CULTURA

Matheus Nachtergaele é celebrado no festival de cinema de Vitória(ES).

Homenagem acontece na segunda-feira (14), no Theatro Carlos Gomes.

Em 15/09/2015 Referência JCC

"O teatro é o lugar onde se reza sem dar nome aos deuses". É assim que Matheus Nachtergaele encerra a entrevista coletiva que deu antes de receber a homenagem no Theatro Carlos Gomes, no Festival de Vitória, nesta segunda-feira (14), em Vitória. "Essa foi legal", finaliza.

Matheus é um dos grandes nomes do cinema brasileiro contemporâneo, embora seja firme ao dizer "não sou um grande ator". A cada pergunta, muitas respostas. Ele parece ser uma daquelas pessoas que podem falar um dia inteiro sem se cansar. É incansável. Ele diz não precisar de férias, porque o trabalho é a vida.

Ao revisar o caderno lançado nesta segunda-feira (14) com Paulo Gois, responsável pelo texto, reclama que fez pouco na carreira e que gostaria de ter feito muito mais. Matheus começou no teatro aos 20 anos e em 1992 entrou o Teatro da Vertigem, companhia dirigida por Antônio Araújo, em São Paulo.

O reconhecimento chegou com vários prêmios pela atuação como protagonista em 'O Livro de Jó'. Depois de vários papéis, ele recebeu um convite para estrear no cinema, no filme 'O Que é Isso Companheiro' (1997), de Bruno Barreto. Desde então, dedicou muito do tempo e talento para o cinema e também para a televisão. "Fui depositando a minha energia artística no cinema e na TV, mais no cinema do que na TV e no teatro", conta.

Matheus não consegue separar a arte da vida pessoal e leva as críticas ao trabalho como direcionada a ele. "As críticas que você faz ao ator não deixam de ser críticas a pessoa dele. A gente imagina um trabalho feito com a carne e os sentimentos do ator. Eu sou meio indígena, no sentido de não conseguir separar a vida cotidiano e o trabalho artístico, então quando eu falo do meu trabalho, eu falo muito da minha vida, mesmo. As memórias que eu tenho, de cada filme, de cada peça, de cada cena são memórias iguais as que tenho da minha vida. Meus sonhos incluem meus familiares e meus personagens, às vezes meu pai tá jantando como o Chicó".

O ator critica as imposições feitas aos atores, como ter de se comportar e aparecer em revistas de fofoca. "É uma profissão glamurosa, tem uma certa doma que o mundo fica impondo. 'Se comporta aí estrela, que a gente quer matéria pra revista de fofoca'. Quando, na verdade, eu acho que, realmente, a missão é outra. É balançar, é mexer, é virar de ponta cabeça, é comentar, é gargalhar, é incomodar de uma certa maneira, incomodar porque está incomodado", diz.

O Festival de Vitória exibiu os dois últimos filmes estrelados por Matheus. Em 'Trinta' (2014), de Paulo Machline, ele interpreta o carnavalesco Joãosinho Trinta, e em 'Sangue Azul' (2015), de Lírio Ferreira, ele é um dos integrantes de um circo. Por mais que dedique muito tempo ao cinema, ele não perde a paixão pelo teatro.

"Depois do advento do cinema e da TV não sobrou tanta coisa pro teatro, essa cerimônia. Competir com o que hoje é tão bem feito no cinema e na televisão, mas o que sobra pro teatro, é pouco, mais é único e só lá q vai ter. A opção de fazer teatro é linda. O teatro é a única cerimonia laica. Eu tenho medo das religiões, dos dogmas religiosos. Tenho medo das igrejas, todas. Eu acho que é uma coisa primitiva, o sentimento religioso. Eu gosto do teatro por isso, principalmente, eu acho que é uma cerimonia que reúne gente em volta do fogo, mas para celebrar sem dogma, para fazer uma catarse sem dogmas, sem dar nome aos deuses".

Fonte: G1-ES