POLÍTICA INTERNACIONAL

Mujica e Marco Aurélio Garcia fazem autocrítica de integração latino-americana.

O ex-presidente uruguaio disse que a não integração é uma tragédia.

Em 04/08/2015 Referência JCC

O ex-presidente uruguaio José Mujica e o assessor especial para Assuntos Internacionais do governo do Brasil, Marco Aurélio Garcia, fizeram nesta terça-feira um dura autocrítica dos processos de integração regional na América Latina.

Em um momento de forte estancamento comercial no Mercosul - integrado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela - os dois políticos deram uma visão das dificuldades e desafios para a integração regional, durante uma conferência na sede da Aladi (Associação Latino-Americana de Integração), em Montevidéu.

O ex-presidente uruguaio disse que "a não integração é uma tragédia" e destacou que "nenhuma batalha" é mais importante para a América Latina em um "mundo onde se estão construindo polos".

"Não é nos unirmos em torno do sonho de (Simón) Bolívar (...). Temos que encontrar formas de defender nosso futuro. Do contrário, somos folhas ao vento em um mundo de mastodontes", advertiu Mujica.

"Inventamos organismos e novos organismos, e quando um não funciona inventamos outro", disse Mujica sobre a proliferação de entidades regionais que têm o mesmo objetivo de integração comercial ou política.

"Não é possível que o mesmo protecionismo que a Argentina tem com o mundo também tenha aqui", denunciou Mujica.

Segundo Marco Aurélio Garcia, a região está "muito balcanizada" e existe "pouca conexão entre nós", enquanto se atravessa "uma situação complexa e difícil". "Não estamos vivendo um momento qualquer".

As atuais tensões não são apenas consequência de fatores externos, mas também produto de "situações complexas em nossos países", resumiu Marco Aurélio Garcia, que citou a crise política que afeta o Brasil, em meio ao escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras.

Marco Aurélio Garcia lembrou que apesar dos progressos socioeconômicos registrados em alguns países da América Latina nos últimos anos, "muitas coisas não foram feitas e começam a ser cobradas", como as demandas dos que tiveram acesso ao crédito e ao consumo, e agora têm expectativas.

"Nos apaixonamos por estas transformações" sociais "e, talvez, esta paixão (...) não nos permitiu compreender o que era preciso fazer, e não fizemos".

AFP