MEIO AMBIENTE

Mais de 2 t de peixes mortos já foram recolhidas no Rio Doce, diz Ibama.

Segundo o órgão, animais são levados para um aterro em Aracruz.

Em 25/11/2015 Referência JCC

Mais de duas toneladas de peixes mortos já foram recolhidos ao longo do leito do Rio Doce no Espírito Santo, segundo o Ibama, até esta terça-feira (24). Somente na foz, foram recolhidos 700 animais neste domingo (22) e 170 nesta segunda-feira (23).

Quem está fazendo esse serviço são terceirizados de uma empresa contratada pela Samarco. A ação se fez necessária depois do rompimento de uma barragem em Mariana (MG), no dia 5 de novembro, que provocou o vazamento de uma lama de rejeitos de minério que atingiu o Rio Doce, fazendo com que muitos animais morressem e que a água ficasse imprópria para consumo.

Os funcionários saem em barcos todos os dias, ainda de madrugada, para recolher os animais que não resistiram à presença da lama. Eles contaram que precisam usar máscaras, por causa do mal cheiro.

Segundo o superintendente do Ibama no estado, Guanadir Gonçalves, o órgão está monitorando o serviço. Os animais mortos estão sendo levados para um aterro sanitário no município de Aracruz, Norte do estado.

Ainda de acordo com o Ibama, das 11 espécies ameaçadas de extinção que viviam no Rio Doce, seis foram resgatadas durante os trabalhos da operação Arca de Noé, em Baixo Guandu, Colatina e Linhares. Só um estudo vai apontar se as outras que não conseguiram ser realocadas foram extintas.

Para os moradores de Baixo Guandu, um dos municípios que dependiam do rio, é difícil ver a cena. "O lazer da gente era o rio, era pescar, a situação nos entristece muito", disse o pintor Rodrigo Nunes.

Já para a Associação Guanduense de Meio Ambiente, o momento é de estudar formas de recomeçar. "A gente não vai desanimar com isso aqui, agora é hora de recomeçar. As pessoas da cidade estão tentando unir forças para fazer com que esse rio fique lindo de novo na natureza", falou o representante da Associação, Marcelo Alvarenga.

Deslocamento da lama
A lama oriunda do rompimento da barragem da Samarco, cujos donos donos são a Vale a anglo-australiana BHP Billiton, já adentrou cerca de 15 km para o Norte do mar do Espírito Santo,  segundo informou o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), nesta terça-feira (24). Ao leste, mar adentro, a extensão é de 5 km e para o Sul são 7 km.

Segundo o secretário de Meio Ambiente, Rodrigo Júdice, as dimensões são alteradas conforme a mudança dos ventos. “Nos últimos dias, o que predominou no estado do Espírito Santo foi o vento sul e, por isso, a lama tomou essas extensões. Mas isso tudo pode mudar com a mudança dos ventos”, falou Júdice.

Um navio da Marinha vai ser enviado às praias de Linhares para tentar conter os estragos causados pelos rejeitos de mineração da barragem da Samarco.

A respeito das análises da qualidade da água presente no Rio Doce, o secretário destacou que existem dois tipos diferentes, sendo um relativo à potabilidade e outro que diz respeito aos danos ambientais. O resultado que se obteve, até o momento, foi sobre as condições da água para consumo.

“As análises que já foram feitas apontam que não há metais pesados, como o mercúrio. Existe ferro, manganês, fósforo e isso é normal, porque toda água possui esses elementos. O que prejudica a potabilidade é a quantidade deles. Podemos dizer que turbidez da água já alcançou padrões muito maiores, inclusive, em chuvas torrenciais aqui no estado”, destacou Júdice.

Já o exame da água para efeitos ambientais foi solicitada pelo Iema e está em processo de execução. Segundo o secretário, ainda não foi finalizada, pois aguarda o fluxo dos sedimentos do rio para o mar. “Temos que confrontar análises de antes e as de depois, mas os sedimentos continuam chegando, entrando no mar, então temos que esperar”, falou.

Mesmo sem resultado, Júdice ressaltou que os efeitos danosos ao meio ambiente já são visíveis, dada a quantidade de peixes mortos já registrada.

“A turbidez permite que os elementos se sedimentem no fundo do rio e do mar e afete os organismos bentônicos, que são aqueles organismos primários da cadeia alimentar. Isso impede que a cadeia alimentar tenha seu fluxo normal. A turbidez impede que a luz chegue ao fundo do mar e os animais dependem dela. Tudo isso já pode ser percebido independente de amostra”, explicou.

Colatina interrompe captação
A captação de água no Rio Doce, em Colatina, na região Noroeste do Espírito Santo, voltou a ser interrompida, por volta das 22h desta segunda-feira (23). Uma última análise realizada por engenheiros do Serviço Colatinense de Meio Ambiente e Saneamento Ambiental (Sanear) encontrou uma maior turbidez da água após a chuva.

"Estamos realizando análises constantemente da água do Rio Doce. Devido à chuva, a turbidez ficou mais complexa, gerou uma instabilidade da turbidez. Nosso procedimento é o seguinte: a gente trata um pouco da água, faz o teste e analisa se é possível continuar o tratamento. Ontem, a água parou no processo da análise", explicou a assessoria de imprensa da Prefeitura de Colatina.

Ainda segundo a prefeitura, os engenheiros e técnicos do Sanear realizam análises constantes do material e apenas prosseguem com o abastecimento quando há certeza da qualidade da água. "Hoje nós vamos fazer outras análises para ver se é possível liberar, estamos esperando também algumas análises de laboratórios particulares", concluiu.

Ação na Justiça
O governo do estado tem 15 dias para entrar com uma ação na Justiça contra a mineradora Samarco. De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Rodrigo Júdice, o prazo se deu a partir da propositura da ação cautelar, responsável pelas sanções já impostas à empresa, como o recolhimento de peixes e o plano de comunicação com as comunidades

Empregos em Anchieta
Preocupado com o emprego de mais de 1 mil trabalhadores e as atividades de comércio e serviços locais, o prefeito de Anchieta, Marcus Assad, protocolou um documento pedindo para que a Samarco mantenha os empregos dos funcionários nos próximos 12 meses, no Espírito Santo.

A empresa foi procurada nesta terça-feira (24) e disse que usará o tempo de licença remunerada e férias coletivas para avaliar a situação e as decisões relativas ao tema serão comunicadas aos empregados.

MPT dá prazo para Samarco
O Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo (MPT-ES) deu prazo até 2 de dezembro para que a empresa Samarco apresente um plano para manutenção dos empregos da unidade de Ubu, localizada no município de Anchieta e que tem funcionamento interligado às atividades de Mariana (MG).

A determinação ocorreu nesta segunda-feira (23) em audiência pública conduzida pelos procuradores do Trabalho Carolina de Prá Buarque e Bruno Borges, com a participação de representantes da mineradora, de sindicatos e prestadoras de serviço.

O órgão diz que “o plano emergencial de manutenção de emprego deve prever a preservação da renda dos trabalhadores que desempenham atividades junto à unidade industrial de Ubu/Anchieta, sendo contratados diretos ou terceirizados”.

Água suja em Linhares
Alguns moradores de Linhares, no Norte do Espírito Santo, perceberam uma coloração diferente na água ao abrir a torneira de casa, nesta segunda-feira (23). O município não é abastecido pelo Rio Doce, mas há somente uma barreira que separa a água turva da água que corre no Rio Pequeno, responsável por abastecer Linhares. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Linhares garante que a água do Rio Pequeno não está contaminada pela lama.

Fonte: G1-ES