ECONOMIA INTERNACIONAL

O Irã está pronto para voltar ao mercado internacional de commodities.

O Irã tem muito mais influência no mercado de aperitivos do que no comércio do petróleo bruto.

Em 07/05/2015 Referência JCC

O Irã está pronto para voltar ao mercado internacional de commodities, inundá-lo de novos suprimentos e gerar o risco de provocar uma queda dos preços.

Petróleo? Talvez, mas há outro setor que poderia ser ainda mais perturbado por um pacto nuclear entre o Irã e o Ocidente: pistache.

O Irã tem muito mais influência no mercado de aperitivos do que no comércio do petróleo bruto. Embora seja apenas o sétimo maior produtor mundial de petróleo bruto, o país do Oriente Médio compete com os EUA pelo posto de maior cultivador de pistache.

Assim como as vendas de petróleo para os EUA e a Europa, as de pistache foram impedidas pelas sanções.

À medida que as negociações entre Washington e Teerã para resolver a disputa nuclear de uma década se aproximam do prazo para um acordo final, 30 de junho, os operadores estão prevendo que os preços vão cair.

“A nova oferta provocará um impacto”, disse Hakan Bahceci, CEO da Hakan Agro DMCC, casa de comércio de grãos, nozes e leguminosas com sede em Dubai.

Talvez os mais prejudicados sejam os produtores californianos, que duplicaram a área de cultivo de pistache nos dez últimos anos apesar das condições de secas.

A produção de pistache na Califórnia começou modestamente em 1979 e chegou a 513 milhões de libras no ano passado, mais do que o triplo da colheita de 2004, de acordo com o Comitê Administrativo pra Pistache dos EUA.

Notícia boa

Para os amantes das nozes, o aumento da oferta seria uma boa notícia: os preços subiram 40 por cento nos últimos cinco anos por causa da escassez de suprimento.

No entanto, até agora, o setor do pistache da Califórnia não está se preocupando. Bob Klein, gerente do Comitê Administrativo pra Pistache, com sede em Fresno, disse que o Irã terá dificuldades para vender na Europa e nos EUA devido aos altos níveis de contaminação provocados pela aflatoxina, um químico tóxico produzido por fungos.

“Não estou vendo muita preocupação no setor com a volta do Irã”, disse ele, em uma entrevista. Mesmo que os preços caiam um pouco, os produtores vão continuar prosperando na Califórnia.

“Os preços têm estado bem. O pistache é uma das safras perenes mais rentáveis” nos EUA, disse ele.

A safra de pistache dos EUA foi avaliada em cerca de US$ 1,3 bilhão no ano passado. Para o Irã, a colheita tem mais ou menos o mesmo valor, mas é mais relevante para o país por ser sua segunda maior fonte de exportação, depois do petróleo bruto.

Crise de reféns

Os EUA proibiu o pistache iraniano de modo intermitente durante as últimas três décadas. O primeiro embargo ocorreu em 1979, depois que a embaixada dos EUA em Teerã foi tomada e da crise de reféns.

A interdição foi suspendida quatro anos mais tarde, mas entrou em vigor novamente em 1987 durante a guerra entre Irã e Iraque, antes de ser suspendida de novo em 2000.

Dez anos depois, o presidente Barack Obama aprovou a lei que de fato proibiu a importação do pistache iraniano nos EUA.

“Atualmente, não é possível importar pistache de origem iraniana para os EUA”, disse Erich Ferrari, cuja empresa Ferrari Associates, com sede em Washington, pressionou o governo dos EUA em nome dos operadores de commodities no Irã.

Outras sanções ocidentais, criadas para impedir o comércio de petróleo e gás, também estão restringindo a capacidade do Irã para vender pistache na Europa por causa dos limites impostos às transações bancárias e ao transporte, disseram os operadores.

China, Índia e Turquia continuam sendo grandes compradores, e alguns pistaches iranianos estão conseguindo chegar ao mercado europeu a partir da Turquia.

Por Javier Blas, da Bloomberg