CULTURA

Mostra "Tentativas de esgotar um lugar" entra em cartaz no MAES.

Em 28/09/2015 Referência JCC

Nesta sexta-feira (02), o Museu de Artes do Espírito Santo (MAES), situado no Centro Histórico de Vitória, abre as portas para a nova exposição da temporada com o título “Tentativas de esgotar um lugar”, sob a curadoria do historiador de arte Júlio Martins. A mostra reúne o trabalho de seis artistas capixabas, selecionados no Edital de Bolsa Ateliê da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e permanece em cartaz até o dia 29 de novembro, com a entrada gratuita.
 
Concepção
 
Durante três dias, em outubro de 1974, Georges Perec dedicou-se a observar a Praça de Saint-Sulpice, em Paris, e tentar registrar em sua escrita tudo aquilo que seu olhar alcançava dali. Interrogava, portanto, o cotidiano mais simples e insuspeito, concedendo atenção a detalhes e cenas corriqueiras que se apresentavam diante do imediato de sua percepção. O livro “Tentativas de esgotar um lugar parisiense”, de Perec, pode ser lido como um levantamento de dados fenomenológicos, descrições e notas que reagem ao encontro com o lugar e que acabam por revelar a própria imanência do olhar. Tal proposição necessariamente solicita e provoca um aguçamento dos sentidos, ao que mais tarde Perec chamaria de “infra-ordinário”.
 
Para além daquilo que provê informações aos inventários, catálogos e recenseamentos das narrativas oficiais, interessou ao escritor, por suas tentativas, “descrever o resto: aquilo que geralmente não se nota, que passa despercebido, que não tem importância: o que se passa quando nada se passa, senão o tempo, as pessoas, os carros, as nuvens. ”Com perguntas e exigências semelhantes à do experimento literário de Perec: “O que acontece quando nada acontece?” A aparente simplicidade da questão faz-se acompanhar de uma exigência à percepção, para se conseguir extrair sentido daquilo que se mostra mais habitual e “insignificante”.   
 
Sobre o Curador
 
Júlio Martins é curador, historiador de arte e editor. Colabora desde 2003 com o Centro de Experimentação e Informação de Arte (Ceia), ligado à Rijksakademie Artist´s Initiative (Amsterdã). Em 2009, participou do Programme Courants du Monde, na Maison des Cultures du Monde (Paris).É curador mapeador do Rumos Artes Visuais 2011-2013, Instituto Itaú Cultural (São Paulo) e curador-geral do Museu Inimá de Paula desde 2008.
 
Conheça os trabalhos
 
O artista André Arçari se apropriou do material gravado pelas câmeras de monitoramento em seu prédio para compor narrativas aparentemente ordinárias. Em sua sala, o artista expõe ainda a captura em tempo real das imagens do sistema de segurança do próprio MAES, produzindo por este deslocamento um acesso imprevisto à instituição (inclusive com imagens de sua área administrativa) e analisando criticamente esta produção imagética pretensamente neutra. As imagens reconstituem o que seria a paisagem espacial do museu. Abordar diretamente o cotidiano, perscrutar seu enredo e produzir narrativas a partir de vivências foram estratégias utilizadas por duas artistas viajantes, cujas práticas e registros lembram a frase de Cildo Meireles, para quem o artista, “como o garimpeiro, vive de procurar o que não perdeu” e também confirmam a anotação de um louco num caderno, recolhida por Manuel Réja em 1907: “Eu viajo para conhecer a minha geografia”.
 
Beatriz Zanchi percorreu cidades com nomes de santos pelo interior do Espírito Santo. A partir do convívio intenso com os lugares, suas pessoas e histórias, a artista tece em seus diários uma série de desenhos, colagens, ensaios fotográficos e escritos em que se fundem referências da arte popular à sua mitologia pessoal.
 
