MEIO AMBIENTE

Pescadores que trabalhavam no Rio Doce viram catadores de lixo, no ES.

Sem auxilio da empresa, profissionais lutam para conseguir trabalhar.

Em 05/10/2016 Referência JCC

É revirando o lixo todos os dias atrás de materiais recicláveis que o casal de pescadores Dermecília Moreira, de 61 anos, e Vilmar Acássio da Silva, de 76 anos, achou uma outra profissão para tirar o sustento em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, após o rompimento da barragem da Samarco.

Os dois não são aposentados e há 20 anos sempre viveram da pesca do Rio Doce. Na época, chegavam a tirar R$ 1,5 mil por mês, no entanto, o que restou foram materiais parados, dívidas realizadas há 11 meses por causa da pesca e lembranças.

“Eu comprei os materiais de pesca e fui até o Rio Doce, o pessoal estava tudo correndo pegando os peixes para levar para uma lagoa. Aí eu disse: acabou com a nossa pescaria. Quando a lama  chegou, eu chorei muito porque tinha acabado a pescaria, fui embora e até hoje o material está guardado”, lembra Dermecília.

Atualmente, eles caminham o dia inteiro pelas ruas da cidade catando latinha, garrafa pet e alumínio, conseguindo tirar no final do mês cerca de R$ R$ 400. “O dinheiro que a gente recebe só dá para comer. A dívida está ficando. A gente pescava e fazia cerca de R$1,5 mil por mês, agora ninguém compra o peixe”, finaliza Vilmar.

Sem auxílio
Mesmo cadastrados e com carteirinha de pescador, após meses do rompimento das barragens, eles ainda não conseguiram receber o auxílio da Samarco. De acordo com a empresa, 3.440 benefícios são pagos no Espírito Santo, sendo 618 em Colatina.

Além do casal, muitos pescadores da cidade estão vivendo com dificuldades. Sem o auxílio, a pescadora Tereza Pizoni Scalzer também foi uma das pessoas que precisou mudar de profissão na cidade.

Atualmente, ela limpa roupas de fábricas. Ela consegue tirar R$ 300 por mês. No entanto, ela conseguia tirar o mesmo valor por semana com a pesca.

“Eu fiz o cadastro, mas não estou recebendo nenhum centavo. Eu tenho que me virar limpando roupas para ter um dinheiro, pois o marido está doente e a menina tem problema. O dinheiro da pesca era o que me ajudava.”

Samarco diz que vai fazer novo cadastro
A Samarco disse, por meio de nota, que um novo programa de levantamento e cadastro integrado de impactados definitivo está em andamento.

O programa quer levantar informações socioeconômicas sobre o núcleo familiar e identificar potenciais atividades e bens impactados para viabilizar o adequado encaminhamento aos demais programas e ações de reparação socioeconômicos previstos no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

O TAC foi assinado em março de 2016 pela Samarco, suas acionistas, governo federal e dos estados do Espírito Santo e Minas Gerais para mitigar os impactos causados pelo rompimento da barragem de Fundão.

A Samarco informou ainda que a adesão ao cadastramento não implica no reconhecimento de elegibilidade ao programa de indenização mediada, ao programa de auxílio financeiro ou a qualquer outro programa previsto no TAC.

Drama dos trabalhadores
Com a chegada da lama, a vida de quem buscava seu sustento no manancial passa longe do leito do Rio Doce.

O pescador João da Silva tem carteira de pescador profissional e toda renda vinha da pesca. Enquanto não recebe o auxílio da Samarco, ele faz bico como ajudante de pedreiro. No entanto, quando não tem serviço, ele vai para as margens do rio, mas, agora, somente para passar o tempo.

Mesmo depois que a pesca foi liberada no Doce, ele não voltou a pescar para comercializar peixe. João contou que as pessoas não confiam no peixe que está no Rio Doce e não compram.

“Quando não tem nada para fazer, eu venho para o rio para não ficar à toa. Eu acredito que vai demorar muito tempo para poder pegar peixe para vender. Eu sinto falta da pesca”.

Já o pescador José Pedro Torres foi um dos contemplados pelo subsídio, mas o cartão para começar a receber nunca chegou na sua mão. No início de setembro o cartão dele foi apreendido com estelionatários que cobravam para liberar o dinheiro.

O cartão ainda não foi entregue a ele. Apenas sua companheira está recebendo da empresa.

Na época, a Samarco informou que os cartões foram remetidos e a entrega começaria a ser realizada.

“Mesmo com o rio cheio de peixes, as pessoas não compram. Em setembro, eles me pediram R$ 1,5 mil para liberar o cartão, procurei depois o cartão na delegacia, mas até hoje não está comigo”, disse.

Fonte: g1-ES