ESPORTE INTERNACIONAL

Perto de Romário, distante de Kaká: o cenário à espera de Adriano nos EUA

Apresentado por time da quarta divisão, Imperador terá impacto bem menor do que Kaká.

Em 11/03/2016 Referência JCC

Salário milionário, jogos com casa cheia e até o retorno à Seleção. Não há dúvidas sobre o sucesso da empreitada de Kaká com o Orlando City no futebol dos Estados Unidos. Assim como é indiscutível que Adriano encontrará um cenário distinto na Flórida. Apesar de estar mudando para a cidade ao lado do antigo companheiro de Seleção, o Imperador terá pela frente uma realidade bem mais modesta no Miami United, clube em que foi apresentado na noite desta quinta-feira e que disputa a NPSL, equivalente à quarta divisão americana. Experiência mais próxima da vivida por Romário na Flórida, quando atuou pelo Miami FC, em 2006.

- Espero mostrar meu potencial e ajudar o Miami United a subir de nível - afirmou Adriano durante a coletiva de imprensa que oficializou sua chegada ao clube.

O fato é o que o novo time do Imperador ainda terá que galgar muitos degraus para alcançar o nível principal do futebol nos Estados Unidos. Com modelo semelhante ao de outros esportes no país, o "soccer" também se organiza em ligas. A principal delas é a Major League Soccer (MLS), espécie de primeira divisão, que cresce a cada ano e conta com nomes de expressão do futebol mundial, como Steven Gerrard, David Villa e Andrea Pirlo. É lá que está o Orlando City de Kaká.

O melhor jogador do Mundo de 2008 é um dos principais garotos-propaganda da MLS e o rosto do futebol na Flórida atualmente. Kaká chegou ao Orlando para a estreia do clube na elite, em 2015, com status de maior salário da liga: 7,16 milhões de dólares por ano (cerca de R$ 2,2 milhões por mês).

Dentro de campo, o brasileiro não conseguiu classificar o time aos playoffs, mas foi o grande responsável por atrair milhares de fãs ao Citrus Bowl em toda a temporada, garantindo ao Orlando a segunda melhor média de público no campeonato: 32.847 torcedores por jogo.

No último fim de semana, o clube de Kaká estreou na temporada 2016 da MLS contra o Real Salt Lake – empate heroico em 2 a 2. Lesionado, o brasileiro não entrou em campo, mas viu das tribunas o estádio mais uma vez lotado: 60.147 torcedores.

- Para Adriano, a realidade será completamente diferente de Kaká. Não acredito que ele tenha uma recepção como a que Kaká teve em Orlando aqui nas redondezas de Miami. Por exemplo, quando se fundou o primeiro Miami FC, que depois se converteu em Strikers, contrataram o Romário. Mas nunca conseguiram um público maior do que cinco mil pessoas. Miami é uma cidade que gosta de futebol, mas é complexa nesse sentido por ter muitas atrações – avaliou o editor de esportes do jornal "Miami Herald", Luiz Sánchez.

Em seu retorno aos campos após quase dois anos parado – o último time foi o Altético-PR, que deixou em abril de 2014 –, Adriano é a aposta do pequeno Miami United na tentativa de dar o primeiro grande passo no futebol dos Estados Unidos. Fundado em 2012, o time, de propriedade do empresário italiano Roberto Sacca, disputa a National Premier Soccer League (NPSL), campeonato semiprofissional que equivale à quarta divisão americana, atrás da North American Soccer League (NASL) e também da United Soccer League (USL).

Sem estrutura própria, o novo clube de Adriano utiliza como casa as instalações de um parque esportivo na cidade de Hialeah, região metropolitana de Miami. Simples, o estádio conta com um campo de grama sintética em bom estado de conservação e arquibancadas laterais de ferro que comportam no máximo 10 mil torcedores.

A situação que o Imperador encontrará nos Estados Unidos é mais próxima da vivida por Romário em passagem pelo futebol da Flórida, em 2006. Na época, o Baixinho, então com 40 anos e em busca do milésimo gol, trocou o Vasco pelo Miami FC – que posteriormente, se transformou em Fort Lauderdale Strikers.

Ao lado do também tetracampeão Zinho, Romário disputou a USL, então segunda divisão, atrás da MLS. Em cinco meses, fez 29 jogos e marcou 22 gols. O Baixinho chegou a ser eleito para a seleção da liga, mas não conseguiu impedir a eliminação do Miami FC na primeira rodada dos playoffs.

Na passagem pelos EUA, Romário atuou em estádios modestos e não chegou a atrair grandes públicos, apesar de ter recebido muita atenção da mídia, como relatou o jornalista Luiz Sánchez, que viveu o momento de perto.

- Quando Romário esteve aqui, existia um certo entusiasmo. A imprensa acompanhou bastante. Chamou a atenção. Mas era um time pequeno e não teve continuidade. O Romário saiu na sequência e eles não foram muito além. Talvez, se tivessem seguido, conquistado um campeonato, os torcedores seguissem com mais força. É esse o desafio para Adriano e o Miami United – disse Sánchez.

Segundo o presidente do Miami, Roberto Sacca, o time já conta com uma boa base de torcedores na cidade. Ele espera que a chegada de Adriano possa ajudar a encher o Ted Hendrick Stadium.

- Ano passado, tivemos até três mil pessoas no estádio. Esse ano, queremos encher. Cabem 10 mil pessoas. Nosso sonho é ter o estádio cheio todos os jogos com o Adriano - afirmou Sacca.

O editor de esportes do jornal “Miami Herald” tem uma previsão um pouco menos otimista. Luiz Sánchez acredita que Adriano e o Miami United devam atrair atenção semelhante à do Miami FC na época de Romário. Para o jornalista, mesmo com a chegada do Imperador, a maior expectativa na cidade é mesmo pela criação do novo time de David Beckham, que disputará a MLS nos próximos anos.

- Calculo que Adriano poderá atrair um público de, quem sabe, três mil pessoas. Isso já seria um grande êxito para o Miami United nesse momento. Miami é uma cidade que gosta muito de futebol. Uma das que mais acompanha nos Estados Unidos. Mas o público gosta de ir aos jogos gigantes, como quando fizeram um torneio amistoso aqui com Real Madrid e Chelsea, no primeiro reencontro de Mourinho e Cristiano Ronaldo. O estádio lotou. Mais de 70 mil pessoas. Por isso, acho que a maior expectativa é mesmo pela criação do novo time de Beckham, que estará na MLS e deve trazer grandes nomes para jogar na cidade - concluiu Sánchez.

Fonte:GE