ESPORTE NACIONAL

Possível título de Medina pode confrontar preconceitos no surfe

"O mundo do surfe está pronto para ter um brasileiro campeão?"

Em 15/10/2014 Referência JCC

"O mundo do surfe está pronto para ter um brasileiro campeão? Essa é uma pergunta racista?". São questionamentos levantados em um artigo publicado esta semana no site da revista australiana "Stab", especializada na modalidade. No texto, o autor Tom Freed exalta Gabriel Medina e aborda um tema sensível: um suposto preconceito sofrido pelos brasileiros dentro do circuito dominado historicamente por americanos, havianos e australianos.

Freed inicia o texto fazendo um paralelo entre o possível título de Medina e a eleição de Barack Obama como primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Segundo o artigo, a possibilidade de um brasileiro campeão tem sacudido o mundo do surfe, que não estaria preparado para tal realidade.

Para o autor, muitos ainda não acreditam realmente na capacidade dos brasileiros, opinião que seria mascarada de forma sutil na maneira como costumam se referir aos atletas. Com frequência, os surfistas do Brasil são classificados pelos especialistas como "passionais" - termo é usado para caracterizar momentos em que se empolgam, reclamam, choram, demonstram patriotismo, entre outros. Porém, para Tom Freed trata-se de uma via de mão dupla, pois o que pode parecer um elogio, na verdade infere uma falta de controle emocional dos brasileiros que não é comum nos surfistas de outras nacionalidades.

- É irritante porque parece que é o maior elogio que o surfista poderia receber, mas é racista porque infere uma falta de coletividade e temperamento que aparentemente não enxergam tanto em outras etnias - diz trecho do artigo.

"Estilo" é outro termo que, para Tom Freed, comumente é usado como elogio aos brasileiros, mas que acaba revelando certo preconceito.

- Lembra quando os comentaristas faziam grandes elogios a Miguel Pupo sobre seu estilo? Nas entrelinhas, fica claro que Miguel tem grande estilo... para um brasileiro. Muito parecido com o racismo sutil de 2007, quando parlamentares elogiavam Obama por ter boa oratória e ser articulado. Como se esses comprimentos fossem necessários para um estudante de direito de Harvard - afirma o texto.

O autor ressalta o grande momento não apenas de Medina, mas de toda uma geração de surfistas do Brasil e diz que nada indica que os atletas americanos serão capazes de frear o domínio do país no circuito.

- Se os americanos não estão prontos para ver um brasileiro vencer o título mundial, sabemos que não estão conseguindo produzir ninguém minimamente capaz de pará-lo (Kelly não pode segurar essa bandeira para sempre). Basta olhar para o ranking do WQS (divisão de acesso): sussurros da América e estrondos de Bossa Nova do Brasil.

Por fim, Tom Freed recorre ao próprio Kelly Slater como um exemplo de alguém que sabe respeitar a chegada de Medina no topo. Ele cita uma declaração feita pelo americano nas redes sociais elogiando o brasileiro e reproduz a resposta do 11 vezes campeão para a pergunta: o mundo está preparado para ter um brasileiro campeão? 

- É melhor o mundo estar preparado, porque ele está perto de conseguir - disse Slater.

 

Fonte:Globo Esporte