POLÍTICA INTERNACIONAL

Peru realiza 2º turno neste domingo, com filha de Fujimori como favorita.

Apesar de favoritismo, decisão pode ser apertada.

Em 04/06/2016 Referência JCC

O Peru elege neste domingo (5) seu novo presidente, com Keiko Fujimori como favorita para se tornar a primeira mulher governante do país, 16 anos depois que seu pai deixou o poder sendo condenado por crimes de corrupção e crimes contra a humanidade.

Seu rival é Pedro Pablo Kuczynski, um especialista em economia, ex-ministro e ex-banqueiro de Wall Street, que espera surpreender.

A filha mais velha do ex-presidente detido Alberto Fujimori se encontra prestes, pela segunda vez, a vencer as eleições. Mas, seu rival Pedro Pablo Kuczynski ganha adesão dos indecisos, o que poderia gerar uma decisão apertada, segundo sondagens divulgadas nesta sexta-feira.

Segundo uma simulação da votação realizada em 1 e 2 de junho pela empresa GfK, Fujimori obteria 50,3% dos votos válidos diante dos 49,7% de seu rival Kuczynski, "o que claramente é um empate técnico", disse o diretor da empresa, Hernán Chaparro, em coletiva com a imprensa estrangeira.

A sondagem foi realizada com 1.416 pessoas, com uma margem de erro de 2,3 pontos percentuais.

Já a empresa Datum dá à Fujimori 52,1% dos votos diante de 47,9% para "PPK", como Kuczynski é conhecido. A sondagem foi realizada em 31 de maio e em 1 de junho com 2.008 pessoas, e com uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais.

Para o diretor da Datum, Urpi Torrado, esta sondagem não mediu completamente o impacto de um protesto ocorrido em 31 de maio contra a candidatura de Fujimori, nem o apoio que outros grupos deram à PPK.

Desde 28 de julho de 2011, o Peru é governado por Ollanta Humala, um comandante aposentado do Exército, fundador do Partido Nacionalista, de centro-esquerda, que venceu de Keiko as últimas eleições. Segundo a Constituição, Humala não pode se candidatar a uma reeleição e seu grupo político optou por retirar seu candidato presidencial no primeiro turno ocorrido no último 10 de abril.

Apesar de sua trajetória de crescimento, o Peru ainda tem uma tarefa pendente devido ao fato de 22,7% de sua população se encontrar na pobreza, segundo números de 2014. Ainda que seja uma situação muito melhor que os 58,7% de dez anos atrás.

Vinte e três milhões de peruanos estão aptos para eleger no domingo quem governará o país no período de 2016-2021. Os primeiros resultados oficiais serão conhecidos na noite da eleição

A filha que pretende redimir o pai
Keiko Fujimori carrega a herança de seu pai, que em seu governo (1990-2000) derrotou a feroz guerrilha do Sendero Luminoso e a hiperinflação deixada por seu antecessor, Alan García. Mas agora está preso e condenado a 25 anos de prisão como autor intelectual de dois massacres com 25 vítimas, e corrupção.

Há uma década realizou uma cruzada destinada a lavar a honra de sua família, atingida por uma série de escândalos de corrupção que ofuscaram a gestão do chefe do clã.

Impenetrável e fria, reconstruiu sua imagem pública buscando transmitir novos valores, como tolerância e paciência, em uma tentativa de se distanciar da imagem de autocrata de seu pai, que no dia 5 de abril de 1992 deu um autogolpe com o qual fechou o Congresso e tomou o controle das instituições do Estado, reelegendo-se duas vezes.

Para perpetuar a dinastia precisou vencer resistências dentro do fujimorismo, um complexo quebra-cabeças conservador onde se misturam empresários, tecnocratas do livre mercado e quadros de classe média que sonham que o Peru recupere o caminho da segurança cidadã e perpetue o crescimento econômico, cuja pedra angular é atribuída a Alberto Fujimori há 25 anos.

