MEIO AMBIENTE

Produtores que dependem do Rio Doce no ES contabilizam prejuízos.

Lama impede que irrigação funcione e produção acabada prejudicada.

Em 15/02/2016 Referência JCC

Cerca de 80 produtores ribeirinhos, que dependiam do Rio Doce para irrigar as plantações, contabilizaram os prejuízos com a chegada da lama de rejeitos da Samarco, cujos donos são a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.

Café, milho, tomate e banana são alguns dos principais produtos que poderiam ter chegado à mesa de diversos consumidores, mas tiveram a colheita prejudicada.

O agricultor Carlos Alberto Rudio, de Itapina, no distrito de Colatina, estima uma perda de 21 mil pés de tomate. "A estimativa é de R$ 200 mil de prejuízo. Pretendo plantar pimentão no local, mas preciso de alguma certeza sobre a qualidade da água”, afirmou.

Nelson Rocha e seu filho Sigmar Santos Rocha também sofreram com a falta de irrigação. Eles perderam 6 mil pés de café conilon, que seriam colhidos em maio. Nas plantações, que utilizam a  técnica de gotejamento, até tentaram voltar a irrigar, mas o problema enfrentado é o entupimento dos bicos por causa da lama.

Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), cerca de 80 produtores foram afetados. Muitos voltaram a utilizar a água, no entanto, para alguns tipos de produção o instituto não recomenda a irrigação com água do Rio Doce, como é o caso da horticultura. “A lama pode grudar na folhagem e formar uma película, que pode prejudicar”, explicou o técnico em desenvolvimento rural Ivan Marcelo Nogueira.

Em relação à utilização da água do Rio Doce para irrigação e hidratação dos animais, a Samarco informou que diversos estudos estão em andamento e, assim que concluídos, os resultados serão divulgados.

Alternativa
Mesmo com a água cheia de lama, os produtores voltaram a utilizá-la para o cultivo. Como forma de diminuir o prejuízo, calculado em algo próximo a R$ 500 mil, Ernesto Holz Filho, de Baixo Guandu, que produz banana, capim e cacau, mudou a plantação de alguns hectares.

A banana perdida de algumas partes foi retirada para a plantação de capim. No entanto, agora enfrenta outro problema: a falta de pessoas para comprar o produto. “Ninguém quer comprar porque é utilizada a água do Rio Doce, as pessoas tem medo de que o produto esteja contaminada”, afirmou.

Alguns produtores da região têm medo de investir. “Tive perda de 70% da lavoura. Tenho medo de investir mais em adubo, tecnologia e energia, e o prejuízo acabar sendo ainda maior”, pontuou Edmilson Rocha, que prefere aguardar para depois decidir o que fazer.

Cenário desafiador
As consequências causadas pela lama são muitas. Segundo o professor Laboratório de Gestão de Recursos Hídricos e Desenvolvimento Regional da Ufes, Edmilson Costa Teixeira, em alguns pontos o cenário será irreversível.

“Há alguns pontos em que a lama endureceu e é improvável que volte ao que era antes, mas em outros, pode ser que sim. Em relação ao tempo, depende do controle que está tendo desde onde ocorreu o rompimento em Minas Gerais”, comentou.

O professor também aponta que é preciso ter uma ação conjunta do poder público para orientar os produtores sobre qual tipo de cultura pode ser realizada em pontos do Rio Doce e assim saber se é viável a produção. “Muitas plantações precisam de água mais pura, como as hortaliças. Já outras não, como na plantação de milho”, concluiu.

Fonte: G1-ES