Pollianna Dalla Barba viajou por diferentes cidades brasileiras e sul-americanas para produzir relatos afetivos, coleções de vestígios incomunicáveis e fotografias que reiteram a condição fragmentada das experiências que viveu em trânsito. Tentativas como as destes artistas, mais que um esgotamento de determinada realidade, tornam-se por fim tarefas de fundação e construção de um outro lugar pela linguagem. Tentativas como traçar linhas que interceptem o espaço e reconfigurem a experiência correspondem aos esforços de viajantes que se deslocam sem saber ao certo o que esperar de seus destinos, delineando um trajeto que se forma na mesma medida em que é experimentado.
 
Os desenhos de Sandro Novaes são mapeamentos de superfícies – papel ou arquitetura – por meio de um vocabulário formal restrito à linha. A partir desta unidade e de seus prolíficos arranjos o artista constrói presenças, percursos e projeções que se desdobram pelos planos. O lugar é ocupado e reestruturado pelas fábulas das linhas. Nesse sentido, pode-se pensar que a percepção mostra-se mais responsável em moldar as espacialidades que cada um ocupa do que o contrário, como se poderia imaginar.
 
A partir de registros fotográficos e em vídeo do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, Gabriel Menotti produziu versões em escala reduzida deste monumento – religioso, turístico e político – utilizando tecnologias de scanner e impressão 3D. Explorando a aura excessiva do Cristo, o artista investiga as perdas e preenchimentos que se operam nesse significativo processo de reprodutibilidade, integrado por aspectos de tradução e prototipagem. Quando o virtual adquire materialidade, curiosamente, o resultado escultórico não apresenta correspondência direta à sua origem imagética. Tentativas de leitura de um espaço, muitas vezes, enfrentam os limites da linguagem ou dependem da consciência de sua historicidade, nem sempre evidente.
 
Atentando à invisibilidade a que estão submetidas muitas das questões ligadas à história da escravidão no Brasil, sobretudo suas mutações e sobrevivências no tempo presente, Charlene Bicalho tem investigado o tema sob a perspectiva de sua própria condição de mulher negra. Por mechas de cabelo que recolhe das pessoas, espelhos e fotografias de sua infância, e articulando vestígios identitários e elementos de matriz cultural africana, a artista reflete sobre uma narrativa que se desenrola tanto em sua própria pele quanto também integra uma longa história de exploração de um segmento étnico e social no país, desde sua invenção.  
 
Encontro de Educadores
Mediado pela equipe educativa do MAES, a exposição “Tentativas de esgotar um lugar” receberá uma série de ações direcionadas para o público, com foco em professores e arte-educadores. O objetivo do evento é apresentar e discutir com os participantes novas dinâmicas, e possibilidades de aproximação entre a escola e a arte contemporânea.
 
Confira abaixo as datas:
 
Ações:
Encontro de Formação para Professores e Não-Professores:
08/10 ou 10/10: das 8h30 às 17h30
Inscrições em http://maesmuseu.wix.com/tentativas

 
Rodas de Conversa:
22/10: com os artistas Gabriel Menotti e Sandro Novaes
05/11: com as artistas BeatriZanchi e Polliana Dalla Barba
12/11: com o curador Júlio Martins
19/11: com os artistas André Arçari e Charlene Bicalho
Sempre às 19h.
 
Confira a programação completa no site da exposição: http://maesmuseu.wix.com/tentativas
 
Serviço:
 
Visitação:
De 03/10 à 29/11.
De terça a sexta das 10h às 18h.
Sábados, domingos e feriados das 10 às 17h.
 
Visitas Educativas:
Os educadores estão disponíveis para uma conversa sobre a exposição de terça a sábado, das 10h às 17h. Para grupos, agende uma visita em http://maesmuseu.wix.com/maes
 
Acessibilidade:
O MAES disponibiliza videoguias em Libras para o público para surdos nas salas expositivas do museu. Para grupos, agende uma visita com intérprete em http://maesmuseu.wix.com/maes
Informações: 3132-8393 / maes.educativo@gmail.com  Facebook: MaesMuseu
 
Entrada gratuita
 
Fonte: Secult-ES