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Mau uso do solo causa seca no Rio Doce, diz pesquisador do ES

Equipe viajou por 160 km em Baixo Guandu, Colatina e Linhares.

Em 11/11/2014 Referência JCC

Nascido na Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, o Rio Doce segue pelo Vale do Aço, atravessa o Leste mineiro com seus 850 quilômetros, passando por 228 municípios, de Minas e do Espírito Santo. Ao longo do percurso, diversos afluentes se unem ao curso da água principal. De acordo com os pesquisadores que participam da Expedição Rio Doce, o mau uso do solo é uma das principais causas do assoreamento do rio.

Esta é a segunda matéria da série de reportagens sobre a expedição cientifíca realizada para explorar o maior rio do Espírito Santo. O objetivo é levantar informações que vão ajudar na elaboração de um diagnóstico a respeito da atual situação do rio. Em sete dias de expedição, especialistas viajaram 160 km pelos municípios de Baixo Guandu, Colatina e Linhares. Em uma primeira análise, a equipe constatou que serão muitos os desafios para a recuperação do rio.

Em frente à barragem da usina hidrelétrica de Mascarenhas, em Minas Gerais, é possível ter uma ideia exata do tamanho da seca e da quantidade de areia que a chuva de dezembro de 2013 levou para dentro do Rio Doce, causando a seca atual.

 

Antes da enchente, inúmeras pedras, hoje aparentes, costumavam ficar debaixo d'água e o areal enorme não existia. Por causa do desmatamento, não há mata nas margens. Com o caminho livre, toda a terra trazida pelas chuvas vai direto para o leito do Rio Doce.

De acordo com o professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Marco Antônio de Carvalho, o que acontece é culpa do mau uso do solo. “A quantidade de areia na calha do rio, essa falta de água nada mais é do que o reflexo do mau uso do solo em toda a bacia do Rio Doce. Isso porque a água que cai deve ficar no sistema, deve ser filtrada. O que está acontecendo é que a água está caindo, está escoando e, com isso, carrega solo”, disse.

Apesar dos problemas, no trecho capixaba do rio ainda existem águas mais limpas e profundas. Quando os pesquisadores param os barcos para fazer as análises, os comandantes das embarcações e participantes da Associação de Pesca Esportiva de Colatina fazem jus à fama e lançam os anzóis para pescar. Basta navegar por alguns minutos para conhecer essa característica marcante do Rio Doce, que é a mudança brusca na profundidade.

 

Perto dali, a alegria dos pescadores se contrasta com a desolação do balseiro de Itapina, Moacir de Araújo Filho, conhecido como Siri. Com a seca, a balsa, que todos os dias atravessa as pessoas do distrito até a estrada, do outro lado da margem, está parada. “De três anos para trás, sempre foi mais cheio o rio. O povo antigo fala que sempre teve muito mais água, hoje tem bem menos. Pedra que eu nunca vi, esse ano, eu vi já no meio do rio”, falou.

Fonte: G1-Espírito Santo