CIDADE

No calor do Rio, falta de água em presídios aumenta a tensão entre criminosos.

Presos são transferidos para evitar rebelião, diz defensoria.

Em 08/01/2017 Referência JCC

Falta água no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio. O problema iniciado em 27 de dezembro passado, aliado ao calor do verão carioca que ultrapassa os 40 graus, aumentou a tensão entre os quase 50 mil detentos das 21 unidades prisionais da região. O clima ficou ainda mais pesado com o pedido de advogados de uma facção criminosa para que os milicianos e policiais presos que dividem a Penitenciária Lemos de Brito (Bangu 6) com os traficantes sejam transferidos para outra prisão, deixando a cadeia apenas para os integrantes do tráfico.

Segundo a Defensoria Pública, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) tem adotado uma série de medidas administrativas para evitar uma rebelião. Dentre elas, estão a colocação do Grupo de Intervenção Tática (GIT) da pasta dentro do complexto e a transferência de presos - na sexta (6), 500 teriam sido transferidos após uma briga. Apesar de relatar que a situação é de "normalidade", a Seap está em alerta.

Procurada pelo G1, a Seap não confirma as medidas, mas reconhece problemas com o abastecimento de água.

A Seap só conseguiu amenizar o problema da falta de água ao montar uma operação de carros-pipa para abastecer as 21 unidades prisionais e os cinco hospitais de Gericinó. Em vídeo divulgado em redes sociais, os detentos reclamam das condições nos presídios do Rio e relatam que a água fornecida vem "marrom". Na segunda (9), a Companhia Estadual de Água (Cedae) irá ao complexo na tentativa de solucionar o problema.

"A gente espera que o problema esteja resolvido na segunda. Situações assim só aumentam a tensão na cadeia", afirma o defensor Marlon Barcellos, coordenador do Núcleo do Sistema Penitenciário (Nuspen), na Defensoria Pública.

Além da falta de água, a Seap estuda a transferência de milicianos ou de traficantes da Penitenciária Lemos de Brito, chamada também de Bangu 6. O governo ainda não definiu que grupo será transferido. Os advogados de uma facção criminosa pediram que os ex-policiais sejam retirados da unidades por não quererem a divisão do presídio. Usam como argumento o massacre no Complexo Penitenciária Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, onde 56 presos foram mortos. A unidade do Amazonas era dividida por duas facções criminosas.

O Grupo de Intervenção Tática (GIT), da Seap, foi colocado no interior da unidade entre as galerias e na ala externa, numa tentativa de evitar possíveis invasões ou fugas de integrantes de algum dos dois grupos. Os traficantes que cumprem pena na unidade querem que o Lemos de Brito fique apenas com eles. A Seap não informou que grupo será transferido e nem para qual local.

Divergências em facção
O Grupo de Intervenção Tática (GIT) da Seap está dentro do complexo e a transferência de presos - na sexta (6), 500 teriam ocorrido após um racha em uma outra facção criminosa para a unidade Frederico Marques (Bangu 10): 400 da Penitenciária Jonas Lopes de Carvalho (Bangu 4) e outros 100 do Instituto Penal Ismael Pereira Sirieiro, em Niterói, unidade de detentos do semi-aberto.

A decisão aconteceu após uma briga entre o traficante Edmilson Ferreira dos Santos, conhecido como Sassá ou Velho, liderança da facção que domina o Morro da Pedreira, em Costa Barros e Vila dos Pinheiros, no Complexo da Maré, e Cristiano Santos Guedes, o Puma, chefe do tráfico da Quitanda. O problema seria por desacordo na divisão do obtido com o roubo de cargas na quadrilha.

Os criminosos ligados a Sassá pediram a transferência para não ficarem junto aos outros integrantes que preferiram ficar na facção.

"Ao saírem das unidades, eles deixaram para trás colchões e objetos pessoais. Foram apenas com os uniformes. A alimentação só foi normalizada no almoço, no fim da manhã deste sábado (7)", disse o defensor Barcellos.

O G1 apurou que a Seap aguarda os integrantes da facção definirem se esses traficantes deixaram ou não o grupo para decidir em que unidades irá colocá-los.

Por Marco Antônio Martins, G1 Rio