ESPORTE NACIONAL

Longe dos holofotes e do esporte, João Havelange completa 100 anos

CBF realiza missa, enquanto Fifa parabeniza ex-dirigente discretamente.

Em 08/05/2016 Referência JCC

Um dos dirigentes mais importantes - e também mais questionados - da história do esporte mundial completa 100 anos neste domingo: Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange, mais conhecido como João Havelange. Porém, as homenagens provavelmente serão discretas, não compatíveis para quem revolucionou as Copas do Mundo como negócio e, por consequência, transformou a Fifa numa organização bilionária.

A entidade, porém, não previu qualquer homenagem - no site da Fifa, Havelange foi parabenizado numa nota que inclui outros aniversariantes, como o lateral Marcelo, do Real Madrid, e o ex-jogador holandês Bergkamp. A CBF, por sua vez, anunciou discretamente que realizará uma missa em homenagem ao ex-dirigente.

Mais conhecido como João Havelange, o brasileiro com raízes belgas foi afastado do esporte em abril de 2013, quando renunciou ao cargo de presidente de honra da Fifa. Dois anos antes, ele já havia deixado de ser membro do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Nos dois casos, Havelange saiu após denúncias de corrupção durante seu período na Fifa. Ele teria recebido milhões de dólares em propina da ISL em troca de contratos de transmissão para a Copa do Mundo. O caso, segundo relatório do Comitê de Ética da Fifa, em 2013, ocorreu entre os anos de 1992 e 2000, envolvendo também Ricardo Teixeira, ex-genro de Havelange e presidente da CBF no período em questão. O paraguaio Nicolás Leoz, outro citado no episódio, renunciou ao cargo de presidente da Conmebol e deixou o Comitê Executivo da Fifa. 

Filho de um comerciante belga que fez fortuna no Rio de Janeiro, João Havelange chegou a ser atleta de diferentes modalidades. Mas destacou-se mesmo como dirigente esportivo: primeiro na CBD, depois no COI e por último na Fifa.

Havelange foi eleito mandatário da entidade máxima do futebol em 1974, entrando no lugar do inglês Sir Stanley Rous. O brasileiro ficou no cargo mais importante desse esporte centenário até 1998, quando foi substituído pelo suíço Joseph Blatter, que só saiu no ano passado após a série de denúncias de corrupção na entidade que causou a prisão de dirigentes – inclusive o brasileiro José Maria Marin. 

Segundo o próprio site da Fifa, João Havelange comandou a entidade em um “período de profundas mudanças na organização”. Dentre as principais alterações, está o aumento no número de países na Copa do Mundo (de 16 para 32). Além disso, o brasileiro ajudou a criar novas competições de futebol.

Entre elas estão os Mundiais Sub-17 e Sub-20, no final da década de 80, e a Copa das Confederações e a Copa do Mundo feminina, no início da década de 90. De acordo com informações da página da Fifa, o número de funcionários da entidade aumentou de 12 para 120 na gestão de Havelange.
 
Durante a era Havelange, a Fifa organizou seis Copas do Mundo, mas a seleção brasileira ganhou apenas uma delas, em 1994, nos Estados Unidos. Além de ter feito parte dessa entidade por 24 anos, o carioca também presidiu a CBD (Confederação Brasileira de Desportos), de 1956 a 1974.

Naquela época, a confederação não cuidava apenas do futebol, mas também de outros 24 esportes. Pode-se dizer, então, que Havelange esteve à frente do futebol brasileiro em sua maior ascensão, nas conquistas das Copas do Mundo de 1958, na Suécia, 1962, no Chile, e 1970, no México.
 
Em 1963, João Havelange também foi eleito para o COI. Em 2011, porém, renunciou ao cargo, alegando problemas de saúde dias antes do Comitê julgá-lo pelas acusações de corrupção durante o período na Fifa.
 
O nome de Havelange foi citado em um relatório do Comitê de Ética da Fifa sobre recebimentos de propina entre 1992 e 2000 no caso ISL. A empresa de marketing esportivo obteve os direitos para várias Copas do Mundo, antes da falência em 2001, pagando comissões a membros da Fifa.

Em abril de 2013, o brasileiro renunciou ao cargo de presidente de honra da entidade após as acusações. Dois anos depois, até o estadio batizado em sua homenagem mudava de nome. Mais conhecido como Engenhão, a arena na Zona Norte do Rio passou a se chamar Estádio Nilton Santos - um pedido do Botafogo, que assumiu a administração do local.

Antes dos escritórios, um atleta versátil

A presença de João Havelange como dirigente esportivo não foi ocasional. Antes de frequentar escritórios, ele teve vivência assídua em campos, quadras e piscinas. Foi daí que tirou a base para a carreira que viria nos anos seguintes.
 
A formação esportiva de Havelange, criado no bairro das Laranjeiras, aconteceu, concomitantemente, no Liceu Francês, onde estudou, e no Fluminense. No clube tricolor, se dividiu entre modalidades variadas. Fez natação e pólo aquático. Foi às quadras para jogar vôlei e basquete. E se aproximou do futebol. Em 1931, foi campeão estadual juvenil pelo Flu.

A aptidão pelo esporte, em especial nas piscinas, levou João Havelange ao universo olímpico. Em 1936, ele participou dos Jogos de Berlim, na competição de natação. Atleta do Espéria, nadou os 400m e os 1.500m. Em 1952, foi a Helsinque, na Finlândia, pela equipe de pólo aquático. Nesta época, já trabalhava como dirigente esportivo, pavimentando o caminho que o levaria à Fifa.
 
Em 1948, Havelange virou presidente da Federação Paulista de Natação. De volta ao Rio de Janeiro, não deixou os gabinetes. Em 1952, assumiu como presidente da Federação Metropolitana de Natação. Quatro anos depois, já comandava a CBD, gênese da CBF e trampolim para a entidade que comanda o futebol mundial.

Apesar da trajetória esportiva de renome mundial e histórica, Havelange completa 100 anos em silêncio. A Fifa não prevê fazer qualquer tipo de manifestação a respeito do aniversário do seu ex-presidente, mas estará com um representante na festa em celebração à data, no Rio de Janeiro. De acordo com a agência EFE, Walter Gagg, um dos diretores do órgão, será o nome da entidade no evento. Nem mesmo o ex-presidente Joseph Blatter se fará presente.

Fonte:GE