POLICIA

Preso na máfia dos táxis em Niterói tinha recibo de doação a prefeito.

Documento aponta doação a campanha de Rodrigo Neves, em 2008

Em 27/11/2015 Referência JCC

Investigadores da máfia dos táxis de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, encontraram um recibo de doação de R$ 1 mil para a campanha do prefeito Rodrigo Neves (PT) das eleições de 2008, na casa de um preso na operação, na quinta-feira (26). O documento foi encontrado na casa de Roberto Carlos da Costa, o Betinho. Ele e Alexander Soares Schroeder são funcionários da Subsecretaria de Transportes de Niterói.

O recibo é assinado por Ramon Vicente Aires Neves que, na época, era secretário de esportes do então prefeito Godofredo Pinto (PT), que governou a cidade entre 2005 e 2008. Naquela época, Betinho já trabalhava na Subsecretaria de Transportes.

A Polícia Civil descobriu que o grupo que operava a "Máfia dos Táxis", em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, também subornava policiais militares para que os taxistas clandestinos, que atuavam na Estação das Barcas, no Centro da cidade, não fossem incomodados. Gravações exibidas pelo RJTV mostram que os dois funcionários presos na operação nesta quinta-feira (26) atuavam dentro da prefeitura de Niterói. Em um dos dialógos, o funcionário Alexandre Soares Schroeder, conhecido como Alex, explica como funciona o apoio de policiais militares ao esquema.

Alex - Arrumei o cara bom pra parar de sufocar aquela p... lá nas Barcas.
Homem - P... Valeu! Valeu! Caramba! Show de Bola!
Alex - Só que vai ter que perder um negocinho pra ele. É o tenente da área. O cara que manda na p... toda! (...) Fecha um negócio direito com o cara lá por semana e tal. (...)
Homem - Mas é o seguinte... pra parar no terminal?
Alex - Pra parar no terminal, filho

A operação Bandeira Preta, da Polícia Civil e de promotores do  Ministério Público, prendeu 19 pessoas suspeitas de falsificar permissões de taxistas. Entre os presos estão os dois funcionários da prefeitura que já foram suspensos e vão responder a processo administrativo. De acordo com a investigação, o faturamento estimado da fraude, somente com os valores das diárias, era de R$ 27 milhões por ano.

Sobre a denúncia de participação de militares, conforme mostram as gravações, a Polícia Militar declarou que não foi notificada sobre as denúncias envolvendo PMs na máfia dos táxis.

Campanhas políticas
Segundo os promotores, o esquema financiava campanhas políticas no município. Na denúncia, o MP afirma que a investigação encontrou indícios de que o grupo tem sustentação política do vereador Luiz Carlos Gallo, do Partido Republicano da Ordem Social (Pros), que está em seu sexto mandato.

" Disso nós não temos dúvidas. As investigações e temos depoimentos também nesse sentido determinava, dizia que parte do dinheiro arrecadado com o esquema ia para financiar campanhas políticas. Isso vai ser melhor detalhado agora que conseguimos desmantelar a organização e a investigação prossegue quanto a isso, mas tinha um componente até pela necessidade deles terem apoio político pra se manterem nos cargos e permanecerem a frente da organização criminosa", explicou o promotor responsável pela investigação.

Por telefone, o vereador do Pros disse ao RJTV, que repudia qualquer acusação envolvendo o nome dele e está à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos. Sobre a denúncia de participação de militares, conforme mostram as gravações, a PM declarou que não foi notificada sobre as denúncias envolvendo policiais militares.

Recadastramento
Após a denúncia, a prefeitura de Niterói anunciou que todos os taxistas vão ter que se recadastrar. A ação tinha como objetivo cumprir 24 mandados de prisão e 52 de busca e apreensão em Niterói, São Gonçalo e no Rio de Janeiro. De acordo com as  investigações o  grupo foi responsável por 600 táxis piratas no município.

Segundo o delegado Luis Augusto Braga,  a quadrilha presa nesta quinta multiplicava os carros piratas pela cidade. "Estima-se que eles tenham alcançado por diversas provas que coletamos cerca de 600 táxis rodando no município. Eles tinham a pretensão também por diversas provas testemunhais e outros tipos de evidência que eles pretendiam alcançar o patamar de mil táxis piratas".

A quadrilha revendia autonomias suspensas depois que o titular morria. Eles também fraudavam e copiavam autonomias de táxis legalizados. Os investigadores disseram que o mesmo documento era usado por até cinco piratas.

Levantamento dos investigadores apontam que cada pessoa pagava R$ 5 mil só pra entrar no esquema. Os piratas também tinham que pagar R$ 150 por dia. O que rendia R$ 4.500 por mês ao grupo. Além disso, cada taxista pirata era obrigado a desembolsar R$ 650 por mês para não ter o carro fiscalizado, nem parado em blitz.

Os dois funcionários presos  são funcionários da subsecretaria de Transportes, O prédio onde eles trabalhavam recebeu o nome Adhemar José Melo Reis, subsecretário assassinado no início de 2010 - quando tentava frear a atuação dos criminosos.

" Todo esse trabalho teve início a partir da morte do subsecretário de transportes de Niterói que com objetivo de exercer fiscalização sobre essa atividade clandestina acabou sendo brutalmente assassinado e esse homicídio gerou uma condenação criminal. O autor foi identificado. Condenado. E na sentença condenatória foi reconhecida a máfia dos taxis. Foi esclarecido que o homicídio foi praticado devido a repressão que ele passou a exercer nesse grupo", disse o delegado Alexandre Herdy

O subsecretário de Transportes, Leonardo Nigromonte, disse nesta quinta que será aberto um  um processo administrativo disciplinar para investigar a conduta dos dois. Se condenados, serão exonerados da função do serviço publico municipal.

" A prefeitura reitera seu apoio irrestrito às investigações do Ministério Público colaborando com toda sorte de documentos necessários para que a verdade dos fatos seja apurada, os culpados sejam punidos e que por fim possa haver uma melhoria na qualidade de serviços públicos de Niterói", afirmou o procurador-geral de Niterói, Carlos Raposo.

G1