reservatórios grandes, o que aliado a essa política de consumo consciente, garante o funcionamento das escolas durante o dia em que as regiões não forem abastecidas.

Já a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informou que as unidades escolares da rede estadual possuem reservatórios de água (caixa d’água) capazes de suportar o racionamento previsto.

Segundo o diretor da Cesan, Amadeu Witler, a maioria das cerca de 900 escolas da Grande Vitória contam com bons reservatórios de água e devem enfrentar o racionamento sem problemas. “Mas, eventualmente, algumas delas podem ter que suspender as aulas em algum turno, não há alternativa”, assinalou.

Hospitais
Já os hospitais vão ter o abastecimento de água garantido, independentemente do racionamento. Para eles não haverá cortes e nos casos em que houver problemas, a água será garantida por meio de carros-pipas.

Análises
“Medida veio tardiamente”
O racionamento é uma medida que veio tardiamente. Já venho abordando esse tema desde 2014. Se não chover até outubro, vamos ter falta de água para consumo humano. Há medidas de curto, médio e longo prazo para essa questão. Para o curto prazo seria a construção de poços de alta vazão depois de um estudo hidrogeológico adequado. A médio e longo prazo vem a recuperação das áreas de recarga, que são as que ficam acima das nascentes. O racionamento chega quase um ano depois do necessário. É preciso tirar projetos de recuperação ambiental do papel.
Marco Bravo - consultor ambiental e comentarista da CBN“Racionamento é um mal necessário”
Não é bom para ninguém, nem para a concessionária (Cesan), nem para o governo, nem para a população. Mas o racionamento é um mal necessário. Temos que estar mais preparados para uma próxima estiagem, com mais reserva de água. No Norte do Espírito Santo, vários racionamentos aconteceram. Dessa vez a seca foi prolongada e alcançou a Grande Vitória, onde não houve seca tão grande nos últimos anos como esta. É necessário acelerar instrumentos para economia de água, como preservação das bacias hidrográficas, planejar onde vai fazer reservatório, tomar medidas de redução de demanda, gerar economia. E evitar ações isoladas de reservatórios e pensar soluções que sirvam à bacia inteira. Pode-se também conscientizar a população de que a água não é infinita.
Antônio Sérgio Ferreira Mendonça - doutor em engenharia de recursos hídricos e professor da Ufes

“Tem que plantar e diminuir consumo”
O racionamento tem que ser feito. A água está no final. Para resolver, tem que plantar árvore e diminuir o consumo. No Brasil o consumo é de 300 litros por segundo (l/s). Na Suécia, 50 l/s.Se começar a plantar floresta hoje, ela começa a dar retorno no segundo ano. Com a floresta, aumenta a capacidade de infiltração da água no solo. Sem floresta, a absorção é de 6%. Com ela é dez vezes mais. E floresta diminui o custo do tratamento porque, quando chove, é levado menos sedimento para os rios. Nós temos que ter atitude. Todo mundo sabe que não pode desmatar.
Renato Moraes de Jesus - engenheiro florestal e doutor em Ecologia“No desespero, é uma alternativa”
No curto prazo não há outra coisa a se fazer, a não ser esse racionamento na Grande Vitória. O que vemos hoje é o cumprimento de tudo aquilo que os cientistas já haviam previsto. A perfuração de poços e a dessalinização da água do mar são alternativas no médio e longo prazos, apesar dos custos. No caso da dessalinização, e da possibilidade de contaminação da água doce pela água salgada, se os poços forem feitos muito próximo ao litoral. Neste caso, os lençóis freáticos poderiam ser contaminados e a água ficaria salobra. Na verdade, tem que haver um conjunto de ações incluindo o reflorestamento, a proteção das nascentes e das matas ciliares e o incentivo à população usar cisternas em casa para captação de água da chuva. Esse conjunto pode reverter a situação.
José Luiz Gasparini - mestre em Engenharia e professor da Universidade de Vila Velha