ESPORTE NACIONAL

Maratonista completa 99 anos ainda em atividade: "Esporte é farmácia".

Morador de Peruíbe (SP) é considerado um dos mais velhos em atividade.

Em 06/01/2016 Referência JCC

Um atleta de Peruíbe, no litoral de São Paulo, endossa a tese de médicos e educadores físicos que dizem que praticar esporte faz bem à saúde e retarda o envelhecimento. Frederico Fischer, que acabou de completar 99 anos nesta quarta-feira (6), é maratonista e pratica o pedestrianismo desde 1931. A menos de um ano de chegar aos três dígitos, idade que não chega nem perto de aparentar, ele continua competindo, viajando o mundo e batendo recordes atrás de recordes.

Fischer falou sobre os segredos para ter chegado tão longe e tão bem fisicamente. Filho de alemães, ele mora há 29 anos em São Paulo e esbanja vitalidade. Ele é reconhecido como um dos corredores mais experientes por associações de pedestrianismo espalhadas por todo o mundo.

A maior lição, segundo Fischer, é não parar jamais. "Manter o corpo sempre em movimento ajuda a ‘lubrificar’ as engrenagens das pernas e braços e deixa os pensamentos mais leves, ajudando a melhorar cada vez mais a qualidade de vida, apesar da idade avançada.

“Tinha uma época em que eu trabalhava em uma empresa da família em Mauá e fiquei um tempo sem correr, sem pular, sem fazer esporte com frequência. Eu tinha uns 50 anos e estava com a cabeça cheia, com muito ‘pepino’ para resolver. Foi então que decidi tirar um dia para correr e, quando terminei o treino, percebi que o esporte fez bem para mim. As ideias vieram e foi mais fácil esfriar a mente e resolver o que precisava. O esporte é uma ótima farmácia”, relembra Fischer, que é contador aposentado.

Embora apaixonado por esportes, o decatleta (competição de atletismo com mais de dez provas) lembra que o trabalho sempre esteve em primeiro lugar e o esporte era apenas um complemento. O pai dele morreu cedo, portanto, ele e os outros cinco irmãos tiveram que cuidar um do outro.

Fischer morou a maior parte da vida em São Paulo. Quando menino, jogava futebol com os amigos, velejava na represa Santo Amaro em um barco feito pelo próprio irmão e também jogava futebol. “Gostava de jogar no gol e, de preferência, no time mais fraco, assim podia defender mais”, brinca.

Embora ele afirme que tinha talento e elasticidade para ser goleiro, o alemão começou a se destacar em competições amadoras de atletismo, remo, vela e salto com vara. “Naquela época, lá em 1925, 1930, era tudo amador. Eu aprendi a nadar e fazia de tudo um pouco, já que, modéstia a parte, tinha um físico muito bom e isso ajudava”, recorda.

Medalha e loucura
Com tanto empenho, a primeira medalha chegou em 1938, dois anos depois de ele entrar para o Clube Tietê, em São Paulo. Foi lá que conheceu dona Teresa, que também era atleta, mas anos depois se tornaria enfermeira e esposa de Fischer. Eles casaram em 1947. “Já são 68 anos”, destaca ele, ao lado da esposa, em um quarto da casa de praia, que está repleto de medalhas e fotos.

“As pessoas que tinham mais de 40 anos e faziam exercícios eram consideradas loucas. Eu me sinto mal se eu não correr. O idoso deve fazer exercício. Hoje mudou bastante, mas naquela época quebramos um tabu”.

Dia a dia
Pode até parecer curioso, mas o atleta Fischer não mantém nenhum ritual específico no dia a dia. Ele afirma que gosta de comer o “bom e velho arroz com feijão”. Dorme cedo, ajuda a esposa em casa, brinca com os cachorros e costuma treinar duas vezes por semana na praia.

O treinamento, porém, precisou ser interrompido nos últimos meses. Fischer teve dengue no ano passado e a doença acabou enfraquecendo os músculos. Mesmo depois disso, ele chegou a viajar para Lyon, na França, em agosto, onde participou de uma competição internacional.

“Não estava muito bem. Essa doença me deu uma derrubada. Fiz um tempo de 24 segundos e 89 milésimos em 100 metros. Mas eu competi com um idoso que não era da minha categoria. Ele tem 85 anos e eu tinha 98. São 13 anos de diferença”, disse.

Mesmo com o tempo que ele considera não tão bom, a vitalidade e a força do brasileiro foram destaque em um jornal francês que ele exibe com carinho. “À 98 ans, Fischer leve um stade”, diz a publicação, se referindo que aos 98 anos ele levantou um estádio. 

“É claro que eu fiquei feliz. Eu faço esporte desde cedo e ser aplaudido é sempre muito legal. Hoje, é claro, temos escassez de competidores da minha idade, o que é natural. Mas vou ser sincero. Essa fase de preocupação com treinamento já passou. Hoje faço tudo para a manutenção da saúde e competição é consequência”, afirma.

História
Fischer não sabe ao certo quantas competições já participou, nem quantas medalhas já ganhou. Em um pedaço de papel, ele anota os principais números conquistados e as viagens.
O documento começa com os melhores resultados no passado, quando foi campeão Paulista nos 400 metros com barreiras, em 1945. Depois, foi campeão Paulista no decatlo em 1948.

Já como veterano, entre os 50 e os 80 anos, Fischer participou dos mundiais em Hannover, na Alemanha, onde ficou em 5º lugar no arremesso  de peso. Em Melbourne, na Austrália, ficou em 3º nos 100 metros com barreiras. Em Miyasaki, no Japão, foi vice campeão nos 400 metros rasos.

Já em Puerto Rico, ele foi primeiro colocado nos 100, 200 e 400 metros e arremesso de disco e lançamento de martelo. Na Espanha e na Itália, também conquistou resultados importantes e recordes mundiais. “Sem contar os brasileiros e sulamericanos. Já fiz muita coisa. Agora é difícil pensar lá na frente. A idade vai deixando a gente mais cansado. Se der pra correr mais alguma prova, eu corro sim”, finaliza.

Fonte: G1