ECONOMIA INTERNACIONAL

Merkel admite possível alívio na dívida grega após novo acordo

Líder alemã disse ser possível mudar vencimentos e reduzir juros da dívida.

Em 19/07/2015 Referência JCC

A chanceler alemã, Angela Merkel, disse à TV pública alemã ARD neste domingo (19) que é possível discutir uma nova redução nos juros e um prazo maior para a dívida da Grécia, após o país ter aprovado na quarta (15) a primeira parte das reformas exigidas pelos credores.

Após o acordo, os gregos receberam esta semana um pacote de ajuda de até € 85 bilhões. Merkel disse que essa ajuda abre caminho para a Grécia receber um novo alívio em sua dívida, já concedido em ocasiões anteriores. "Tivemos uma redução da dívida voluntária por parte dos credores privados e então estendemos os prazos e reduzimos os juros", disse em entrevista.

"E agora podemos falar sobre essas possibilidades de novo ... uma vez que a primeira revisão bem sucedida do programa a ser negociado for concluída, em seguida exatamente esta questão será discutida", disse ela.

Merkel pediu rapidez nas negociações do novo pacote de resgate que será negociado, após a primeira revisão bem sucedida que liberou ajuda inicial à Grécia.

Berlim, o maior contribuinte para resgates da zona do euro, fará tudo o que poder para que as negociações sejam concluídas com sucesso, mas vai "negociar duro" para assegurar que Atenas cumpra os acordos, disse a chanceler.

"Isso certamente não vai ser fácil, porque há coisas que temos discutido com todos os governos gregos desde 2010 que nunca foram feitas, mas que foram feitas em outros países como Portugal e Irlanda", afirmou.

Novo acordo de resgate
O novo plano de ajuda da Grécia ainda não foi concluído, mas já vem sendo criticado por atores-chave do acordo (Atenas, Berlim e o FMI), que duvidam de suas possibilidades de êxito.

Esse ceticismo imperante, que vai além do círculo de economistas, deve ser dissipado nas negociações sobre as modalidades do plano de ajuda que serão feitas depois do acordo fechado na última segunda-feira (13) em Bruxelas.

O governo de esquerda da Grécia concordou em aumentar impostos, reformar o sistema de aposentadorias e privatizar bens estatais em troca de um plano de ajuda de € 86 bilhões nos próximos três anos.

O novo pacote de ajuda grega, além de não conter qualquer tipo de perdão de dívidas, impõe duras condições a Atenas, com medidas de "aperto" econômico que não apenas o governo grego tinha prometido não adotar, mas que também foram recusadas por 61% dos gregos em um plebiscito.

Aprovação no Parlamento
A Grécia tinha até esta quarta para votar 4 medidas exigidas pela Europa:
1. Ajustar o imposto ao consumidor e ampliar a base de contribuintes para aumentar a arrecadação do estado;
2. Fazer reformas múltiplas no sistema de aposentadorias e pensões para torná-lo financeiramente viável;
3. Privatizar o setor elétrico, a menos que se encontre medidas alternativas com o mesmo efeito; e
4. Criar leis até que assegurem "cortes de gastos quase automáticos" se o governo não cumprir com suas metas de superávit fiscal.

Ao todo, são 14 exigências. Veja a lista completa aqui.

Nobel de economia critica gregos

O prêmio Nobel da economia, Paul Krugman, que tem apoiado Atenas em meio à crise com seus credores, disse em entrevista à rede "CNN" neste domingo (19) que "pode ter superestimado a competência do governo grego".

Krugman sugeriu que o governo grego encenou um confronto sem que houvesse um plano B. "Surpreendentemente, eles pensaram que poderiam pedir termos melhores (no acordo) sem ter qualquer plano alternativo", disse. "Isso certamente é um choque", completou.

O conceituado economista tem insistido que os cinco anos de crise na Grécia mostraram que os drásticos cortes de gastos – a fórmula internacional para a Grécia e outros países endividados da zona do euro – não salvam a economia da recessão, tornando-a ainda mais debilitada.

Grécia não acredita em plano
As maiores reservas procedem, como se espera, de Atenas. O acordo concluído na segunda-feira passada impõe ao país uma nova solução de austeridade e praticamente submete o país a uma tutela econômica.

Logo depois de acordo ter sido assinado, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, se referiu ao tratado como um texto em que ele mesmo não acredita, apesar de esse acordo ter evitado a saída de país da zona do euro.

"Disse que estava em desacordo com muitos elementos do texto", afirmou na quarta-feira ao parlamento. O ministro grego da Economia, Euclide Tsakalotos, se manifestou na mesma linha diante dos legisladores: "Não sei se tomamos a decisão correta".

O caminho parece longo até que as autoridades "se apropriem" do plano de reformas, como pretende a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde.

Bancos reabrem na segunda com saques limitados
Os bancos gregos devem receber longas filas, mas não devem ter maiores problemas quando reabrirem suas portas na segunda-feira (20) pela primeira vez em três semanas, apesar de os saques ainda estarem limitados e o controle do capital continuar em vigor, disseram autoridades sêniors dos bancos.

A reabertura cautelosa dos bancos, e um aumento no valor das taxas em alimentos de restaurantes e transporte público a partir de segunda-feira, visa restaurar a confiança dentro e fora da Grécia, após um acordo de ajuda para reformas na semana passada ter evitado a falência do país.

RESUMO DO CASO
- A Grécia enfrenta uma forte crise econômica por ter gastado mais do que podia.
- Essa dívida foi financiada por empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do resto da Europa.
- Em 30 de junho, venceu uma parcela de € 1,6 bilhão da dívida com o FMI. Então, o país entrou em "default" (situação de calote), o que pode resultar na sua saída da zona do euro. Essa saída não é automática e, se acontecer, pode demorar. Não existe um mecanismo de "expulsão" de um país da zona do euro. No dia 13 de julho, outra dívida com o FMI deixou de ser paga, de € 450 milhões.
- Como a crise ficou mais grave, os bancos estão fechados para evitar que os gregos saquem tudo o que têm e quebrem as instituições.
- A Grécia depende de recursos da Europa para manter sua economia funcionando. Os europeus, no entanto, exigem que o país corte gastos e aumente impostos para liberar mais dinheiro. O prazo para renovar essa ajuda também venceu em 30 de junho.
- Em 5 de julho, os gregos foram às urnas para decidir se concordam com as condições europeias para o empréstimo, e decidiram pelo "não".
- Nesta semana, os líderes europeus concordaram em fazer um terceiro programa de resgate para a Grécia, de até € 85 bilhões, mas ainda exigem medidas duras, como aumento de impostos, reformas no sistema previdenciário e mais privatizações.
- O parlamento grego aprovou na quarta-feira (15) o primeiro pacote de reformas para conseguir dinheiro para saldar parte do que deve aos credores. Com isso, o Eurogrupo deu aval prévio ao empréstimo.
- Na sexta-feira, a União Europeia aprovou uma antecipação de € 7,16 bilhões do pacote de ajuda que vem sendo negociado, para que o país não dê "calote" no pagamento de € 3,5 bilhões que tem que fazer na segunda-feira ao Banco Central Europeu (BCE).
- A Europa pressiona para que a Grécia aceite as condições e fique na zona do euro. Isso porque uma saída pode prejudicar a confiança do mundo na região e na moeda única.
- Para a Grécia, a saída do euro significa retomar o controle sobre sua política monetária (que hoje é "terceirizada" para o BC europeu), o que pode ajudar nas exportações, entre outras coisas, mas também deve fechar o país para a entrada de capital estrangeiro e agravar a crise econômica.

Fonte:G1