Keiko, que em japonês significa "filha abençoada", passou a metade de sua vida envolvida em política, onde entrou contra a sua vontade. Em 1994, aos 19 anos, a separação de seus pais, Alberto Fujimori e Susana Higushi, fez com que ela se tornasse primeira-dama, a mais jovem das Américas. Tudo em meio a um trauma familiar: sua mãe denunciou irmãos e familiares do então presidente por comercializar doações provenientes do Japão destinadas a pessoas pobres.

Keiko permaneceu por seis anos no Congresso e desde então lida com a história de um governo que ela certa vez definiu como "o melhor da história no Peru".

Afundado em um escândalo de corrupção, seu pai renunciou à presidência em novembro de 2000 com um fax a partir do Japão. Keiko optou por ficar no Peru e enfrentou acusações por suposta má gestão de fundos públicos no pagamento de seus estudos nos Estados Unidos.

Saiu limpa, e este episódio deu a ela uma imagem de coragem. Uma viagem de Tóquio a Santiago do Chile acabou com Alberto Fujimori preso - por uma ordem de captura internacional - e com ela iniciando, mais uma vez por amor ao pai, sua carreira política como a congressista mais votada na eleição de 2006.

Mãe de duas filhas, Keiko disputou as eleições em 2011, mas foi derrotada por Ollanta Humala.

A derrota a fez compreender que deveria superar o perfil autoritário que marcava o fujimorismo. Renovou progressivamente o partido, que passou a ser chamado de Fuerza Popular, e deixou de lado a ala dura, identificada com o fujimorismo, mas sem romper com a tendência.

O "gringo" flautista e economista
Aos 77 anos, Pedro Pablo Kuczynski, um ex-executivo de sucesso de Wall Street, afirma que poderia estar passeando de moto, mas prefere usar seus conhecimentos como presidente do futuro Peru.

"Meus amigos me disseram que poderia ir embora tranquilo, descansar, com minha (motocicleta) Harley (Davidson)", disse Kuczynski, com experiência nos cargos de primeiro-ministro e ministro, que quer sacudir a imagem de "gringo".

Nascido em Lima em 1938, 'o gringo' trabalhou duro para tentar superar a imagem de alguém afastado dos mais pobres - setor no qual Keiko Fujimori é popular.

De pai alemão e mãe franco-suíça, o popular "PPK" é primo do diretor de cinema Jean-Luc Godard e sua vida foi de cinema: nasceu no Peru e acompanhou seu pai, médico, em trabalhos sociais nas florestas do país, mas foi educado no Reino Unido, Suíça e Estados Unidos.

Pedro Pablo Kuczynski e Keiko Fujimori durante debate realizado entre os candidatos á presidência do Peru (Foto: Cris Bouroncle/AFP)

Em 2011 esteve próximo de passar ao segundo turno e desta vez conseguiu, novamente com o partido Peruanos Por el Kambio, que carrega suas iniciais.

Precisou renunciar a sua nacionalidade americana em meio ao receio de seus compatriotas, que temem que isso possa servir para que ele fuja da justiça, como fez o peruano-japonês Alberto Fujimori. Explora sua imagem de experiência, valorizada pelos mercados.

Integrou as diretorias de várias empresas, razão pela qual seus opositores temem que, se chegar à presidência do Peru, defenderá interesses particulares.

"São besteiras", adverte. "Minhas mãos estão limpas", afirma. "Este será meu último trabalho, enquanto para a senhora Fujimori será seu primeiro trabalho", disse, ao ironizar a falta de experiência da adversária.

PPK foi ministro de Minas e Energia no segundo governo de Fernando Belaúnde nos anos 1980 e depois da Economia e primeiro-ministro na gestão de Alejandro Toledo (2001-2006), período caracterizado por um avanço dos resultados econômicos do país.

Favorável ao livre mercado, planeja reduzir impostos para reativar uma economia exportadora tradicional e criar três milhões de empregos, com investimentos públicos e privados.

Propaganda dos dois candidatos à presidencia do Peru são vistas nesta sexta-feira (3) em Villa Maria del Triunfo, próximo a Lima (Foto: REUTERS/Mariana Bazo)
Fonte: AFP