CULTURA

Livro traz relato sobre os Botocudos no Espírito Santo

A obra "Índios Botocudos do Espírito Santo no século XIX", lançada pela Coleção Canaã do APEES

Em 05/07/2015 Referência JCC

A obra “Índios Botocudos do Espírito Santo no século XIX”, lançada pela Coleção Canaã do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), traz um dos primeiros e mais completos relatos sobre os índios botocudos que habitavam o Norte do Estado. O estudo foi publicado originalmente pelo alemão Paul Ehrenreich, em 1887, na Revista de Etnologia, da Sociedade Berlinense de Antropologia, Etnologia e História Primitiva. O livro foi disponibilizado online e pode ser baixado na íntegra no link: http://www.ape.es.gov.br/publicacoes.htm
 
O historiador Julio Bentivoglio destaca que a narrativa de Ehrenreich se situa entre o relato de viagem e o artigo de divulgação científica e traz as marcas de uma literatura tradicional e conhecida que tinha ávidos leitores na Europa, curiosos da natureza e dos povos que habitavam outros continentes, em especial aqueles que eram vistos como exóticos ou primitivos. Além do trabalho de Paul Ehrenreich, feito com rigor descritivo e analítico, o livro traz ainda os registros fotográficos empreendidos por Walter Garbe, em 1909, que mostram os botocudos em suas ações cotidianas e permitem adentrar em sua história e forma de vida.
 
Botocudos no Espírito Santo
 
Os índios aimorés ou botocudos são mencionados desde os primeiros anos da colonização do Brasil. O nome provém do uso dos botoques no lábio inferior e nas orelhas. Julio Bentivoglio afirma que a indicação de que eram canibais é controversa na literatura especializada, embora existam relatos de episódios em que teriam devorado colonos. No Espírito Santo o contato ocorreu desde o início da colonização no século XVI e foi marcado por conflitos sangrentos. A ocupação da faixa litorânea capixaba resultou na morte de milhares de botocudos – por doenças e atos de violência. 
 
Diversas ações, ao longo do tempo, foram efetivadas para disciplinar os botocudos e permitir a ocupação das terras, dentre elas está a redução dos índios aos “aldeamentos” que, segundo o historiador, representavam ao mesmo tempo um esforço administrativo, econômico, militar e religioso para a “civilização” dos indígenas. Com isso, tinha-se uma política indigenista oficial empenhada em transformar os botocudos em subordinados, apoderar-se de suas terras e combater aqueles que resistiam a isso.
 
Observações e vivências de Paul Ehrenreich
 
Paul Ehrenreich foi um destacado antropólogo alemão que estudou medicina e história natural. Começou os estudos de campo no Brasil em 1884. No período em que esteve no país visitou as províncias do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Amazonas, Mato Grosso e Goiás, nas quais percorreu rios e matas em arriscadas expedições. Além da descrição etnológica, interessavam-lhe aspectos físicos, morfológicos e a investigação da língua e dos mitos, tornando-se um dos maiores nomes da antropologia germânica nas Américas. 
 
O estudioso, conforme explica Bentivoglio, era um típico representante do interesse europeu pelas indígenas e pela natureza do Brasil. “Textos semelhantes devem ser lidos e interpretados a partir das relações sociais e de força em torno das quais se constituíram, expressando uma dada organização da sociedade e do tempo, bem como de práticas individuais e coletivas de produção e saberes”, argumenta.
 
No período no qual conviveu com os botocudos Paul Ehrenreich deixou registradas as suas impressões. Em seu trabalho observam-se pesquisas sobre a história, moradia, alimentação, adornos corporais, modo de vida, língua, doenças e curas, sepultamento, dentre outras informações que permitem traçar um panorama sobre a presença indígena no Espírito Santo. Dentre os povos da América do Sul foram eles os que mais despertaram o interesse do etnólogo, que afirmava serem os botocudos os senhores incontestáveis de suas florestas montanhosas, apesar da restrição empreendida sobre seus antigos territórios.
Fonte:Secom ES